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pesquisas eleitorais
O ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) são candidatos a presidente nas eleições 2022| Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE; Joédson Alves/EFE

Uma pesquisa do PoderData sobre as eleições presidenciais (veja metodologia abaixo) apontou que 23% dos eleitores que votaram em Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno em 2018 pretendem votar em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022. O dado chama a atenção: como um eleitor pode ter mudado sua preferência entre candidatos tão diferentes?

O PoderData não divulgou dados detalhados sobre essas pessoas, como idade, renda ou grau de escolaridade. Mas analistas políticos ouvidos pela Gazeta do Povo apontaram possíveis explicações para o fenômeno.

Um diagnóstico é unanimidade entre os especialistas: os eleitores que compõem esses 23% não são ideológicos. Marcia Ribeiro Dias, professora e pesquisadora da Escola de Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), classifica-os como “pragmáticos”.

“São pessoas que estão mais vinculados à vida real, às suas dificuldades cotidianas. Elas votam de acordo com a sua realidade, e não por ideologia”, diz.

Os analistas salientam, porém, que as pesquisas eleitorais medem o cenário de momento e o quadro pode mudar.

Por que esses eleitores votaram em Bolsonaro em 2018?

Em 2018, esse percentual do eleitorado optou por Bolsonaro movido, principalmente, por um sentimento de antipetismo. Segundo Rodolfo Costa Pinto, diretor de pesquisas do PoderData, provavelmente eram pessoas que “não conheciam Bolsonaro”, e que votaram nele “mais por não querer votar no [Fernando] Haddad [candidato do PT nas eleições presidenciais de 2018]”.

Para Nara Pavão, professora de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é justamente pelo componente antipetista que o dado apontado pela pesquisa “não é uma grande surpresa”.

A professora explica que o eleitorado de Bolsonaro em 2018 era constituído por dois grandes grupos. O primeiro era de pessoas que se identificavam profundamente com os valores defendidos pelo atual presidente, ou seja, eleitores convictos, que tinham em Bolsonaro a sua primeira opção. No segundo grupo estavam aqueles que não queriam o PT de volta ao poder – e, por isso, optaram pelo então candidato do PSL.

“Bolsonaro trabalhou, em 2018, nessas duas frentes: construindo uma identidade dos eleitores com relação a ele, baseada no conservadorismo e em uma postura antissistema, e usando um discurso antipetista. Com isso ele falou para esses dois grupos distintos”, afirma Pavão.

De acordo com a professora, os eleitores que de fato se identificam com Bolsonaro não mudaram de ideia. Mas o segundo grupo não tem uma identidade forte e, por isso, é “normal que se reposicione entre uma eleição e outra”.

Desilusão com Bolsonaro e memória positiva de Lula

Mas como um sentimento antipetista deu lugar à preferência por Lula, o maior nome do PT?

De um lado, o desapontamento com o desempenho de Bolsonaro no governo ajuda a explicar essa mudança de posição, avalia Silvana Krause, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e secretária-geral da Abrapel (Associação Brasileira de Pesquisas Eleitorais).

Inflação alta, deterioração da renda de trabalhadores e a postura do presidente em relação à pandemia de coronavírus são fatores que podem ter contribuído para esse sentimento de desilusão.

“Isso tudo faz com que esse eleitor puxe na memória o tempo em que viveu com mais prosperidade. [Durante os governos de Lula] o país teve redução da desigualdade e a incorporação de uma classe média, que vinha ascendendo para uma situação melhor. Os eleitores têm essa memória de um bom momento e atribuem isso ao Lula”, analisa Dias, da Unirio.

Ao mesmo tempo, houve um declínio do sentimento de antipetismo, associado à anulação das condenações de Lula, ao enfraquecimento da Operação Lava Jato e ao desmonte do combate à corrupção, decorrentes de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso.

“Os temas eleitorais são cíclicos, e o tema da corrupção está em baixa hoje em dia. Saturou, as pessoas não estão prestando atenção nisso”, diz Pavão, da UFPE.

Lulismo x petismo

E, se a rejeição ao PT caiu entre 2018 e 2022, também contribui para o cenário o fato de que Lula tem uma imagem própria, maior do que a do partido, ainda que entrelaçada com a da agremiação.

O mesmo não ocorreu em 2018, quando Haddad e sua vice, Manuela D’Ávila (PCdoB), eram predominantemente desconhecidos dos eleitores – o que tornava a reputação do PT algo ainda mais importante.

“O Lula tem uma imagem muito maior do que a do PT. E o PT parece não ter conseguido formar lideranças depois do Lula”, afirma Costa Pinto, do PoderData.

Cenário em aberto

As pesquisas eleitorais medem o cenário de momento. E, com a campanha ainda por começar, o quadro pode mudar.

O diretor de pesquisas do PoderData diz que o aumento do valor do Auxílio Brasil, por exemplo, pode dar alguma percepção de melhora para o eleitor, recuperando votos para Bolsonaro.

“Para o eleitor médio o pleito não começou ainda. Quando a campanha começar a gente pode ver um retorno dessas pessoas [para Bolsonaro] ou então um crescimento ainda maior do Lula”, diz Costa Pinto.

Metodologia da pesquisa do PoderData

O levantamento do PoderData, que contratou a própria pesquisa, ouviu 3 mil eleitores em 317 municípios das 27 unidades da federação entre os dias 3 e 5 de julho de 2022. As entrevistas foram feitas por telefone, para fixos e celulares. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. Foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-06550/2022.

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