• Carregando...
Detalhe da cobertura da chegada do homem à Lua, em 1969 |
Detalhe da cobertura da chegada do homem à Lua, em 1969| Foto:

"A Terra é azul!", exclamou a velhinha polonesa enquanto lia o jornal na varanda de casa, no bairro do Abranches, em Curitiba. Naquele meio de mundo cercado de mato e distante do centro de Curitiba (estamos em abril de 1961), a história da "ida ao céu" de Yuri Gagarin soava um tanto irreal. Mas havia saído na Gazeta do Povo!

Por via das dúvidas, releu a notícia com o filho, que estava muito mais interessado no campeonato paranaense de futebol que começaria em 11 dias. E que seria vencido pelo pouco conhecido Esporte Clube Comercial, de Cornélio Procópio. Em alguns meses, Berlim, capital da Alemanha, estaria dividida por um muro, o planeta seria assombrado pelo risco de uma guerra nuclear e o presidente Jânio Quadros renunciaria.

Em um mundo polarizado pela Guerra Fria, o Abranches – como, aliás, boa parte de Curitiba – ainda vivia em ritmo lento, pautado pelas estações e colheitas de hortigranjeiros. Mas chegar à era da velocidade era apenas uma questão de tempo.

Naquele momento, a segunda fase da Gazeta do Povo estava começando: em 1962, a empresa foi adquirida por Francisco Cunha Pereira Filho e Edmundo Lemanski das mãos do jurista De Plácido e Silva. O desafio era tornar o veículo mais adequado a um estado que caminhava para a industrialização. "Foi nessa época, durante o governo de Ney Braga, que o Paraná ensaiava algo diferente em termos econômicos", observa o historiador Dennison de Oliveira, professor da Universidade Federal do Paraná. Não que antes as indústrias não existissem por aqui – os engenhos de erva-mate eram a melhor prova disso –, mas, pela primeira vez, pensava-se em algo fora da economia extrativista ou da agricultura tipo plantation.

Catorze anos depois, em 1976, o valor da produção industrial paranaense superaria pela primeira vez o valor da produção agrícola. E Curitiba consolidaria-se como uma das maiores cidades do país. "Esse período também é marcado, no Brasil e no Paraná, pela implantação de uma indústria cultural que viabilizaria o jornalismo de massa, mais apoiado na venda de exemplares e na publicidade do que apenas e tão-somente nas verbas de governo", diz Dennison de Oliveira.

Pauta recheada

Foi em 1966 que o jornalista e hoje professor de Comunicação Walter Schmidt começou a trabalhar na Gazeta do Povo. De seus primeiros anos na profissão, lembra de algumas coberturas notáveis, como a de um acidente ocorrido na Serra do Mar com um avião da Sadia em 1967 e do afundamento de um trecho urbano de Guaratuba em 1968. "Naquela época, os jornais eram uma fonte primária de informação. Hoje, por conta das outras mídias, são mais formadores de opinião."

Em termos nacionais e globais, aquela fase também foi marcada pelo início dos "anos de chumbo" no Brasil, pela guerra do Vietnã, pelo movimento hippie, pela Revolução Cultural na China e pelos protestos de estudantes em Paris.

E de que forma a Gazeta respondeu a pautas tão desafiadoras? Para Schmidt, inovando. "O Dr. Francisco queria dar uma cara nova e conseguiu. Transformou a Gazeta em um grande jornal, numa época em que o Paraná já tinha jornais importantes", avalia. Até 1983, o mundo testemunharia muitos outros fatos extraordinários, como a Guerra das Malvinas e os "ensaios em eletrônica" de um adolescente chamado Bill Gates.

A seguir, você lê (ou relê) algumas das principais notícias da segunda fase da Gazeta do Povo. O período abrange guerras, uma revolução na cultura, a ditadura e os primeiros passos da redemocratização no Brasil. Abrange, também, uma nova etapa de transformação urbana em Curitiba, que tornou a cidade mais próxima de como a conhecemos hoje – e mais distante da cidade dos velhos carroções de verduras dos imigrantes do Abranches.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]