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Enquanto Bolsonaro assume os holofotes políticos, Guedes conversa com empresários, investidores e banqueiros para transmitir a confiança ao mercado e consolidar votos no segundo turno.
Enquanto Bolsonaro assume os holofotes políticos, Guedes conversa com empresários, investidores e banqueiros para transmitir a confiança ao mercado e consolidar votos no segundo turno.| Foto: Marcos Correa/PR

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem adotado uma postura complementar à atuação do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao longo da campanha eleitoral. Enquanto o candidato à reeleição assume naturalmente para si os holofotes políticos, o chefe da equipe econômica conversa com empresários, investidores e banqueiros para transmitir a confiança ao mercado e consolidar votos.

Entre reuniões, palestras, audiências e entrevistas com empresários, investidores, banqueiros, jornalistas e até youtubers, Guedes cumpriu pelo menos 38 agendas desde o início oficial da campanha eleitoral, em 16 de agosto. No período, ele também esteve com embaixadores, ministros do governo, além de presidentes de estatais e do Banco Central.

Em comum entre as agendas, Guedes procura sempre destacar as medidas adotadas ao longo do governo que possibilitaram a retomada da confiança dos empresários e investidores, bem como dos investimentos externos. Ele também enaltece os sinais de recuperação da economia mesmo após os impactos econômicos advindos da pandemia da Covid-19 e da guerra na Ucrânia.

Além do discurso econômico ao mercado, ele também faz defesas de Bolsonaro e do governo, a exemplo do bloqueio de R$ 2,4 bilhões do Ministério da Educação. Em um grupo de empresários de WhatsApp que Guedes participa, ele negou na manhã de quinta-feira (6) a ocorrência de cortes nas verbas de universidades e institutos.

Segundo a mensagem enviada aos empresários, trata-se "apenas" de um "limite temporário de empenhos no orçamento" até novembro. "A medida ocorre para respeitarmos a Lei de Responsabilidade Fiscal", diz. Sobre as críticas da oposição e de até alguns aliados ao bloqueio, Guedes as atribui ao "uso político e distorcido das informações para tentar defender o candidato de oposição ao governo".

A Gazeta do Povo teve acesso ao texto enviado por Guedes aos empresários. Nele, o ministro diz que, nos casos pontuais em que as universidades precisem de recursos, seus reitores podem procurar diretamente o MEC para uma solução. A mensagem também informa que a equipe da pasta e o ministro da Educação, Victor Godoy, recebem todos os reitores que solicitam reunião.

"O orçamento disponível para as unidades é maior que o orçamento de 2021. São R$ 930 milhões a mais neste para universidades e institutos federais em relação a 2021. Houve aumento e não redução do orçamento para as instituições federais de ensino", apontam trechos da mensagem. Segundo o texto, as universidades contam com R$ 537 milhões e os institutos com R$ 393,8 milhões a mais. Também é dito que as universidades receberam quase R$ 1 bilhão do Ministério da Ciência e Tecnologia com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

Quão importante é a atuação de Guedes para a campanha de Bolsonaro

As mensagens trocadas entre Guedes e os empresários sobre o orçamento do MEC ilustram sua atuação no período eleitoral. Afinal, a polêmica respingou na campanha de Bolsonaro, a ponto de aliados e coordenadores eleitorais tentarem contornar as críticas internas da base governista e da oposição. Ao rebater as acusações, empresários entendem que ele faz bem ao zelar pela credibilidade da gestão.

Diretor da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) e ex-presidente da União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs), George Pinheiro enaltece a gestão de Guedes e sua atuação no período eleitoral. Para o empresário, ele "vende confiança".

"Ele passa a confiança econômica de que tudo que está programado ele vai cumprir porque tem cumprido", sustenta. Para Pinheiro, os empresários absorveram bem a confiança que Guedes procura transmitir e entendem que, se reeleito, Bolsonaro insistiria na agenda de privatizações e reformas tributária e administrativa.

O relacionamento de Guedes com o empresariado e o mercado é importante para a campanha de Bolsonaro principalmente pelo atual momento eleitoral. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conquistou o apoio de economistas como Henrique Meirelles, Pedro Malan, Edmar Bacha, Persio Arida e Armínio Fraga.

A campanha de Lula entende que o apoio dos cinco economistas ajuda a melhorar a imagem do petista junto ao mercado e tranquilizar os agentes econômicos. Meirelles foi ministro da Fazenda na gestão Michel Temer e ex-presidente do BC no governo Lula. Malan foi presidente do BC e ministro da Fazenda no governo de Fernando Henrique Cardoso. Junto de Arida e Bacha, participou da equipe econômica que criou o Plano Real. Fraga, por sua vez, foi presidente do BC durante a gestão de FHC.

Guedes, por sua vez, usa do prestígio conquistado junto a empresários, banqueiros e investidores para convencê-los de que a melhor aposta é apoiar a continuidade da atual agenda e, consequentemente, a reeleição de Bolsonaro, diz Pinheiro.

"Ele continua sendo o grande avalista e estrategista econômico do governo. É ele quem deu o tom desse governo liberal e é homenageado no mundo inteiro como um dos melhores ministros no mundo. Então, sua participação nos eventos, grupos e atuação no período eleitoral não só fortalece o presidente, como ele sempre termina pedindo votos ao Bolsonaro", diz o ex-presidente da Unecs.

O que Guedes disse ao longo da campanha eleitoral

Na quinta-feira, Guedes teve suas primeiras agendas no segundo turno. Recebeu o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, e à tarde comunicou a imprensa sobre o envio de um "memorando inicial" para a ascensão do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O ministro da Economia aproveitou a ocasião para destacar os efeitos da agenda econômica do governo. Segundo ele, o Brasil será a única economia do mundo a compor a OCDE, o G-20 e os Brics, grupo que o país integra junto à Rússia, Índia, China e África do Sul. "Nós criamos mais empregos durante essa recuperação do fundo do poço até agora do que os Estados Unidos, economia mais flexível do mundo, a Alemanha e o Reino Unido juntos", declarou.

Ao longo da próxima semana, Guedes viaja aos Estados Unidos, onde participará das reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que ocorre entre 10 e 16 de outubro. Ele também comparecerá à quarta reunião de ministros das finanças do G20. Os encontros ocorrerão em 12 e 13 de outubro. As duas agendas serão em Washington.

A expectativa de Guedes e sua equipe econômica é que as agendas possam ser importantes para transmitir à campanha de Bolsonaro a imagem de credibilidade e prestígio do governo no cenário externo. A meta do ministro é reforçar a recuperação da economia brasileira acima de outras potências, inclusive da China.

O ministro tem destacado que, pela primeira vez em 42 anos, o Brasil vai crescer mais do que a China. Foi o que ele disse, por exemplo, em entrevista ao Flow Podcast, na terça-feira da semana passada (27). A participação de Guedes atendeu a um pedido da campanha de Bolsonaro para fortalecer o discurso junto ao eleitorado jovem, um público-alvo da candidatura.

Ao podcast, Guedes voltou a defender a agenda de privatizações em um novo mandato, inclusive da Petrobras; criticou as acusações da oposição sobre a condução do governo durante da pandemia, alegando que "as pessoas subiram em cadáveres para fazer política"; defendeu Bolsonaro e disse que, embora o presidente tenha "maus modos", frisou que ele tem "bons princípios" e "boas intenções".

Em fala aos jovens investidores no Flow, que contempla uma parcela do programa, ele também falou que a tecnologia blockchain terá um papel de destaque na digitalização e que será a responsável por "acabar com esse negócio de dinheiro de papel". Em participação no programa Pânico, da Jovem Pan, Guedes também rebateu os dados de que 33 milhões de pessoas passam fome no país, assim como fazem Bolsonaro e aliados políticos.

O que a campanha de Bolsonaro pensa da atuação do ministro

A atuação de Guedes durante as eleições é reconhecida pela campanha de Bolsonaro. A maioria entende que ele ajuda a complementar as estratégias ao levar o discurso econômico e político do governo a empresários, investidores e banqueiros. Também foi elogiado o fato de ele ter concedido a entrevista ao Flow Podcast a pedido do presidente e de estrategistas eleitorais.

Porém, uma parcela da campanha criticou o envio do projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2023 com verbas apenas para o Auxílio Brasil de R$ 405, e não de R$ 600, como prometeu Bolsonaro, e com um corte de 60% dos recursos do programa Farmácia Popular.

Em 14 de setembro, Guedes disse que Bolsonaro publicará uma mensagem reelaborando o Orçamento, o que permitirá acomodar o programa da Farmácia Popular. A resposta do ministro não aliviou o incômodo gerado entre alguns na campanha.

Os críticos de Guedes entendem que o corte do programa Farmácia Popular e o Auxílio Brasil inferior aos R$ 600 prometidos deram "munição" para a oposição criticar Bolsonaro no primeiro turno. Para essa ala, faltou "tato político" e melhor coordenação do ministro sobre a elaboração do PLOA 2023.

A equipe econômica se defende e aponta que Bolsonaro sempre deu a Guedes a autonomia para atuar de forma técnica. Interlocutores apontam que a pasta enfrentou desafios para viabilizar no Orçamento de 2023 todas as promessas de campanha mesmo sem plano e previsão orçamentária para todas as medidas encampadas, como o Auxílio Brasil de R$ 600.

Aliados da equipe econômica no Congresso admitem que a PLOA 2023 foi mais técnica do que política, mas defendem a atuação de Guedes na campanha eleitoral e pontuam que a discussão do Orçamento é uma responsabilidade do Congresso. Para alguns, é injusto criar uma narrativa eleitoral para apontar críticas ao ministro.

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