A base do governo federal está confiante de que o presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda tem tempo e condições para reduzir a vantagem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresentou nas pesquisas eleitorais recentes – como a do PoderData e do Ipespe, que colocam o petista com 6 e 9 pontos a mais do que o presidente, respectivamente (veja resultados e metodologias abaixo). Aliados, porém, entendem que a campanha presidencial pode adotar mais esforços para impulsionar a candidatura à reeleição.
O núcleo eleitoral de Bolsonaro e a base política projetam um crescimento da campanha durante o período eleitoral impulsionado pelas viagens do presidente aos estados, por discursos propositivos e pelas inserções publicitárias durante a propaganda eleitoral gratuita na rede nacional de rádio e TV entre 26 de agosto e 29 de setembro.
Deputados aliados ouvidos pela Gazeta do Povo, porém, entendem que o avanço previsto para a candidatura pode ser ainda maior se a comunicação do governo melhorar, principalmente nos municípios. Também avaliam que são necessários ajustes na articulação nos estados.
O sentimento na base é de que, em uma eleição tão polarizada, até os mínimos detalhes podem fazer a diferença a favor de Bolsonaro. Por isso, muitos defendem que o próprio presidente escute de maneira ampla os mais diferentes aliados, use suas redes sociais e também engaje mais sua articulação política para ampliar seus votos pelo país.
Por que aliados pedem mais informações sobre as ações do governo
A fim de orientar a base política na defesa do legado no governo, a campanha de Bolsonaro divulgou documentos que contêm as informações sobre ações e feitos da gestão nos 26 estados e no Distrito Federal. A ideia é que o presidente incorpore em seus discursos algumas das principais realizações e os parlamentares informem as entregas a nível estadual.
Contudo, alguns aliados entendem que esse nível de detalhamento é insuficiente e o governo e a campanha deveriam trabalhar juntos para elaborar a divulgação de informações específicas para os municípios. O deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), vice-presidente nacional do partido e vice-líder da legenda na Câmara, é um dos principais defensores dessa comunicação mais setorizada nas cidades.
O parlamentar explica que, em São Paulo, principalmente em sua base eleitoral, o oeste paulista, informar os feitos do governo no estado tem sido insuficiente para engajar mais apoio e virar votos a favor de Bolsonaro. "A população quer saber e eu já fui questionado. A gente pede voto e falam: 'Tá bom, mas o que ele [presidente] fez para a minha cidade?'", comenta Augusto.
O deputado pede há quatro meses informações específicas sobre recursos transferidos e produtos entregues para 250 municípios de São Paulo e afirma que, até hoje, não obteve um retorno satisfatório. "Oficiei os órgãos e me deram informações parciais. Sou o único deputado 'bolsonarista' no oeste paulista e estou com uma dificuldade tremenda para ter esses dados", lamenta.
Para o vice-presidente do PL, as dificuldades em obter acesso a essas informações detalhadas por municípios é uma falha da articulação política, especialmente da Casa Civil. "É ela que, tradicionalmente, faz essa coordenação com os demais ministérios e, especialmente em um ano eleitoral, faz levantamento do que fizeram de bom e os benefícios encaminhados aos municípios", pondera.
"Mas os ministérios não têm as informações do que foi feito para cada município. Nessa altura do campeonato, não ter esses tipos de dados é uma clara falha, isso é o básico do básico da política, porque precisamos vincular o benefício que aquele município recebeu na área de educação, infraestrutura, agricultura, saúde. Teve também o Auxílio Emergencial por parte do Ministério da Cidadania. É algo que já deveria estar dividido e separado por município para, agora, os políticos divulgarem", complementa Augusto.
O parlamentar também critica a ausência de um "mapa político", um mapeamento sobre quais são os políticos da base nos estados que trabalham para a campanha presidencial, como vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais de cada região. "É algo que não temos ainda e, de forma ou de outra, se soma a essa falha de comunicação de não conseguirmos cacifar o que o governo federal tem feito de forma mais completa e detalhada nas cidades", analisa.
Como aliados contornam as falhas da comunicação e mitigam seus impactos
De modo geral, o deputado Capitão Augusto entende que, se não forem corrigidas, as falhas na comunicação apontadas por ele podem até mesmo levar Bolsonaro a perder votos potenciais durante o período eleitoral. Para evitar isso, ele tem entrado em contato com prefeitos aliados e solicitado o levantamento das informações sobre o que o governo distribuiu para as cidades.
"Tenho um pessoal que está nos ajudando e apresentado o que recebeu da Funasa [Fundação Nacional da Saúde], do FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento de Desenvolvimento da Educação], do Ministério da Agricultura. São informações incompletas que ajudam, mas isso é só o mínimo do mínimo para mostrar tudo o que governo federal fez para, agora, divulgar e melhorar a imagem [do presidente], conseguir votos, mostrar que está atuante e ajudou os municípios", destaca o vice-presidente do PL.
O deputado federal Aluísio Mendes (PSC-MA), presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara e vice-líder do governo, minimiza a ausência de dados específicos sobre os feitos da gestão Bolsonaro nos municípios e avalia que as informações das ações nos estados é o suficiente.
"Pormenorizar por município eu acho mais complicado. Nós que fazemos a política no estado temos conhecimento de tudo o que foi feito, eu tenho. Entendo que é uma missão minha, não do governo. Por isso, eu acho interessante o que nos foi fornecido. O card que informa as ações no estado me tem sido muito útil, tenho as informações resumidas dos investimentos feitos no Maranhão em todas as áreas, como a da segurança", destaca.
O vice-líder do governo não discorda, porém, que, de uma forma ampla, a comunicação seja falha. "A comunicação foi a maior falha deste governo. Fez muito e não soube comunicar bem o que fez", lamenta. "Também tiveram as brigas que o governo comprou sem nenhuma necessidade. Precisamos focar mais em mostrar resultado com relação à melhora da economia", complementa.
Para Mendes, a campanha deve concentrar os esforços para comunicar as ações do governo sobre a redução do preço dos combustíveis e o aumento dos recursos para os programas sociais, como o Auxílio Brasil, por exemplo. "Essas coisas deveriam ser melhor informadas e tratadas como prioridade. É preciso foco em atacar problemas prioritários para nossa população, a inflação, o preço do combustível, gás, energia elétrica", defende.
Ao defender discursos propositivos para a defesa dos feitos e do legado do governo, Mendes se posiciona contrário a falas que questionem a segurança do sistema eleitoral e das urnas eletrônicas. "Sou do grupo da base do governo dos que acham que não tem que combater o sistema eleitoral. É confiável, já demonstrou isso há vários anos e não tem que ser esse o foco", sustenta.
"Devemos concentrar os esforços em melhorar o lado econômico e comunicar bem à população. Isso que vai realmente angariar simpatia e votos. O que tem incomodado hoje é falta de comida no prato, o preço da energia elétrica, dos combustíveis. A maioria da população não está preocupada com a questão da urna eletrônica", acrescenta o vice-líder do governo.
Quais as dicas de aliados para ajustar comunicação e impulsionar Bolsonaro
O deputado federal Capitão Alberto Neto (PL-AM), vice-líder do governo e do partido na Câmara, concorda com a importância em aperfeiçoar a comunicação durante a campanha, mas pondera que não é algo simples. "O trabalho não é fácil, é árduo, precisa ter continuidade, tem que ser massificado", destaca.
O parlamentar pondera que a divulgação precisa ser feita "de manhã, tarde e noite". "Pois, às vezes, o presidente tem um feito, entregou uma obra, mas, se isso for divulgado apenas um dia, não vai conseguir fazer chegar a todo o nosso país", comenta. Por esse motivo, Alberto Neto defende ações coordenadas da base política junto à comunicação tradicional veiculada na imprensa tradicional.
"A gente precisa de massificação dos deputados e veículos de comunicação, portais, televisões. Porque não tem comparação, o que o governo Bolsonaro fez em meio à pandemia e em meio à guerra foi muito mais do que o governo anterior. Então, temos muito a mostrar. Agora, para comunicar, a gente precisa multiplicar esses meios e os deputados da base podem ajudar bastante a influenciar nos municípios junto aos prefeitos e governadores", justifica.
Alberto Neto também defende que as redes sociais de Bolsonaro sejam utilizadas para impulsionar a campanha presidencial. Para ele, elas têm um potencial de engajamento junto ao eleitor superior em relação aos parlamentares e demais integrantes da base nos estados.
"Se utilizar uma estratégia de segmentação e impulsionamento de maneira correta, vai trazer um outro nível de engajamento. Eu falando ao povo do Amazonas tudo o que presidente fez pelo estado, por exemplo, não vai trazer à campanha presidencial o mesmo retorno, porque tem gente que gosta ou não gosta de mim, mas o presidente tem uma massa de seguidores e eleitores muito maior", explica.
O deputado fez sugestões sobre o assunto aos articuladores políticos do governo, mas não tem informações se foram acolhidas ou não. A sugestão de segmentação defendida por Alberto Neto ao núcleo político e à campanha é que as redes sociais de Bolsonaro não sejam utilizadas apenas para divulgações mais abrangentes e nacionais.
"Se ele fizer uma postagem de maneira geral não vai atingir tão intimamente o que ele falar de maneira impulsionada e direcionando o algoritmo para o Amazonas sobre os feitos do governo no estado, por exemplo. Isso faz com que ganhe mais força ainda, pois tem muitos feitos e está faltando divulgar melhor", pondera.
O parlamentar também concorda que comunicações setoriais para os municípios e capitais também poderiam ser trabalhadas. "O Capitão Augusto tem toda a razão quando defende isso. Hoje, a comunicação é bem dividida na questão do algoritmo das redes sociais pela segmentação. Se conseguir segmentar mais ainda, não apenas nos estados, mas também nos municípios, o resultado vai ser ainda melhor", diz.
Quais outros ajustes os aliados defendem para a campanha de Bolsonaro
A defesa por uma estratégia coordenada entre as redes sociais do presidente e da base política para a divulgação dos feitos do governo não é um impeditivo para o investimento em propagandas eleitorais, pelo contrário. Aliados políticos defendem desde o início do ano uma utilização maciça de recursos públicos para divulgar as ações, mas a proposta foi abortada por Bolsonaro, que optou por fazer o trabalho de comunicação nas redes sociais.
O dilema sobre a melhor utilização das redes sociais e mídias tradicionais acerca do custo-benefício não é recente no governo e, inclusive, dividiu os filhos e a campanha de Bolsonaro. Porém, o debate da comunicação não é o único ponto que aliados recomendam ajustes para impulsionar a candidatura presidencial.
Alguns também defendem ajustes na articulação política nas bases estaduais. Há reclamações entre parlamentares de que Bolsonaro escuta um grupo pequeno de aliados e dá pouca atenção e acolhimento a sugestões encaminhadas a ele por pessoas que não compõem seu círculo político mais próximo. Isso, segundo a base, afeta até diretamente a candidatura presidencial, uma vez que eles atuam para pedir votos a Bolsonaro de eleitores que se mostram indecisos em relação ao presidente.
O deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), vice-líder do partido na Câmara, porém, minimiza as críticas de aliados que entendem que o presidente deveria expandir mais seu círculo político pessoal. "Eu acho que o presidente escolhe quem ele quer. Quem não for escolhido, paciência. O presidente tem muita consciência de quem ele quer ter ao lado dele, tem que respeitar isso", analisa.
Sobre os esforços e sugestões de seus correligionários para melhorar a comunicação acerca dos feitos do governo e segmentá-la por municípios, Nunes concorda que seria importante ser feito. "Se conseguir isso é excelente. É um trabalho grande, mas eu acho que cabe fazer isso. É muito bom, porque remete ao slogan do governo de 'Mais Brasil, menos Brasília'", destaca.
Para Nunes, uma calibragem melhor na comunicação levaria a campanha presidencial a crescer "muito mais". "O cenário vai melhorar muito para o Bolsonaro porque a economia vai crescer muito. O Bolsonaro melhor está para chegar", sustenta.
Metodologias das pesquisas citadas na reportagem
O levantamento do PoderData, que contratou a própria pesquisa, mostrou Lula com 43% das intenções de voto para presidente e Bolsonaro com 37% (veja o resultado completo aqui). Foram ouvidos 3 mil eleitores em 309 municípios das 27 unidades da federação entre os dias 17 e 19 de julho de 2022. As entrevistas foram feitas por telefone, para fixos e celulares. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. Foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-07122/2022.
A pesquisa eleitoral XP/Ipespe, divulgada em 25 de julho, mostrou Lula com 44% e Bolsonaro com 35%. O levantamento foi encomendado pela XP Investimentos para o Ipespe (veja o resultado completo aqui). Foram entrevistados 2 mil eleitores, presencialmente, entre os dias 20 e 22 de julho. A margem de erro do levantamento é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95,45%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número BR-08220/2022.
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