Apesar de ser o nome mais bem colocado nas pesquisas eleitorais, até o momento, entre os pré-candidatos da chamada terceira via, o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro (Podemos) tem ficado de fora das articulações dos demais partidos do grupo. Nos últimos dias, encontros entre representantes do MDB, que tem a pré-candidatura de Simone Tebet, do PSDB, com João Doria e Eduardo Leite, do União Brasil e do Cidadania não contaram com aliados do ex-juiz.
De acordo com último levantamento Datafolha, de março, Moro tem 8% das intenções de voto e aparece em terceiro lugar na corrida presidencial. O ex-juiz aparece atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 43%, e do presidente Jair Bolsonaro (PL), com 26%. Neste mesmo levantamento, João Doria somou 2% e Simone Tebet aparece com 1%.
Até então, Moro, Doria e Tebet davam sinalizações de que o grupo poderia se unificar para apoiar apenas um nome da chamada terceira via. Contudo, aliados de Doria e de Tebet já admitem a possibilidade de um distanciamento em relação ao nome do ex-juiz.
Nas últimas semanas, por exemplo, integrantes do MDB, PSDB, União Brasil e Cidadania passaram a se reunir para tratar da unificação do grupo, mas sem a presença do partido de Moro. Nos bastidores, líderes do Podemos admitiram o incômodo em relação ao isolamento do ex-juiz. Além disso, Moro teria se queixado do fato de não participar das últimas discussões entre os dirigentes partidários.
Questionado sobre a ausência do Podemos nas discussões, João Doria afirmou que isso se deu por "fatores alheios à vontade dos partidos". "Neste momento, o Podemos, partido de Sergio Moro, ainda não integra essas negociações. Mas não há razão para excluir Sergio Moro. Apenas por circunstâncias e fatores alheios à nossa vontade, o Podemos não tem participado desses entendimentos", explicou o governador de São Paulo.
Diante deste cenário, Moro, ao voltar de sua viagem à Alemanha, se encontrou com o presidente do União Brasil, Luciano Bivar, e fez questão de registrar o momento em suas redes sociais.
"Reforçamos a necessidade de termos um único candidato do centro político democrático contra os extremos. Bivar seria um ótimo vice-presidente ou cabeça de chapa. Estaremos juntos de 2022 a 2026, pelo menos", escreveu nesta segunda-feira (28), ao postar no Twitter uma foto com Bivar.
Partidos da terceira via vão aumentar pressão contra Moro
Nos bastidores, integrantes dos partidos da chamada terceira via admitem que a ausência de Moro ou de representantes do seu partido nos encontros foi de forma proposital. A medida seria uma forma de pressionar o ex-juiz a “descer do salto” e sinalizar que também topa abrir mão de sua candidatura em nome de uma união do grupo.
O movimento foi uma reação ao discurso de Moro que, no mês passado, durante um evento do BTG Pactual, defendeu a união entre o grupo, mas descartou abrir mão de sua própria candidatura.
"Acho muito factível que possamos nos unir em algum momento desse ano para enfrentar esses extremos, na minha opinião já deveríamos estar unidos. Mas estou em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto e não faz sentido eu abdicar dessa candidatura para vencer os extremos", disse o ex-juiz.
Doria estava na plateia do evento, e segundo interlocutores do PSDB, o governador de São Paulo teria sinalizado o desconforto com a fala de Moro. Antes disso, Simone Tebet já havia alertado o ex-juiz sobre o seu "isolamento no centro democrático". No encontro, a emedebista sinalizou que dificilmente uma candidatura do grupo iria crescer sem o apoio do centro.
De acordo com Doria, até o momento não há definição de quem seria o nome a concorrer. “Em nenhuma dessas reuniões houve qualquer colocação, de qualquer partido e de qualquer candidato no sentido de que a prerrogativa fosse seu nome ou seu partido. O mais importante é a defesa do Brasil e dos brasileiros”, completou o pré-candidato do PSDB.
Primeiro evento do grupo de partidos da terceira via não deve ter a presença de Moro
Como forma de aumentar a pressão sobre a candidatura de Moro, lideranças do PSDB, MDB, União Brasil e do Cidadania preparam para o dia 6 de abril um evento para mostrar a unidade do grupo. A expectativa é que seja decidido um critério para a escolha da candidatura. São cogitadas pesquisas qualitativas ou votações nas bancadas de parlamentares, por exemplo.
Moro não deve participar desse evento. No entanto, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, mencionou a possibilidade de o Podemos passar a integrar o grupo como interlocutor para aliança.
"Estamos nos programando para, no dia 6 de abril, fazermos um evento político para lançar o pilar dessa unidade, dessa candidatura única que pretendemos ter anunciada no dia 1º de junho", afirma Araújo. Para o tucano, a composição vai oferecer estrutura de campanha e tempo de propaganda no rádio e TV para o nome escolhido.
O grupo espera ter uma definição deste nome até o meados de junho. Até lá, o MDB irá investir na exposição de Tebet, enquanto João Doria e Eduardo Leite pretendem rodar o país depois de deixarem o governo de São Paulo e do Rio Grande do Sul no começo de abril. "A possível junção dos nomes da terceira via só deverá ocorrer no fim de junho. Em abril, começaremos a discutir os critérios", defendeu o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP).
Moro também enfrenta série de dificuldades dentro do Podemos
Além das dificuldades de construir apoio com outras legendas, a pré-candidatura de Sergio Moro tem sofrido uma série de dificuldades dentro do Podemos. Até o momento, a sigla do ex-juiz não conseguiu construir palanques para a candidatura nos principais estados do país.
Moro chegou a desenhar um palanque em São Paulo com a candidatura de Renata Abreu, presidente nacional do Podemos, mas a sigla já cogita desistir da disputa para apoiar Rodrigo Garcia (PSDB) no estado. Se o acordo com o tucano for concretizado, o deputado estadual Heni Ozi Cukier será o candidato do Podemos ao Senado de forma avulsa. O ex-juiz enfrenta dificuldades no maior colégio eleitoral do país desde que Arthur Do Val abriu mão da disputa estadual depois da divulgação de áudios sexistas contra as mulheres ucranianas.
Paralelamente, o Podemos na Bahia indicou apoio à candidatura de ACM Neto (União Brasil) ao governo do estado. Neto, no entanto, não pretende abrir palanque para Sergio Moro na região. Outro revés ocorreu no Mato Grosso do Sul, onde o Podemos contava com a filiação de Rose Modesto, mas acabou perdendo a pré-candidata para o União Brasil.
Metodologia de pesquisa citada na reportagem
O Datafolha ouviu 2.556 eleitores entre os dias 22 e 23 de março, em 181 cidades. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-08967/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
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