
No ano em que o rádio é transmitido pela primeira vez no Brasil e enquanto o mundo ainda se recupera da Primeira Guerra Mundial, dois advogados decidem fundar um novo jornal em Curitiba capital com pouco menos de 78 mil "almas", conforme o censo do ano seguinte. Dispostos a criar um veículo popular e independente, Benjamin Lins e De Plácido e Silva deixam claro a que vieram: "Não temos, pois, que attender a melindres pessoaes; não temos que attender a interesses particulares; o facto, uma vez que interesse à collectividade, é um dado positivo de sua vida; deve ser conhecido, divulgado, analisado, commentado, para que delle se possa retirar as utilidades que for capaz de produzir", dizia o editorial da primeira edição da Gazeta do Povo, de 3 de fevereiro de 1919.
A ideia original era fundar uma revista jurídica, até se convencerem de que os curitibanos precisavam mesmo era de um jornal combativo, que "quebrasse a unanimidade da imprensa oficiosa do jornalismo curitibano de então", como depois seria revelado em reportagem de 1935, referente ao 16º aniversário da Gazeta.
Definido o lançamento do diário, a dupla foi em busca do apoio financeiro de proprietários de erva-mate e indústrias madeireiras. Com a cooperação de um grupo que incluía intelectuais como David Carneiro, o empresário Agostinho Leão Júnior e outros nomes ilustres, fundaram a Plácido e Silva & Cia. Ltda., a primeira sociedade por cotas de responsabilidade limitada surgida no país. A sede do jornal ficava no antigo prédio da família Taborda Ribas, na Dr. Muricy, 95, entre a Rua XV de Novembro e a Praça Zacarias. As notícias chegavam por telégrafo e o jornal era composto manualmente pelo método tipográfico. Mas a Gazeta não cumpria apenas com seu papel de imprensa. Ela movimentava também os meios científicos e literários do Paraná, com a impressão de revistas e livros, como "Pautas Ferroviárias", de Eugênio da Gama e "Sonatinas Morosas", de Rodrigo Júnior.
No jornal, não era comum os redatores assinarem as matérias, o que dificulta hoje a identificação exata dos colaboradores da Gazeta naquele tempo, mas em 1921 já eram conhecidos os repórteres Silva Pereira, Dirceu Lacerda, Carlos Rubens, Ernani Cartaxo e Acir Guimarães. Nesse mesmo ano, Benjamin Lins deixa o cargo de diretor, Guimarães assume a chefia de redação e Cartaxo torna-se o redator-secretário. Em 1923, De Plácido e Silva transfere a Gazeta do Povo para novo endereço, no coração da Rua XV.



