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Infraestrutura: as demandas do setor produtivo para o novo governo do Paraná
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A Gazeta do Povo dá início a uma série de reportagens sobre temas que impactam a sociedade e que são vitais para a qualidade de vida das pessoas, para o avanço dos negócios e para o desenvolvimento de todo o Paraná. O propósito é, com a proximidade das eleições, estimular o debate sobre questões prioritárias ao Paraná e à próxima gestão do governo estadual.

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Abordaremos os temas de Infraestrutura, Saúde, Educação, Segurança Pública, Eficiência Administrativa na Gestão Pública e Ambiente de Negócios Competitivo e Inovador, sob o ponto de vista de especialistas, estudiosos, pesquisadores e entidades representativas dos mais diversos setores. Aqui, o recorte da Infraestrutura.

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O avanço na infraestrutura é uma das principais expectativas do setor produtivo em relação ao próximo governo. A viabilização do modal ferroviário, com a implantação da Nova Ferroeste, o prosseguimento das duplicações e melhorias nas rodovias, com tarifas justas de pedágio, estradas rurais adequadas, o avanço na modernização dos portos de Paranaguá e Antonina e melhorias nos aeroportos regionais são desafios para quem assumir o Palácio Iguaçu em janeiro de 2023. Além disso, a energia e a conectividade devem chegar às  comunidades mais distantes para permitir o  desenvolvimento.

Ter infraestrutura adequada é o caminho para reduzir custos e melhorar a eficiência na movimentação de mercadorias. O benefício é tanto para quem produz, que tem seus gastos otimizados, quanto para quem consome, que pode ter acesso a produtos de qualidade a preços mais acessíveis.

Novas cargas, novas necessidades

O perfil das cargas do Paraná mudou bastante nos últimos anos. O Estado, antes focado quase que totalmente na produção de grãos, tem aumentado a produção de alimentos industrializados, especialmente carnes e derivados e produtos lácteos.

São cargas que demandam uma logística especializada, precisam ser transportadas em contêineres refrigerados. Parte dessa produção sai do Paraná com destino ao mercado externo. Outra parte importante dessa mercadoria segue para abastecer outros estados brasileiros, entre eles os mais distantes, das regiões Norte e Nordeste.

Essa situação fez surgir uma demanda por um tipo de transporte ainda pouco comum no Paraná e no Brasil: a cabotagem. A navegação de um porto a outro, dentro do próprio país, é a solução mais indicada quando a distância a ser percorrida supera 1.500 quilômetros. E é aí que o setor produtivo esbarra em um dos entraves logísticos do estado: a pouca oferta de linhas que fazem a cabotagem saindo dos portos de Paranaguá e Antonina.

O pedido de incentivo à cabotagem é uma das novidades do Plano Estadual de Logística de Transporte (PELT 2035), iniciativa do setor produtivo, que acaba de ser revisado, com o propósito de ser encaminhado aos candidatos ao governo do Estado. O documento, que existe desde 2010 e é atualizado periodicamente, elenca as obras prioritárias até o ano de 2035 para dotar o estado da infraestrutura adequada em todos os modais.

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A versão que acaba de ser revisada e será entregue aos candidatos ao governo traz o status de 97 obras elencadas como prioritárias, já na versão anterior, de 2016, em todos os modais. Do total, 24% das obras foram concluídas, 55% estão em andamento e 21% ainda não saíram do papel.

A atualização do plano contou com a participação de cerca de 440 pessoas, de diversas entidades, em sete reuniões regionais realizadas por todo o Paraná. Um dos maiores avanços do Estado em infraestrutura nos últimos anos, segundo a conclusão dos trabalhos, aconteceu no setor de aviação, com o programa Voe Paraná, que viabilizou voos nos aeroportos regionais. O setor produtivo reconhece também avanços no porto de Paranaguá.

"Navega Paraná" pode ser estímulo à cabotagem  

“A cabotagem não estava nas versões anteriores, mas recebemos essa demanda do setor produtivo e inserimos”, destaca João Arthur Mohr, gerente de Assuntos Estratégicos do Sistema Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), entidade que lidera a estruturação do documento, formulado com a participação de todas as entidades do setor produtivo e órgão de classe.

Segundo Mohr, o governo do Estado pode estimular, estabelecendo áreas específicas nos portos do Paraná para terminais focados na cabotagem e com programas de incentivo para empresas que se instalarem aqui para viabilizar essa forma de transporte. Podem ser concedidos benefícios fiscais, como foi feito no setor da aviação com o Voe Paraná, que isentou o querosene, usado como combustível nas aeronaves. “Pode ser criado um Navega Paraná”, sugere Mohr.

A cooperativa Frimesa, uma das maiores na industrialização de carne suína e laticínios do Paraná, com sede em Medianeira, na região Oeste, está na lista das empresas que aguardam a viabilização da cabotagem. “Apenas 25% do que vendemos para o Norte e Nordeste do Brasil seguem por navegação. O restante vai por rodovia e isso encarece muito o nosso custo”, diz Elias Zydek, diretor executivo da cooperativa. “Aqui no Oeste do Paraná sofremos pela distância, tanto em relação ao porto quanto em relação aos grandes centros consumidores. Por isso, precisamos soluções logísticas mais eficientes e econômicas”, destaca.

Segundo Zydek, além da navegação, a ferrovia é fundamental. “Se aliarmos a ferrovia, para levar a carga até o porto, e a cabotagem para transportar de Paranaguá aos centros consumidores do Norte e Nordeste, nosso custo logístico é reduzido em cerca de 35%”, pontua. "O Paraná já tem bons projetos. O que precisa é implantá-los. O governo precisa ser mais ágil, caminhar na velocidade da iniciativa privada", observa Zydek.

A maior promessa é a ferrovia

A viabilização do transporte ferroviário é, talvez, o que o setor produtivo espera há mais tempo, em termos de infraestrutura. A tão prometida Nova Ferroeste, que vai ligar por trilhos o porto de Paranaguá ao Mato Grosso do Sul, totalizando 1.567 quilômetros (incluindo os ramais), ainda está no papel.

“A ferrovia é a mais esperada. Temos hoje o trecho de Guarapuava a Cascavel, mas não funciona. Não tem preço adequado e nem capacidade de carga”, diz o empresário Edson Vasconcelos,  coordenador do Conselho de Infraestrutura da Fiep. A expectativa é de que a ferrovia represente uma redução de 28% no custo logístico para o transporte das cargas do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, comparado com o modelo atual, concentrado no modal rodoviário.

Houve avanços importantes nos últimos anos em relação à ferrovia. O atual governo fez o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA), definiu o traçado principal e os ramais ferroviários, realizou audiências públicas em todas as regiões por onde passará a estrada e o projeto foi apresentado a investidores nacionais e internacionais. Além disso, foi definida a modelagem do leilão.

A projeção atual é que a Nova Ferroeste vá a leilão ainda esse ano. Depois da assinatura do contrato, o investidor terá prazo de sete anos para a elaboração do projeto de engenharia e a execução do primeiro trecho, que liga Cascavel a Paranaguá. Não há um prazo definido para a construção dos demais trechos. Vai depender da capacidade financeira do investidor e da demanda de carga.

Duplicações, terceiras faixas e melhorias nas rodovias

Em relação às rodovias há uma queixa generalizada. Faltam duplicações, construções de terceiras faixas e melhoria em geral na qualidade das estradas. Há também necessidade de implantar os contornos rodoviários em várias cidades. Outra reclamação diz respeito à precariedade de estradas rurais.

“Precisamos urgentemente a duplicação da BR 277, de ponta a ponta do Paraná”, diz Elias Zydek, da Frimesa. De Paranaguá a Foz do Iguaçu, a estrada tem 726 quilômetros. Desses, apenas 228 km são duplicados. O restante é pista simples. “Essa estrada é nossa artéria de escoamento e não comporta mais o fluxo. Além disso, há muitos acidentes”, reclama o diretor da cooperativa.

Segundo Edson Vasconcelos, da Fiep, “a duplicação da BR-277 era promessa do contrato de concessão do antigo pedágio, que não se cumpriu. Esperamos que com o novo contrato isso seja feito”. Ele acrescenta ainda que, em relação aos novos contratos de concessão, há grande expectativa do setor produtivo por tarifas mais adequadas em relação às anteriores.

O empresário Roni Junior Marini, do setor madeireiro, reclama das condições ruins da estrada que liga Pato Branco a Palmas, no Sudoeste. “É uma estrada muito usada e está bastante deteriorada, precisa ser recuperada, modernizada e dotada de terceiras faixas”, pontua Marini, que preside o Sindicato da Indústria Madeireira de Palmas.

No Noroeste, os produtores rurais e empresários do setor industrial pedem a duplicação dos 60 quilômetros do trecho da BR-376, que liga Paranavaí a Nova Londrina. “Essa estrada atende a um grande número de municípios e com a ponte que será construída na travessia do porto São José, aumentará o número de veículos, principalmente caminhões. Antes da ponte, é preciso fazer a duplicação, principalmente por questões de segurança”, alerta Miguel Tranin, presidente da Associação de Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar).

Não se pode esquecer das estradas rurais

A entidades que representam o agronegócio lembram que as estradas rurais também são essenciais. “Não apenas as rodovias-tronco, mas também as estradas vicinais, que servem diretamente ao produtor rural para escoar sua produção, são fundamentais”, destaca o presidente da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Ágide Meneguette.

“É importante que o governo do Estado tenha um olhar atento às estradas, tanto as rurais quanto as que levam aos grandes centros”, observa Nelson Costa, superintendente da Federação e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Fecopar). As duas entidades reforçam também a necessidade de se dar prosseguimento à modernização dos portos e à implantação da ferrovia.

Energia e conectividade são entraves ao setor produtivo do campo

A energia é um insumo fundamental para a atividade agropecuária, em especial para a produção de frangos, suínos, peixes e leite.  “Como o custo de energia tem aumentado e as isenções estão sendo cortadas, os produtores rurais estão se valendo do programa de incentivo, o Renova Paraná, para implantar pequenas usinas de energia renovável, principalmente as fotovoltaicas, mas só funcionam durante o dia e com oscilações”, esclarece Ágide Meneguette, da Faep.

A entidade defende mais incentivos para o biogás, que seria a melhor alternativa para geração de energia no campo. “Fornece ao longo de 24 horas, permite outros usos, como combustível para gerar calor ou impulsionar motores, além de o resíduo do processo dos biodigestores poder ser utilizado como um excelente fertilizante”, observa.

Ainda em relação à energia no campo, o diretor da Frimesa, Elias Zydek, diz que na região Oeste é urgente a substituição da energia monofásica pela trifásica. “O governo tem um programa, mas ainda não atende a região. Precisamos de energia mais barata e mais estável”, reforça.

Para a indústria, a expectativa é pela redução do preço do gás natural, que no Paraná é um dos mais caros do país. O insumo é usado como fonte energética especialmente pelas indústrias de papel e celulose, cerâmica e louça. O governo, por meio do Plano Estadual do Gás, estuda a antecipação da renovação do contrato com a distribuidora Compagas, por mais 30 anos. Nessa renovação, algumas cláusulas seriam revistas como forma de baratear o produto.

O meio rural sofre também com a limitação da conectividade. “Hoje,  metade das propriedades rurais não têm acesso à internet. Como vai se falar em equipamentos 4.0, 5.0, ferramentas de gestão, se a conectividade é essencial para o uso dessas tecnologias”, observa Zydek.

A opinião é compartilhada por Nelson Costa, da Fecopar. “Precisamos do apoio incondicional do governo do Estado para dialogar com as empresas do setor e também para criar um programa, a exemplo do Renova Paraná, que já existe na área de energia, para a conectividade, para que os agricultores possam instalar seus equipamentos e antenas”, diz.

A Faep tem o mesmo posicionamento: “apesar dos avanços, a conectividade do campo, através de internet, continua atrasada. Para dar suporte ao processo de modernização, é indispensável que o campo seja beneficiado com projetos de implantação de rede de internet”, destaca a Federação.

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