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No campo da saúde, o desafio pós-pandemia será retomar a atenção aos graves problemas do SUS, entre os quais a superlotação dos hospitais| Foto: EFE/André Coelho

Há dois problemas sociais que demandam atenção mais urgente dos governantes, porque afetam mais imediatamente as vidas de muitos brasileiros: a saúde pública e a violência.

Em muitos ambientes no Brasil, as peculiares circunstâncias de falta de segurança dificultam o florescimento pessoal, tolhem as liberdades e criam uma atmosfera de desalento em relação ao futuro; inviabilizam, dessa forma, um ponto-chave da democracia: a capacidade da pessoa de desenvolver ao máximo suas potencialidades e ser autora do próprio destino. A insegurança cria estados paralelos, em que comunidades inteiras vivem sob o domínio do medo e fora do domínio da lei.

Felizmente, nesse campo, há uma maré de transformação positiva nos últimos anos. Uma tendência de queda das mortes violentas tem sido registrada desde 2018, quando houve 12,8% menos homicídios em relação a 2017, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No ano seguinte, 2019, houve uma queda ainda mais importante, de 19%; em 2020, verificou-se uma pequena quebra na tendência, com os números de mortes violentas subindo 5,7%; mas, em 2021, registrou-se novamente uma queda, de 6,9%.

Sem dúvida, no entanto, o problema continua sendo gravíssimo: 41,1 mil mortes violentas ocorreram ao longo do ano passado no Brasil. Trata-se do ano com menos homicídios desde 2007, o que não significa que tenhamos chegado a um patamar aceitável. É preciso entender melhor as causas da tendência positiva, para continuar seguindo o caminho de melhora nos próximos anos.

No campo da saúde, o desafio pós-pandemia será retomar a atenção aos graves problemas do SUS, entre os quais a superlotação dos hospitais e as longas esperas por exames e procedimentos cirúrgicos a que são submetidos os pacientes. Um relatório de 2021 da startup social SAS, que atua em cidades carentes de acesso a médicos, afirma que há lugares do sertão nordestino em que a espera pode levar anos.

E, com os efeitos da pandemia sobre o sistema de saúde, o problema da espera pode ser agravado. Segundo o Conselho Federal de Medicina, fatores como as restrições de acesso a hospitais e o contingenciamento de leitos para pacientes de Covid-19 fizeram com que 27 milhões de exames, cirurgias e outros procedimentos eletivos deixassem de ser realizados durante o período da pandemia. Boa parte dessa demanda pode ainda existir, e isso poderá criar um gargalo nos hospitais para os próximos anos.

Se podemos tirar lições positivas da pandemia, uma delas é, certamente, que uma intensa mobilização conjunta da sociedade, dos gestores públicos e da iniciativa privada pode evitar mortes, filas de espera e sofrimento desnecessário para milhões de pessoas. O temor do colapso no sistema hospitalar brasileiro, tão propagado no início da pandemia, acabou não se justificando. Nos próximos anos, ainda que nenhuma demanda emergencial como a da Covid-19 sobrevenha a todo o país, seria positivo que os mesmos atores políticos e sociais demonstrassem capacidade de mobilização semelhante para as mazelas cotidianas do crônico problema da saúde pública no Brasil.

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