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Requião no plenário do Senado, em dezembro de 2018
Requião no plenário do Senado, em dezembro de 2018| Foto: Pedro França/Arquivo Agência Senado

Aos 81 anos, Roberto Requião se filiou ao PT para concorrer ao que pode ser seu quarto mandato como governador do Paraná. A mudança de legenda, do “velho MDB de guerra” no qual ele era o filiado nº 1 para o partido de Lula e Gleisi Hoffmann, não chega a ser surpreendente.

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Levantamento feito pela Gazeta do Povo resgata discursos de Requião no período em que foi senador e que o identificam com apenas mais um dos muitos movimentos de Requião rumo à esquerda mais radical adotada em outros países da América Latina.

Criação do grupo parlamentar Brasil-Cuba

Em 7 de novembro de 1995 Requião foi à tribuna do Senado Federal para anunciar o restabelecimento do “Grupo Parlamentar Brasil-Cuba”. A medida, justificou o então senador, tinha como objetivo “denunciar o ilegítimo e indecoroso bloqueio com que ainda teimam isolar o povo cubano do resto do mundo”. O embargo comercial norte-americano contra a ilha caribenha foi determinado pelo presidente John Kennedy em fevereiro de 1962, após a Revolução Cubana realizada três anos antes, e perdura até os dias de hoje.

Apesar de apontar que o grupo "não inscreve entre os seus propósitos a apologia ou a propaganda do regime cubano vigente", Requião classificou o embargo como sendo “uma forma indisfarçada, indissimulada de intervenção na vida do povo cubano”. Disse ele: "este bloqueio tem com inspiração o mesmo fundamentalismo, os mesmos preconceitos e a mesma pretensão de eleitos de Deus e de donos da verdade com que, diariamente, são acusados, execrados e postos sob restrição países que estão na lista dos desafetos do governo americano e de alguns de seus aliados ocidentais”.

O senador citou avanços que caracterizou como “notáveis” da ditadura de Fidel Castro nas áreas de saúde, educação, moradia, saneamento básico e segurança, e disse que “o bloqueio atinge, aflige, desconcerta, esmaga o povo cubano e as conquistas que esse mesmo povo, com sua força, o seu sangue, a sua energia e entusiasmo construíram”.

Requião foi além, cobrando uma posição contrária ao embargo de todos aqueles com “um mínimo senso de justiça”. “Se na construção da bela e generosa utopia iniciada em 1959, quando Castro, Che Guevara e Cienfuegos varreram a ilha dos rufiões, dos mafiosos, da apodrecida burguesia cubana, aconteceram desvios, excessos e, se ainda agora, qualquer um de nós aponta equívocos, nem por isso quem possua o mínimo de senso de justiça, de dignidade pode concordar com esse bloqueio. Um bloqueio, na verdade, anacrônico, inútil, já que depois de três décadas não cumpriu seu principal objetivo, o objetivo de derrubar Castro”, declarou.

Solidariedade ao MST

Em 17 de abril de 1996, Requião fez um longo discurso de apoio à invasão a uma fazenda no interior do estado, por cerca de 10 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). À época, a invasão foi noticiada como sendo a maior no Paraná desde o início da década de 1990.

“A minha manifestação, neste momento, é de solidariedade a esses trabalhadores que fazem uma greve ao contrário. Enquanto diversas categorias fazem greve para não trabalhar, esses trabalhadores sem-terra, esses agricultores da região oeste e sudoeste do Paraná estão acampados, na beira da estrada, pedindo a oportunidade de lavrarem a terra e produzirem alimentos para os brasileiros”, disse o senador.

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Requião também aproveitou a oportunidade para criticar a iniciativa do então governador Jaime Lerner de incentivar a construção da fábrica da Renault na região metropolitana de Curitiba. “O Governo do Paraná gastou ou pretende gastar R$500 milhões para que a Renault abra uma fábrica em São José dos Pinhais, o que, possivelmente, dentro de 5 a 7 anos, gerará 2 mil empregos. Seria muito mais adequado e apropriado que se fizesse um esforço agora para evitar a violência e assentar 3 mil famílias, o que daria emprego garantido a cerca de 7 a 8 mil pessoas”, comparou.

Elogios ao PT

Não foram poucos os elogios de Requião ao PT durante os mandatos no Senado Federal. Em 5 de outubro de 2000, ele fez um discurso no qual avaliou o aceite por parte de Marta Suplicy do apoio do então presidente da República Fernando Henrique Cardoso à candidatura dela para a prefeitura de São Paulo. Apesar das críticas, a petista acabou sendo eleita.

“No lugar da candidata do PT, Marta Suplicy, eu não aceitaria o apoio de Fernando Henrique, porque esse apoio, uma vez aceito, talvez torne a candidatura de Marta Suplicy igual a todas as outras. O PT, até agora, tem se diferenciado no Brasil por uma postura ética, de correção e de ausência de escândalos em suas administrações. Porém, se esses apoios se consolidam e são bem-vindos, essas candidaturas petistas caem na vala comum da corrupção política brasileira”, avaliou.

Avaliação positiva de Lula

Em 25 de setembro de 2012, Requião teceu longos comentários a Lula em novo discurso no plenário do Senado. Ambos compartilharam o mesmo período de governo, Lula como presidente e Requião como governador do Paraná. “A oposição não perdoa e jamais desculpará a ascensão do retirante nordestino à Presidência da República. A ascensão do metalúrgico talvez ela aceitasse, mas não a do pau de arara. Este não”, disse.

E seguiu: “Lula acendeu uma vela também para os pobres. E não foi pouco o que ele fez. É preciso ter entranhados na alma o preconceito, a insensibilidade e a impiedade de nossas elites para não se louvar o que ele fez pela nossa gente humilde. Na verdade, no fundo da alma escravocrata de nossas elites, mora o despeito com a atenção dada aos mais pobres pelo Presidente Lula. Apenas corações empedrados por privilégios de classe, apenas almas endurecidas pelos séculos e séculos de mandonismo, de autoritarismo, de prepotência e de desprezo pelos trabalhadores podem explicar esse combate contínuo aos programas de inclusão das camadas mais pobres dos brasileiros ao maravilhoso mundo do consumo de três refeições ao dia”.

Aos que criticaram as denúncias de corrupção durante os governos de Lula, Requião deu a seguinte declaração: “eu acho que só um verdadeiro idiota pode considerar o Presidente Lula imune a defeitos e erros, mas só outro idiota pode negar o reconhecimento das qualidades do Lula como líder e como presidente do País, principalmente em relação ao Brasil nação e aos interesses do seu povo”.

Apoio a Dilma

A sequência de elogios aos líderes do PT seguiu, como a defesa feita por Requião em 9 de outubro de 2014, quando fez questão de se posicionar como “um crítico radical de muitas medidas do Governo Dilma” – à época, ela concorria pela reeleição no segundo turno contra Aécio Neves (PSDB). Mas, mesmo dizendo que não apoiava o PT, e sim o Brasil, Requião não se furtou a dizer que a vitória do Partido dos Trabalhadores seria a garantia da “soberania nacional” e da “política externa com independência e com coragem”.

“O Governo Dilma é o melhor dos mundos? É o PT o luzeiro a nos conduzir à terra prometida? É o PT paradigma da ética e da eficiência governamental? É claro que não. No entanto, com todos os seus defeitos, os governos do PT tornaram este País menos desigual, menos injusto. Se ainda não é o País de todos, pelo menos se tornou um País de mais gente, ao passo que as propostas econômicas do PSDB, inevitavelmente, farão do Brasil, de novo, um País para poucos, um País exclusivo para os muito ricos. A Presidente Dilma, apesar dos erros e desacertos de alguns membros do seu Governo, é a garantia da condução e evolução de um projeto nacional. Estou apoiando a política da Presidente Dilma, que, sem a menor sombra de dúvida, é a mais segura, interessante e promissora, para a continuidade de um projeto nacional de um Brasil soberano que se debruça sobre os interesses da sua população e não sobre os mesquinhos interesses do capital, que está destruindo o mundo”, concluiu.

Defesa ao voto impresso

Tão constantes quanto os elogios aos petistas foram as críticas de Requião ao sistema eleitoral brasileiro, mais especificamente às urnas eletrônicas. Em uma postagem feita em dia 28 de julho, o candidato ao governo do Paraná escreveu que não via a urna eletrônica como algo sagrado, e que o equipamento poderia melhorar e evoluir “como um telefone ou computador”. “Mas a crítica de Bolsonaro não é séria e é jogada política para disfarçar sua derrota”, seguiu a postagem.

Há 24 anos, Requião citava um documento do engenheiro Amílcar Brunazo Filho para justificar seu receio de fraude no sistema das urnas eletrônicas. “O problema da possibilidade de fraude, denunciada em todo o Brasil, é que se ela for bem feita, não deixa pistas. Se os possíveis fraudadores do sistema tiverem um pouco de competência, só um pouco mais que os Partidos, não só programariam a fraude de desvios de votos, como fariam o código viciado ser apagado da memória depois de processado”.

Ele também manifestou claro apoio ao voto impresso. “A única solução que pode dar garantia aos Partidos políticos contra o tipo de fraude é que o voto do eleitor na urna eletrônica seja impresso, como o era em 1996. E que, além de impresso, seja mostrado ao eleitor no momento em que vota. Este conferiria o impresso e colocá-lo-ia numa urna. Esta é a única maneira de o eleitor certificar-se de que o voto impresso é o que teclou no computador e de viabilizar que ele seja posteriormente conferido, se o computador e o sistema de apuração tiverem algum vício, alguma fraude programada. Fora disso, testes inócuos, análises parciais, auditorias incompetentes e perícias posteriores não servem para garantir a ninguém que uma urna eletrônica seja segura. Deveríamos, no Senado, tomar a iniciativa de exigir que as urnas eletrônicas voltem a ter um comprovante impresso e que este seja depositado numa urna ao lado da urna eletrônica, depois de ter sido conferido pelo eleitor”, apontou.

A postura se manteve em um discurso de 5 de novembro de 2001. Na ocasião, Requião afirmou que vinha, há dois anos, se esforçando “para dar ao sistema brasileiro uma característica de credibilidade e de seriedade que ele não possui hoje em dia”. Parte deste trabalho citado pelo senador foi feito por meio de encontros com especialistas, que chegaram a uma única conclusão: “se o voto não for simultaneamente impresso, garantindo a possibilidade da auditagem do resultado, o sistema brasileiro não será confiável”.

Críticas de Requião aos apoiadores de Bolsonaro

Em 23 de outubro de 2018, cinco dias antes do segundo turno das eleições para Presidente da República vencidas por Jair Bolsonaro (PL), Requião teceu duras críticas aos apoiadores do vencedor, classificados pelo senador como os responsáveis por “tirar do fundo do baú a ameaça vermelha do comunismo”. “Essa mobilização de milhões de brasileiros, especialmente entre católicos e evangélicos, contra um perigo vermelho inexistente é uma das mais canalhas, safadas, sórdidas manobras de nossas elites para impor sua agenda neoliberal anti-Brasil, antitrabalhadores e antidemocrática”, disparou.

Requião seguiu, dizendo que os apoiadores de Bolsonaro formavam “um movimento, uma procissão de brasileiros desiludidos com a política, revoltados com a corrupção, apavorados com a perda de status, temerosos da pobreza, indignados com a violência, desesperados com a falta de perspectivas, vítimas do desemprego, do subemprego, dos salários baixos, do achatamento do poder aquisitivo”. Também fariam parte deste grupo, segundo o senador, “todo o séquito, todo tipo de séquito, bandidos, proxenetas, rufiões, atores pornôs que marcham ombro a ombro com os defensores dos bons costumes e da família, um cortejo, um séquito habilmente explorado nos últimos anos pelos meios de comunicação, estimulado pela conivência dos nossos liberais, social-democratas e pelo ciúme doentio do príncipe dos sociólogos e manipulados por um Judiciário e um Ministério Público parcialíssimos, vesgos por seu parti pris político e ideológico”.

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