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Bolsonaro
Comitê de campanha de Jair Bolsonaro traçou estratégia para conseguir votos entre eleitores cristãos e mulheres, especialmente das classes D e E, nessa reta final do primeiro turno.| Foto: Raphael Alves/EFE

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu comitê eleitoral vão para a reta final do primeiro turno com uma aposta bem definida sobre as regiões que irão privilegiar, os temas dos próximos discursos e as abordagens a serem feitas nas últimas propagandas e inserções no horário eleitoral e nas redes sociais. A estratégia está voltada para conseguir votos entre eleitores cristãos e mulheres, especialmente das classes D e E.

Para isso, Bolsonaro irá às regiões Sudeste e Nordeste e promete dosar entre discursos propositivos, que enalteçam legados de seu governo, e críticos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e às gestões petistas. O mesmo deve ocorrer em relação às propagandas e inserções eleitorais.

A estratégia nas redes sociais e no horário eleitoral gratuito é manter a abordagem das entregas do governo e subir o tom contra Lula, seja em relação aos escândalos de corrupção nas gestões petistas, ou em relação à pauta de costumes. A abordagem sobre aborto pode, inclusive, ser exibida na rede nacional de rádio e TV, afirmam interlocutores do comitê da campanha.

A entrevista concedida à TV Record nesta segunda-feira (26) também se enquadra dentro da estratégia traçada pela campanha para Bolsonaro. É o primeiro candidato a participar da sabatina da emissora. O objetivo é falar a todos os públicos, embora os estrategistas também entendam que foi uma oportunidade para falar aos cristãos, especialmente os evangélicos.

A estratégia de subir o tom contra Lula e ser pragmático e moderado em diferentes temas deve ser a tônica da participação de Bolsonaro no debate da TV Globo, na quinta-feira (29). O planejamento deve ser semelhante ao traçado por sua campanha para o debate do SBT/CNN, com críticas ao petista, comparações de seu governo, mas sem abdicar da defesa do legado.

Como as viagens de Bolsonaro podem ajudar na reta final do 1º turno

A agenda de Bolsonaro no Nordeste ocorre nesta terça-feira (27). Ele vai participar de uma motociata de Juazeiro (BA) a Petrolina (PE) pela ponte Presidente Dutra, que conecta as duas cidades sobre o rio São Francisco. A viagem estava no radar da campanha desde o fim de agosto e tem por objetivo enaltecer a conclusão das obras da transposição, ocorrida na atual gestão.

Assim como foi a agenda de campanha de Bolsonaro a Garanhuns (PE) e Caruaru (PE) no dia 17 de setembro, o objetivo é dialogar com o eleitor mais pobre, incluindo o cristão. A campanha tem uma estratégia para convencer os eleitores menos abastados, principalmente os nordestinos, de que eles defendem as mesmas bandeiras conservadoras que o presidente.

No Nordeste, por exemplo, a mais recente pesquisa BTG/FSB, publicada nesta segunda-feira (26), aponta que Bolsonaro estagnou em 21% das intenções de voto na região em relação ao levantamento publicado na segunda-feira passada (19). Lula lidera na região com 62% nas duas pesquisas.

Outra ação da campanha que se encaixa dentro das estratégias de defesa do legado do governo é o Auxílio Brasil. Nesse grupo, as intenções de voto em Lula entre os eleitores que recebem o programa subiram de 57% para 65%, segundo as últimas pesquisas BTG/FSB. Já o indicador de Bolsonaro subiu de 20% para 22%, dentro da margem de erro da pesquisa.

Na quarta-feira (28), Bolsonaro cumpre agenda na Baixada Santista junto com seu candidato a vice, general Braga Netto (PL). O objetivo também é atingir o eleitorado cristão e os mais pobres. Também estão previstas críticas a Lula, principalmente após o petista ter cometido um deslize ao se referir sobre o eleitorado paulista. Na última semana, o ex-presidente disse que Bolsonaro é "um pouco ignorante" e que tem "aquele jeitão bruto, jeitão de capiau, do interior de São Paulo, bem ignorante mesmo", em entrevista ao programa "Candidatos com Ratinho", no SBT.

Aposta no antipetismo e nas críticas a Lula

As críticas a Lula têm o intuito de evitar que o petista seja bem-sucedido em sua estratégia de obter o voto útil no primeiro turno. O objetivo é convencer o eleitor de que o petista não é confiável, ao relembrar escândalos de corrupção, e que não defende as mesmas bandeiras conservadoras que Bolsonaro.

O entendimento de parte dos estrategistas do presidente da República é que as duas pautas precisam destacadas juntas para desidratar o petista, que tem adotado táticas para desqualificar Bolsonaro. Até então, a campanha concentrou os esforços nos escândalos de corrupção, mas cresceu o entendimento de que somente isso seria insuficiente.

Após reuniões e debates internos do comitê da campanha, mais coordenadores eleitorais foram convencidos de que a pauta de costumes precisaria ser explorada na propaganda eleitoral, como já é nas redes sociais e usada em uma inserção. Isso vale para pautas sobre aborto, a legalização das drogas e a ideologia de gênero. Todos esses assuntos foram abordados por Bolsonaro em suas considerações finais na sabatina à TV Record nesta segunda.

Entre 9 e 11 de setembro, a campanha de Bolsonaro utilizou imagens da Santa Madre Teresa de Calcutá para falar sobre aborto e criticar e Lula. O vídeo voltou a circular nas redes sociais entre aliados do presidente e integrantes do governo federal e algo semelhante, agora, deve ir para a propaganda eleitoral.

A campanha de Bolsonaro entende, porém, que deve dosar as críticas a Lula sem abandonar as pautas propositivas. Isso já foi feito em propagandas sobre segurança pública, educação e infraestrutura, quando, ao contestar as gestões petistas, apresentaram propostas ou feitos do atual governo. A estratégia também é promover isso nas redes sociais, incluindo no Kwai, aplicativo de criação e compartilhamento de vídeos curtos que estrategistas eleitorais entendem que permite dialogar melhor com os mais pobres.

O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), vice-líder do governo na Câmara, auxilia a campanha presidencial em seu estado e confirma que os estrategistas tomaram a decisão de explorar a pauta mais ideológica. "Essa é a tendência", afirma. Ele entende, porém, que os votos dos evangélicos estão subestimados e o presidente segue competitivo e forte na disputa.

"Você tem outro fenômeno que pode decidir esta campanha do presidente Bolsonaro ainda no primeiro turno e que os institutos de pesquisas não conseguiram aferir, que é o voto evangélico. Como nós somos ali 25%, 30% do voto do eleitorado, nenhuma pesquisa faz esse corte. Por não fazerem esse corte, acaba que o voto evangélico, que é majoritariamente 'bolsonarista', não apareça", afirma.

Por essa leitura, Otoni também entende que a campanha de Bolsonaro acerta quando tenta buscar os votos dos cristãos, mulheres e dos pobres.

Por que Bolsonaro mira nos votos das mulheres, dos cristãos e pobres

As falas de Bolsonaro e as propagandas eleitorais traçadas para obter os votos de mulheres, cristãos e pobres não estão descontextualizadas. Embora coordenadores eleitorais e aliados concordem com a hipótese de votos subestimados, existe um entendimento de que todos esses grupos merecem atenção.

Alguns interlocutores da campanha de Bolsonaro admitem que esperavam um resultado melhor do presidente entre eleitores que recebem o Auxílio Brasil e os mais pobres. A intenção de votos de Lula entre entrevistados que recebem até um salário mínimo subiu de 61% para 68%, apontam os últimos levantamentos BTG/FSB. Já Bolsonaro desacelerou de 18% para 16%.

Entre católicos, a intenção de votos de Lula subiu de 51% para 61% nas últimas duas pesquisas. Bolsonaro saltou de 29% para 32%. Entre evangélicos, o presidente vai melhor, com crescimento de 49% para 56%, apontam dados das pesquisas BTG/FSB. Porém, o petista também teve um salto expressivo, de 32% para 38%.

Entre mulheres, os dois candidatos subiram três pontos percentuais entre as últimas pesquisas BTG/FSB. Porém, Lula ainda tem uma larga vantagem, tendo subido de 49% para 52%. A intenção de votos entre o eleitorado feminino cresceu de 26% para 29%.

Todos esses são públicos que Bolsonaro quer alcançar no debate da TV Globo, por exemplo. Por isso, o intuito não é apenas subir o tom contra o petista, mas também falar sobre temas propositivos, como feitos do governo no Nordeste, projetos de lei aprovados para as mulheres. Também são esperados acenos aos cristãos.

O deputado federal Coronel Tadeu (PL-SP), vice-líder do partido na Câmara, concorda que a campanha deva explorar o eleitor mais pobre na reta final da campanha, principalmente no debate da Globo. O objetivo é explorar a audiência da emissora, que atinge as mais diversas classes da sociedade.

"Ele tem que falar para o público das classes D e E que é onde ele ainda não tem voto. A classe C, B e A são as classes onde ele tem a maioria dos votos, mas, nas classes D e E, ainda não. Tem muita gente desinformada. Os que são Lula são Lula. Já são cooptados. Mas tem muita gente desinformada. Até na história sobre [a compra das] vacinas ainda tem gente desinformada. São aquelas pessoas que não são 100% plugadas nas mídias sociais e que também assistem a Globo o tempo inteiro e compram o discurso da Rede Globo", analisa.

Confira as metodologias das pesquisas citadas

Para a pesquisa BTG/FSB publicada em 26 de setembro, o Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 23 e 25 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-08123/2022.

Para a pesquisa BTG/FSB publicada em 19 de setembro, o Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 16 e 18 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-07560/2022.

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