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Crédito inadimplentes
Dívidas com cartão de crédito também seriam incluídas nas renegociações propostas pelos candidatos Lula e Ciro Gomes para ajudar os consumidores inadimplentes.| Foto: Pixabay

Em meio ao avanço do endividamento e da inadimplência das famílias brasileiras, dois dos quatro candidatos a presidente da República melhor posicionados na mais recente pesquisa BTG/FSB (veja metodologia) defendem a necessidade de uma ampla renegociação de dívidas de inadimplentes e empresas.

Ciro Gomes (PDT), que já tinha proposto um programa assim na campanha de 2018, repete a dose agora em 2022. Seu programa de governo registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cita, explicitamente, que o elevado endividamento privado de famílias e empresas deverá ser renegociado, com taxas de juros menores e prazos mais longos de pagamento, incluindo as dívidas com o Fies.

A iniciativa seria desenvolvida pelos bancos públicos e poderia contar com a adesão de instituições privadas. O pedetista, se eleito, também pretende desenvolver programas de educação financeira.

Outro que promete desenvolver uma estratégia específica voltada aos inadimplentes é Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De forma semelhante à proposta por Ciro, a intenção prevista no programa petista é promover a renegociação de dívidas das famílias e das pequenas e médias empresas por meio dos bancos públicos e incentivos aos bancos privados para oferecer condições adequadas de negociação com os devedores.

O petista também fala em promover avanços na regulação e tomar medidas para ampliar a oferta e reduzir o custo do crédito, ampliando a concorrência no sistema bancário. Segundo o Banco Central, as cinco maiores instituições financeiras concentravam, em 2021, 64,8% dos ativos e 69,2% das operações líquidas (já incluídas as provisões) de crédito.

Especialistas, porém, veem com reservas as iniciativas propostas por Lula e Ciro.

Número de inadimplentes é o maior da série histórica

Segundo a Serasa Experian, o número de consumidores inadimplentes chegou, em agosto, à marca de 67,9 milhões, ou 42% da população adulta brasileira, maior número desde o início da série histórica, em março de 2016. Entre as empresas, eram 6,2 milhões com restrições ao crédito em julho, o maior número desde março de 2020.

Segundo o Banco Central, a inadimplência das pessoas físicas – em relação ao dinheiro total emprestado – atingiu, em agosto, o nível mais elevado desde abril de 2020. Dados apontam que 3,72% da carteira tinha atrasos superiores a 90 dias, enquanto atrasos de 15 a 90 dias comprometiam 5,3% da carteira.

A inadimplência entre as empresas vem aumentando gradativamente, de acordo com o BC. Em agosto, ela era de 1,52%, a mais elevada desde setembro de 2020. E os atrasos entre 15 e 90 dias estavam, no mês passado, em 1,72%, o nível mais elevado desde julho de 2020.

Outros indicadores mostram que a situação é de mais aperto no orçamento doméstico. Conforme o BC, a renda familiar comprometida com o serviço da dívida aumento passou de 24,9%, em julho do ano passado, para 28,6%, um ano depois.

Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), em agosto, 79% das famílias tinham algum tipo de dívida a vencer, 6,1 pontos porcentuais a mais que um ano antes.

Ainda segundo a CNC, a proporção de famílias com dívidas ou contas em atraso passou, entre agosto de 2021 e 2022, de 25,6% para 29,6%, e o número de pessoas que dizem não ter como pagar ficou estável em 10,8%.

Não há receita simples para solucionar avanço da inadimplência

Apesar das propostas apresentadas por Ciro Gomes e Lula, não existe receita simples para resolver o problema do aumento da inadimplência, apontam os especialistas em crédito. Segundo Flávio Calife, economista da Boa Vista, qualquer política pública precisa ser bem estudada, antes de ser implementada, para não piorar a eficiência do mercado.

Ele aponta que esse tipo de “acordão geral” não costuma resolver o problema e que só o dispersa por um pouco mais de tempo, na esperança de que o cenário econômico melhore e o impacto dos problemas seja mais bem absorvido.

“Às vezes, essa melhora não chega a tempo e isso é mais um fator que corrobora para que esse tipo de política pública seja mais técnico, mais ligado aos interesses econômicos ao invés de políticos”, diz Calife.

A solução para o problema da inadimplência é mais profunda, apontam especialistas em crédito. Um dos caminhos de longo prazo, segundo a gerente de CRM da Serasa, Patrícia Camilo, é o investimento em programas de educação financeira. “Os consumidores precisam entender que a dívida faz parte de seu planejamento orçamentário.”

Mas não é só isso. Pesquisa feita pela Boa Vista aponta que os principais fatores que levam à inadimplência dos consumidores são o desemprego e a queda na renda. “Sozinha, a educação financeira não resolve a questão, é preciso adotar uma estratégia de crescimento sustentável, que possa fazer com que o país cresça mais do que históricos 2% por muitos anos”, afirma Calife, da Boa Vista.

É um trabalho de longo prazo, avalia. Ele aponta que, de um lado, controlando melhor a inflação, os juros básicos podem oscilar menos. O mercado ganha em termos de previsibilidade e o spread (diferença entre os juros cobrados de quem empresta e os juros oferecidos aos poupadores) pode recuar.

“Isto também depende de atacar os motivos mais comuns que levam as pessoas a ficarem inadimplentes, como o aumento do desemprego e a queda na renda. Indo um pouco mais além, a qualidade do emprego também é importante. Com reformas, crescimento e aumento da renda, a informalidade poderia começar a reduzir, junto com a taxa de desemprego", diz o economista.

"É claro que essa confluência de fatores é muito difícil de acontecer de forma consecutiva, mas é um caminho. E a contribuição disso tende a aparecer no longo prazo, mas só no longo prazo, não é algo que se consiga em poucos anos”, conclui Calife.

Principais resultados e metodologia da pesquisa BTG/FSB

A pesquisa BTG/FSB divulgada na última segunda-feira (26) apresentou os seguintes candidatos com maiores intenções de voto: Lula (45%), Jair Bolsonaro (35%), Ciro Gomes (7%) e Simone Tebet (4%).

O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 23 e 25 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-08123/2022.

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