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Volatilidade da preferência do eleitor e diferenças metodológicas ajudam a entender discrepâncias.
Volatilidade da preferência do eleitor e diferenças metodológicas ajudam a entender discrepâncias.| Foto: Gazeta do Povo

Com 99,8% das urnas apuradas na disputa para a Presidência da República neste 1º turno, os resultados – 48,3% para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e 43,3% para Jair Bolsonaro (PL), o que leva a disputa para o segundo turno – apresentaram um cenário bem diferente do que mostraram as pesquisas eleitorais divulgadas neste sábado (1º), véspera da votação, por alguns dos principais institutos de pesquisa do país.

Na corrida presidencial, a Gazeta do Povo comparou o resultado de pesquisas divulgadas no sábado por cinco institutos: Datafolha, Ipec, Quaest, Ipespe e MDA, considerando as intenções de votos válidos. Na disputa entre Lula e Bolsonaro, o que mais se aproximou do resultado foi o Instituto MDA, que estimou 48,3% para Lula, e 39,7% para Bolsonaro. Este número, aliás, foi o maior projetado para o atual presidente, que chegou a ter estimativa de 35% dos votos pelo Ipespe. Já Lula chegou a ter 51% apontados pelo Ipec, na mais alta projeção.

Dentro da margem de erro, todos os levantamentos apontaram para uma provável decisão do pleito já no primeiro turno, com vitória do candidato petista. Já entre os demais candidatos, em apenas um dos levantamentos a candidata Simone Teber (MDB) foi posicionada à frente de Ciro Gomes (PDT). A emedebista obteve 4,2% dos votos válido, deixando Ciro para trás. O Ipespe chegou a projetar 8% dos votos para o pedetista, que registrou apenas 3%.

Veja abaixo o resultado das pesquisas estimuladas dos cinco institutos citados. Os números a seguir são exclusivamente de votos válidos, isto é, excluindo brancos, nulos e indecisos, e todos de pesquisas estimuladas, nas quais uma lista de candidatos é apresentada ao eleitor respondente.

Datafolha

  • Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 50%
  • Jair Bolsonaro (PL): 36%
  • Simone Tebet (MDB): 6%
  • Ciro Gomes (PDT): 5%
  • Soraya Thronicke (União Brasil): 1%
  • Felipe d'Avila (Novo): 1%
  • Vera Lúcia (PSTU): 0
  • Sofia Manzano (PCB): 0
  • Eymael (DC): 0
  • Léo Péricles (UP): 0
  • Padre Kelmon (PTB): 0

Ipec

  • Luiz Inácio Lula da Silva (PT): 51%
  • Jair Bolsonaro (PL): 37%
  • Ciro Gomes (PDT): 5%
  • Simone Tebet (MDB): 5%
  • Soraya Thronicke (União Brasil): 1%
  • Felipe d'Avila (Novo): 1%
  • Vera Lúcia (PSTU): 0
  • Sofia Manzano (PCB): 0
  • Eymael (DC): 0
  • Léo Péricles (UP): 0
  • Padre Kelmon (PTB): 0

Quaest

  • Lula (PT): 49%
  • Bolsonaro (PL): 38%
  • Ciro Gomes (PDT): 6%
  • Simone Tebet (MDB): 5%
  • Soraya Thronicke (União Brasil): 1%
  • Felipe d’Avila (Novo): 1%
  • Vera Lúcia (PSTU): 0
  • José Maria Eymael (DC): 0
  • Leonardo Péricles (UP): 0
  • Sofia Manzano (PCB): 0
  • Eymael (DC): 0

Ipespe

  • Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - 49%
  • Jair Bolsonaro (PL) - 35%
  • Ciro Gomes (PDT) - 8%
  • Simone Tebet (MDB) - 7%
  • Soraya Thronicke (União Brasil) - 1%
  • Padre Kelmon (PTB) - 1%
  • Felipe D'Avila (Novo) - 0%
  • Léo Péricles (UP) - 0%
  • Sofia Manzano (PCB): 0%
  • Vera Lúcia (PSTU): 0%
  • José Maria Eymael (DC): 0%

Instituto MDA

  • Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - 48,3%
  • Jair Bolsonaro (PL) - 39,7%
  • Ciro Gomes (PDT) - 4,9%
  • Simone Tebet (MDB) - 4,7%
  • Soraya Thronicke (União Brasil) - 1,3%
  • Felipe d'Avila (Novo) - 0,4%
  • Padre Kelmon (PTB) - 0,3%
  • Sofia Manzano (PCB) - 0,2%
  • Vera Lúcia (PSTU) - 0,1%
  • Leonardo Péricles (UP) - 0,0%
  • Eymael (DC) - 0,0%

Resultados também destoaram nos estados

Nas disputas estaduais, para governador e senador, também houve divergências significativas entre as pesquisas do Ipec divulgadas entre sexta (30) e sábado (1º) e os resultados. Entre os cinco maiores colégios eleitorais do país – São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul – as principais dissonâncias foram observadas nos estados paulista, gaúcho e baiano.

A última estimativa do instituto para o governo de São Paulo apontava Fernando Haddad (PT) com 41% dos votos válidos, seguido de Tarcísio de Freitas (Republicanos) com 31%, e Rodrigo Garcia (PSDB) com 22%. Ao contrário do levantamento, quem saiu vitorioso numericamente, levando a disputa para o 2º turno, foi Freitas, que obteve 42,3%, frente a 35,7% de Haddad e 18,4% de Garcia.

Já na corrida para o Senado, o ex-ministro do governo Bolsonaro Marcos Pontes (PL) tinha votos válidos estimados em 31%, contra 43% de Márcio França (PSB). Pontes, no entanto, saiu vencedor com quase 50% dos votos válidos.

Já no Rio Grande do Sul, as estimativas mencionaram que o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) obtinha 40% da preferência do eleitorado, ante 30% de Onyx Lorenzoni (PL). De forma semelhante a São Paulo, os postos se inverteram e o ex-ministro de Bolsonaro ficou à frente com 37,5% das intenções de voto, enquanto Leite somou 26,81%. No estado, a disputa também foi ao segundo turno.

No estado gaúcho, houve uma diferença bastante significativa também para o Senado. No último levantamento, foi estimado 23% para o vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos), o que o colocava em terceiro lugar na disputa para a única vaga ao Senado. Ele, no entanto, somou 44,1% e ficou com a vaga.

Um outro estado em que houve mudança nas colocações foi a Bahia – O Ipec apontou possível vitória de ACM Neto (União Brasil) já no 1º turno, com 51% dos votos. No entanto, quem por pouco não venceu já neste turno foi Jerônimo Rodrigues (PT), que obteve 49,3% de votos – a projeção para o petista era de 40% dos votos. ACM Neto ficou em segundo lugar nas urnas, com 40,9%.

A estimativa para o confronto baiano para o Senado não sofreu tantas divergências - Otto Alencar (PSD) foi eleito com 58,2%, enquanto o levantamento apontava 54%

Já no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, os candidatos estimados nas pesquisas como primeiros colocados para o governo mantiveram o primeiro posto. No estado fluminense, o levantamento estimava 47% dos votos para o atual governador Cláudio Castro (PL), levando a definição para o 2º turno. Castro, no entanto, somou 58,6% e sagrou-se vitorioso já no 1º turno, em disputa com Marcelo Freixo (PSB).

A vaga de senador do Rio de Janeiro era prevista na pesquisa para Romário (PL) com ampla facilidade – 41% dos votos. A disputa, porém, não foi tão fácil; o ex-jogador saiu vitorioso, mas com 29,1% dos votos.

No estado mineiro, por fim, Romeu Zema (Novo) somava 50% no último levantamento do Ipec, divulgado neste sábado. Alexandre Kalil (PSD) vinha em segundo com 42%. O candidato do Novo, entretanto, obteve 56,2% da preferência do eleitorado e conquistou a reeleição no 1º turno, enquanto Kalil somou 35% dos votos.

Para o Senado, foram estimados 33% de votos válidos para Cleitinho Azevedo (PSC), que de fato venceu a disputa, mas com 41,5%.

Pesquisador explica divergências entre pesquisas eleitorais e resultado das eleições

Na avaliação de Raphael Nishimura, estatístico e diretor de Operações de Amostragem em Pesquisas de Levantamento da Universidade de Michigan, há diferentes fatores que fazem com que não seja raro que pesquisas pré-eleitorais mostrem, em dias anteriores e até mesmo na véspera da eleição, números diferentes do resultado das urnas. Essas pesquisas, segundo o especialista, representam um retrato do exato momento em que os dados foram colhidos, o que inviabiliza mensurar decisões que venham a ser tomadas de última hora pelos eleitores.

“Parte significativa do eleitorado acaba decidindo o voto no dia anterior, na noite anterior, ou até mesmo no próprio dia da eleição, em alguns casos na própria seção eleitoral. E aí, obviamente, como a pesquisa foi realizada num momento anterior, elas não vão conseguir captar essas mudanças”, explica o estatístico, que aponta números expressivos de abstenções como outro fator que pode impactar nessas divergências.

Para Nishimura, nos cargos cuja eleição se dá no sistema majoritário, que é o caso da presidência da República, o voto do eleitor costuma ser decidido com mais antecedência. Mas para os cargos de senador e deputado federal, por exemplo, que ocorrem no sistema proporcional, é mais comum que haja essas decisões de voto em cima da hora. Tal comportamento pode fazer com que pesquisas eleitorais para os cargos do sistema proporcional tendam a ter uma discrepância ainda maior.

Já quanto às dissonâncias nos números entre os próprios institutos, o estatístico diz que as escolhas metodológicas de cada entidade impactam diretamente nos resultados. O modo de coleta é o principal fator de impacto – pesquisas presenciais e por telefone, por exemplo, tendem a apresentar divergências. “Pesquisas por telefone têm um problema de cobertura da população, pois só conseguem cobrir pessoas que têm acesso a um telefone. Mesmo que hoje em dia um grande percentual da população tenha acesso, ainda existe uma diferença relevante entre as pessoas que não têm, principalmente com relação à renda, um dos fatores que podem estar associados ao voto”, aponta.

Metodologias das pesquisas citadas

Nacionais

Datafolha: O Datafolha entrevistou 12,8 mil eleitores entre os dias 30 de setembro e 1º de outubro em 310 municípios do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e pela TV Globo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-00245/2022.

Ipec: O Ipec entrevistou 3.008 eleitores entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro de 2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e está registrada no TSE com os protocolos BR-00999/2022 e BR‐01640/2022.

Quaes: A pesquisa foi realizada pelo instituto Quaest e contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 3,6 mil eleitores presencialmente entre os dias 30 de setembro e 1º de outubro de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob o protocolo BR-02444/2022.

Ipespe: A pesquisa do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) em parceria com a Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), ouviu 1,1 mil eleitores no dia 30 de setembro de 2022. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, com um intervalo de confiança de 95,45%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-05007/2022. Veja aqui o relatório da pesquisa (em PDF).

Instituto MDA: A pesquisa realizada pelo instituto MDA foi realizada por telefone entre os dias 28 e 30 de setembro de 2022, por encomenda da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). A amostragem é de 2.002 eleitores brasileiros com 16 anos ou mais, com margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos e nível de confiança é de 95%. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-02944/2022.

Estaduais

Ipec São Paulo: A pesquisa eleitoral do Ipec, encomendada pela TV Globo, entrevistou 2.000 eleitores em São Paulo entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob os protocolos SP-05847/2022 e BR-03126/2022.

Ipec Rio De Janeiro: A pesquisa eleitoral do Ipec, encomendada pela TV Globo, entrevistou 2.000 eleitores no Rio de Janeiro entre os dias 25 de setembro e 1º de outubro. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo RJ-01526/2022.

Ipec Minas Gerais: A pesquisa eleitoral do Ipec, encomendada pela TV Globo, entrevistou 2.000 eleitores em Minas Gerais entre os dias 25 de setembro e 1º de outubro. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob os protocolos MG-09012/2022 e BR-06476/2022.

Ipec Bahia: A pesquisa eleitoral do Ipec, encomendada pela TV Bahia, entrevistou 2.000 eleitores no estado da Bahia entre os dias 25 de setembro e 1º de outubro. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BA-01710/2022.

Ipec Rio Grande do Sul: A pesquisa Ipec entrevistou 1.808 eleitores do Rio Grande do Sul entre os dias 28 e 30 de setembro. A margem de erro do levantamento é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. O levantamento está registrado na Justiça Eleitoral com o número RS-04427/2022.

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