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Tarcísio (à dir.) anunciou pré-candidatura de Pontes (à esq.)
Tarcísio (à dir.) anunciou pré-candidatura de Pontes (à esq.)| Foto: Reprodução/Twitter

No último final de semana, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), pré-candidato ao governo de São Paulo, anunciou que Marcos Pontes (PL), ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, deve integrar sua chapa como pré-candidato ao Senado. “Time de Jair Bolsonaro [PL] completo!”, escreveu Tarcísio em uma rede social. 

O anúncio colocou fim a semanas de indecisão. No final de junho, o apresentador Datena, que tinha o apoio do presidente, se retirou da disputa. Com isso, outros quatro nomes disputavam o lugar no palanque de Bolsonaro e Tarcísio: a deputada estadual Janaína Paschoal (PRTB); a deputada federal Carla Zambelli (PL); o deputado federal Marco Feliciano (PL); e o empresário Paulo Skaf (Republicanos).

Pesquisa do Real Time Big Data (veja metodologia abaixo), realizada no começo de julho, mostrava Janaína, Zambelli, Skaf e Pontes com desempenho semelhante. No cenário com Janaína, o escolhido de Bolsonaro tinha 8% das intenções de voto, contra 14% da deputada. Pela margem de erro de três pontos percentuais, ambos estão tecnicamente empatados.

Empates técnicos também apareceram nos cenários com Janaína (13%) e Skaf (12%); e Janaína (14%) e Zambelli (8%). Em todos os casos, Márcio França (PSB), candidato apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e por Fernando Haddad (PT), era quem liderava, com mais de 20% das intenções de voto nos cenários testados.

Por que Marcos Pontes foi o escolhido?

Skaf já vinha sendo escanteado por Bolsonaro. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o empresário afirmou haver um “ressentimento” do presidente por ele ter se aproximado de Márcio França e Geraldo Alckmin (PSB) no final do ano passado. Os demais concorrentes, no entanto, ainda estavam no páreo.

Maria Teresa Kerbauy, professora da Unesp (Universidade Estadual Paulista) no campus de Araraquara, afirma que a escolha de Marcos Pontes para compor a chapa tem relação com uma estratégia para alavancar a candidatura de Tarcísio.

Ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações no governo Bolsonaro, Pontes é de Bauru, interior do estado. E justamente os votos do interior, que é mais conservador, podem ser decisivos na eleição em São Paulo. 

Segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral do estado (TRE-SP), são 9,3 milhões de eleitores na capital, frente a 25,3 milhões nos demais municípios. 

“O Pontes conhece o interior do estado, enquanto a Janaína e a Zambelli teriam dificuldade [nessa região]. [...] O fato de ele estar vinculado ao Bolsonaro pode trazer um percentual significativo de votos. Acho que a intenção era essa, de ter o Marcos Pontes [como candidato] para ajudar o Tarcísio a aumentar sua votação no interior”, diz a professora.

A mesma pesquisa do Real Time Big Data mediu a intenção de voto dos eleitores para governador em São Paulo. Segundo o levantamento, Haddad lidera a disputa, com 34% da preferência. Tarcísio e Rodrigo Garcia (PSDB) estão tecnicamente empatados pela margem de erro, com 20% e 16%, respectivamente.

Zambelli e Feliciano puxam votos para deputado

A opção por Marcos Pontes tem relação, também, com a disputa por vagas na Câmara dos Deputados. Como têm bom desempenho, Zambelli e Feliciano podem ser bons puxadores de votos, ajudando a aumentar o número de cadeiras para apoiadores de Bolsonaro no Congresso.

“Essa vai ser a primeira eleição nacional em que não teremos partidos podendo fazer coligações para cargos proporcionais. No caso do PL é muito estratégico que a Carla Zambelli seja uma puxadora de votos na Câmara. O mesmo vale para o Marco Feliciano, que é do Republicanos. Apesar de ele ser muito próximo do presidente, pode ser mais útil para o partido nessa disputa da Câmara”, diz Lucas Fernandes, coordenador de análise política da BMJ Consultores Associados.

O fim das coligações nas eleições proporcionais foi aprovado no Congresso em 2017. Agora, podem ser feitas apenas federações, que precisam valer não só para as eleições, mas sim por toda a legislatura.

Janaína vai desistir?

No caso de Janaína, sua postura por vezes crítica a Bolsonaro pode ter ajudado a deixá-la de fora da chapa de Tarcísio. Em 2020, a deputada chegou a afirmar, no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo, que Bolsonaro deveria sair da Presidência por estar sendo omisso frente à pandemia de Covid-19.

Uma possível candidatura de Janaína Paschoal, porém, ainda não está descartada. Segundo Fernandes, a deputada “tem sido muito independente”. 

“O PRTB [partido ao qual Janaína é filiada] não tem muito a perder. Por isso é provável que ela continue na disputa, a menos que ela avalie que valha a pena tentar um cargo de deputada para manter o mandato”, diz o analista. 

No sábado (23), quando Tarcísio anunciou a candidatura de Pontes, Janaína fez uma série de postagens no Twitter afirmando que seguia pré-candidata.

"Quando Datena era pré-candidato, o discurso do Ministro Tarcísio para apoiá-lo era o de que ele tinha uma elevada expectativa de votação na população menos favorecida e traria votos à chapa. Com a desistência, vários nomes foram ventilados e, hoje, o pré-candidato foi anunciado", escreveu Janaina, que continuou:

"Antes desse anúncio, recebi pedidos para desistir e até mesmo um convite para ser suplente. Recusei o pedido e o convite. Hoje, para tratar de uma série de questões, passei grande parte do dia na sede do PRTB. Uma vez mais, tive a garantia da legenda, sigo pré-candidata ao Senado".

A deputada também questionou o ex-ministro. “Quem fez do professor Marcos Pontes ‘o astronauta’ foi Lula! Ele conseguirá fazer oposição firme em caso de eleição do ex-presidente? O Senado deve ser pensado para todos os possíveis cenários. Falo respeitosamente, claro”, escreveu.

Caso Pontes e Janaína sejam mesmo candidatos, o voto conservador pode acabar dividindo, afirma o analista da BMJ. Com isso, quem se beneficiaria seria o candidato da esquerda, Márcio França.

Metodologia da pesquisa citada

A pesquisa encomendada pela Record TV ao Instituto Real Time Big Data entrevistou 1,5 mil pessoas, entre os dias 8 de julho e 9 de julho. A margem de erro do levantamento é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número SP-05804/2022.

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