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Bolsonaro durante ato de campanha em São Gonçalo (RJ), na campanha do segundo turno de 2022.
Bolsonaro durante ato de campanha em São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, um dos focos da campanha na reta final.| Foto: Antonio Lacerda/EFE

A campanha de Jair Bolsonaro (PL) já definiu as estratégias para a reta final da campanha – faltam apenas dez dias para o segundo turno da eleição presidencial. O foco é reduzir a rejeição de Bolsonaro, conquistar eleitores indecisos e recuperar votos perdidos para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno, e evitar a abstenção no dia da votação.

Para isso, a campanha já promoveu uma inversão no tom dos discursos feitos por Bolsonaro e a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que tem tido uma função importante na busca de votos. Enquanto o candidato à reeleição adotou um tom mais moderado, ela passou a fazer declarações mais duras. O presidente também manterá o foco das suas viagens nos maiores colégios eleitorais do país.

Outra estratégia é apostar na segmentação do discurso para diferentes públicos e na "capilarização" da campanha, com ações intensas de governadores, prefeitos, parlamentares e outros apoiadores do presidente país afora.

Nas propagandas de rádio, TV e redes sociais, a ideia é manter as críticas a Lula e as comparações entre os governos do PT e o de Bolsonaro. Também serão apresentadas novas propostas. O planejamento da reta final envolve ainda mobilizações de militantes nas ruas.

O que é a inversão do tom nos discursos de Bolsonaro e Michelle

A inversão do tom empregado nos discursos de Bolsonaro e da primeira-dama Michelle é uma das estratégias para a reta final da campanha. Enquanto o presidente tem adotado um tom mais ameno nas falas em busca do eleitor moderado, Michelle é quem tem subido mais o tom em seus pronunciamentos. Anteriormente, ela vinha tendo um discurso mais suave, principalmente para atrair o voto das mulheres.

A postura de um Bolsonaro mais moderado não agrada toda a base política. Há, inclusive, algumas discordâncias dentro da própria campanha. Mas os estrategistas do presidente dizem que a moderação funciona para atingir os votos de eleitores indecisos e os daqueles que o rejeitam. A análise é de que, a essa altura, o presidente já conta com todos os votos possíveis do eleitorado mais "raiz", e que ele só terá chances de convencer o eleitorado mais ao centro com um discurso ameno.

Foi por isso que a campanha de Bolsonaro levou ao horário eleitoral da TV e do rádio uma propaganda em que ele pede perdão a eleitores por "nem sempre usar as palavras certas". Em vídeo, o presidente também pediu desculpas às menores venezuelanas por declarações que insinuavam prostituição, o que, segundo ele, foram tiradas do contexto e usadas politicamente por militantes de esquerda.

Já Michelle tem subido o tom. "Nós estamos aqui para lutar pela nossa nação brasileira, nós estamos aqui para lutar pelo nosso Brasil, para que esse câncer, esse partido das trevas [o PT], se dissipe, saia da nossa nação", disse a primeira-dama na última quarta-feira (19) em ato em São Paulo. Ela tem viajado o país em uma estratégia que tem as mulheres e eleitores evangélicos como públicos-alvo.

A campanha entende que a adoção de uma comunicação mais combativa por Michelle ajuda no objetivo de converter votos pelo sentimento de "medo" do PT. A ideia é de que, ao abdicar de seu perfil mais "doce" nos discursos, ela transmite uma mensagem de "alerta".

Como as viagens do presidente ajudam a evitar abstenção

A agenda de viagens de Bolsonaro é um importante fator para difundir ao máximo o discurso de campanha. O presidente vai priorizar o Sudeste. Até domingo (23), ele cumpre compromissos em São Paulo. Na terça-feira (25), viaja à Bahia para atividades em Salvador. Na quarta (26), ele cumpre agendas em Minas Gerais. Na quinta (27), fica em São Paulo. E na sexta (28) e no sábado (29) ele tem atividades prévias no Rio de Janeiro, onde permanece para a votação no domingo (30).

O comitê eleitoral do candidato à reeleição entende que as viagens também exercem uma função importante na estratégia de conter as abstenções no dia da votação. A campanha acredita que um elevado número de eleitores que decidam não votar possa prejudicar Bolsonaro – o presidente é forte, por exemplo, entre os idosos (que estão entre os grupos que mais faltam às urnas) e entre os de renda maior (que podem faltar para emendar o fim de semana do segundo turno com o feriado de Finados e, assim, poder viajar). Para os coordenadores da campanha, a presença do presidente nos estados é fundamental para engajar a militância.

Para convencer os eleitores a votarem no segundo turno, os estrategistas da campanha recomendaram que Bolsonaro explore falas emocionais relacionada às famílias e às crianças, alertando para o risco que seria a volta da esquerda ao poder. "Votemos por nós. Mas, mais ainda, por esses pequeninos que estão aqui ao meu lado. O futuro deles passa pelas mãos de vocês", discursou Bolsonaro ao lado de crianças em comício em Juiz de Fora (MG), na terça-feira (18).

Essa mesma recomendação tem sido seguida por aliados do presidente. "Tenho focado principalmente nas pessoas que deixaram de votar pelas longas filas no primeiro turno para que façam um sacrifício de sair de casa mais uma vez pelos seus filhos e netos", diz o deputado Márcio Labre (PL-RJ).

Capilarização vai levar Bolsonaro a lugares em que ele não pode estar

Outra estratégia da reta final da eleição é apostar na "capilarização", contando com a ajuda principalmente de governadores, prefeitos e parlamentares aliados para reforçar a campanha.

Na última semana, Bolsonaro se encontrou com prefeitos em Santa Catarina. Nesta semana, recebeu um grupo de prefeitos em Brasília, onde recebeu uma carta da Confederação Nacional de Municípios (CNM) com pedidos e propostas para o caso de reeleição. O presidente também gravou vídeos personalizados para diversas cidades de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro – os três maiores colégios eleitorais do país.

Para o Nordeste, a campanha aposta no apoio de aliados para conquistar o voto do eleitor cristão. O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), vice-líder do governo na Câmara, atua no Nordeste há uma semana, com o aval da campanha, coordenando eventos junto a lideranças evangélicas para evitar abstenções e conquistar votos. Segundo ele, a ideia é reduzir a votação de Lula na região, onde venceu no primeiro turno, e aumentar a de Bolsonaro.

Os deputados federais eleitos André Fernandes (PL-CE) e Nikolas Ferreira (PL-MG) e o deputado federal Filipe Barros (PL-PR) serão outros a cumprir agenda no Nordeste, mas com um estratégia voltada para o eleitor jovem. Entre esta quinta e terça-feira, eles vão percorrer Salvador (BA), Aracaju (SE), Maceió (AL), Recife (PE), João Pessoa (PB), Natal (RN), Fortaleza (CE), Teresina (PI), São Luís (MA) e Imperatriz (MA).

Com o apoio da base política nos estados, a campanha também tem apostado em mobilizações com participação popular nas ruas. No próximo sábado (22), por exemplo, haverá ato em Curitiba com aliados políticos e apoiadores organizado pelo Conselho de Ministros Evangélicos do Paraná (Comep).

Como será a comunicação na internet, rádio e TV

A estratégia de comunicação da campanha será a de segmentar o conteúdo para públicos específicos – evangélicos, mulheres, nordestinos, jovens, etc – por meio das redes sociais.

Bolsonaro também aposta em entrevistas a podcasts. O presidente participou do programa Inteligência Ltda, nesta quinta-feira (20), e também esteve, na quarta (19), no CD Talks, do site O Antagonista. As entrevistas aos podcasts são consideradas importantes para atingir o eleitorado jovem, um dos públicos-alvo.

Ainda voltado ao público jovem, a campanha tem explorada diversas publicações nas redes sociais. Nas diferentes mídias, procuram usar as redes sociais do presidente para falar das realizações do governo e para criticar Lula.

Seja nas redes sociais ou no horário eleitoral, a campanha tem a preocupação de propor comparações entre a atual gestão e as petistas com críticas a Lula e defesa ao legado de Bolsonaro. Interlocutores explicam que essa é uma ideia do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que teve o aval dos estrategistas e será mantida.

Além das mídias sociais, essa estratégia foi mantida nas propagandas eleitorais da campanha na TV e no rádio. É o caso, por exemplo, do pagamento de R$ 600 do Auxílio Brasil e a comparação com o valor médio pago pelo antigo Bolsa Família, muito bem explorado por Bolsonaro no debate da TV Band.

Outra abordagem no rádio e na TV são as propagandas que abordam a possibilidade de Bolsonaro ter mais governabilidade que Lula. Em uma das propagandas, o presidente elogia a nova composição da Câmara e do Senado, mais favoráveis a ele do que a Lula, que possibilitará mais chances de aprovação de propostas apoiadas e sugeridas pelo governo.

A governabilidade é uma aposta da campanha para convencer o eleitor de que, se reeleito, Bolsonaro vai aumentar o salário mínimo acima da inflação e reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos e acabar com a "saidinha" de presidiários. O pagamento do 13º do Auxílio Brasil e a manutenção do benefício em R$ 600 no próximo ano são outras promessas feitas.

O comitê eleitoral de Bolsonaro também tem apostado em mostrar as alianças políticas construídas e o apoio recebido de cantores sertanejos.

Também devem ser mantidas propagandas que associem Lula com corrupção e impunidade. Já foram ao ar propagandas com críticas aos apoios de Simone Tebet (MDB), Ciro Gomes (PDT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) conquistado por Lula na campanha de segundo turno. "É tudo farinha do mesmo saco", diz a propaganda em um jingle.

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