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voto das mulheres
Proporção do eleitorado feminino aumentou nos últimos anos: cautela e falhas de comunicação justificam a indecisão maior entre as mulheres| Foto: Marri Nogueira/Agência Senado

Pesquisas sobre a corrida presidencial feitas por diferentes institutos têm mostrado que um quadro já verificado em eleições anteriores deve se repetir no pleito de 2022: a indecisão no voto das mulheres. Não por acaso, os pré-candidatos buscam estratégias para conquistar o eleitorado feminino.

Os dados estão, por exemplo, na última pesquisa do Ipespe, divulgada no dia 3 de junho. As mulheres que não souberam ou não responderam a pesquisa estimulada sobre a intenção de voto para presidente somaram 4% das entrevistadas. Entre os homens, o índice foi de 1%. Em maio, um levantamento do instituto Quaest registrou 12% de indecisão entre as mulheres, contra 7% nos homens. E a pesquisa Datafolha, também de maio, verificou um quadro ainda mais expressivo: 37% das mulheres de renda até dois salários mínimos não souberam indicar seu candidato à Presidência na pesquisa espontânea, aquela em que o entrevistado pode falar livremente um nome. Entre os homens do mesmo extrato social, o índice foi de 25%.

O quadro repete o verificado em 2018, quando o Brasil foi às urnas tendo também como favoritos Jair Bolsonaro (PL) e um candidato do PT – na ocasião, Fernando Haddad, que substituiu Luiz Inácio Lula da Silva, na época preso por corrupção. Em junho daquele ano, o Datafolha constatou que 80% das mulheres não tinham candidato a presidente. O índice soma votos brancos e nulos, e as indecisões, que estavam em 54%. A faixa de homens "sem candidato" na ocasião era de 58%.

Em 2014, a última eleição presidencial polarizada entre PT e PSDB, também se registrou um ambiente com mais mulheres indecisas do que homens. Pesquisa do Datafolha feita às vésperas do segundo turno – disputado entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) – constatou uma taxa de indecisão de 7% entre as mulheres, mais do que o dobro dos 3% levantados no eleitorado masculino.

A presença maior da indecisão entre as mulheres se torna mais relevante pelo fato de o eleitorado feminino ter ganhado mais peso nos últimos anos. A diferença entre homens e mulheres se acentuou e, na eleição de 2022, elas deverão representar 56% do total de votantes.

Campanhas traçam estratégias para conquistar votos das mulheres

A necessidade de conquistar o eleitorado feminino é compreendida pelas campanhas de Bolsonaro e Lula. Entre os aliados do atual presidente, candidaturas majoritárias de mulheres governistas entram nessa estratégia.

A deputada federal Flávia Arruda (PL) e a ex-ministra Damares Alves (Republicanos) buscam o posto de candidata "oficial" do governo ao Senado pelo Distrito Federal. No Paraná, a também deputada federal Aline Sleutjes (Pros) é outra que deseja o posto de candidata ao Senado com o "carimbo" do governo. Mas ela disputa a indicação com um homem, o igualmente deputado federal Paulo Eduardo Martins (PSC).

No caso da candidatura de Bolsonaro à reeleição, o obstáculo não é apenas o de superar a indecisão, mas também a rejeição. A pesquisa Datafolha identificou que a preferência entre Lula e Bolsonaro varia bastante entre homens e mulheres, com o atual presidente sendo preterido pelo público feminino.

O governismo espera ainda a boa votação de deputadas que prestigiaram Bolsonaro durante o mandato, como Bia Kicis (PL-DF), Caroline de Toni (PL-SC) e Carla Zambelli (PL-SP). A participação delas é vista como uma maneira de diminuir a resistência das mulheres a Bolsonaro.

Mas a cartada "principal" da campanha de Bolsonaro é a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ela se filiou recentemente ao PL, o que a permite participar dos programas eleitorais do partido – embora ainda não tenha gravado nenhum. Ao longo do mandato, Michelle teve atuação discreta, mas ganhou notoriedade ao se envolver em ações sociais e religiosas, e se posicionar a favor dos direitos da população com doenças raras.

No caso de Lula, a campanha também vê espaço para o protagonismo da esposa do pré-candidato. O ex-presidente se casou recentemente com Rosângela Silva, a Janja. Ela é socióloga de formação e tem envolvimento com a militância política. O PT espera que ela participe de reuniões e discussões sobre o programa de governo do partido.

Outra pré-candidatura que deve enfatizar a busca pelo apoio das mulheres é a da senadora Simone Tebet (MDB-MS). A parlamentar disse, em evento recente, que "mulher vota em mulher", numa tentativa de aproximar seu projeto do público feminino.

Cautela e falha na comunicação explicam indecisão feminina

Dois fatores principais explicam a maior indecisão entre o público feminino, segundo cientistas políticos ouvidos pela Gazeta do Povo. Um é o quadro eleitoral do país, marcado pela polarização entre esquerda e direita, que leva as mulheres a "recuarem" e esperarem mais do que os homens para decidir seu voto.

O outro é a dificuldade de comunicação entre a classe política e os eleitores – ambiente explicado, principalmente, pelo fato de que os tomadores de decisão nos meios partidários serem ainda, majoritariamente, homens.

"As mulheres são, cada vez mais, provedoras dos lares. Então, elas sentem bastante o efeito de programas sociais como o Auxílio Brasil e o Bolsa Família. Acabam então tendo uma postura mais cautelosa, de ponderar todos os cenários possíveis", aponta o cientista político André César.

Para o também cientista político Davi Franzon, as mulheres acabam se pautando por questões mais "práticas" do que as consideradas pelos homens. Como exemplo, ele destaca pautas com apelo maior no público masculino do que o feminino, como o porte de armas. "A condição econômica tem um peso muito grande para as mulheres", declarou.

Em relação ao diálogo entre a classe política e as mulheres, Franzon ressalta que até mesmo entre os profissionais de marketing político a hegemonia masculina é significativa. "A comunicação para as mulheres ainda as trata como um estereótipo. Ou o estereótipo de uma mulher que obteve sucesso, ou da mulher que está na miséria. É uma comunicação que não compreende o papel que as mulheres exercem", disse.

A deputada federal Adriana Ventura (Novo-SP) endossa a análise. Para ela, os partidos não conseguem alcançar o eleitorado feminino, por não compreenderem as reais demandas das mulheres.

A parlamentar acrescenta que a dinâmica da eleição atual, que caminha para uma polarização entre Lula e Bolsonaro, também contribui para ampliar a indecisão do voto feminino: "as mulheres estão percebendo que as duas candidaturas não as satisfazem e aguardam o desenrolar do quadro".

Metodologia das pesquisas citadas

O Ipespe ouviu 1 mil eleitores, em todas as regiões do país, entre 30 de maio e 1.º de junho. A margem de erro máximo estimada é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos, com um intervalo de confiança de 95,5%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-02893/2022.

O Datafolha ouviu 2.556 eleitores, em todas as regiões do país, entre 25 e 26 de maio. A margem de erro máximo estimada é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com um intervalo de confiança de 95%. O levantamento foi registrado no TSE sob o número BR-05166/2022.

A pesquisa do instituto Quaest ouviu 2 mil eleitores entre os dias 5 e 8 de maio. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, com um intervalo de confiança de 95%. O levantamento foi registrado no TSE com o protocolo BR-01603/2022.

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