
Bairristas como os que mais o sejam, os lapeanos sentem um enorme e justificado orgulho pelo fato de serem lapeanos. E tem mais: herdeiros de seus pais, avós e bisavós, filhos, netos e bisnetos de lapeanos nutrem o mesmo sentimento por aquele pedaço de chão paranaense.
E repetem o refrão de que a Lapa, palco da Revolução Federalista da última década do século 19, "salvou o Paraná". Seus heróis são cultuados, e sempre citados os filhos ilustres que a "Legendária" deu ao estado e ao país.
A dizer: Ubaldino do Amaral Fontoura; Flávio Suplicy de Lacerda; Ney Aminthas de Barros Braga; Victor Ferreira do Amaral e Silva; Hypólito Alves de Araújo; coronel João da Silva Sampaio; Bonifácio José Batista, o barão de Monte Carmello; David dos Santos Pacheco, o barão dos Campos Gerais; Manoel Pedro dos Santos Lima; Francisco Brito de Lacerda; deputado Joaquim Linhares de Lacerda; desembargadores Emydgio Westphalen e Antônio de Paula; Francisco Alves Guimarães; Frederico Faria de Oliveira; Ernesto de Oliveira; Octávio do Amaral e Silva; presidente (da Província do Paraná) Joaquim d'Almeida Faria Sobrinho; dr. Eduardo Virmond Lima; Joaquim Lacerda e João Antônio Ramalho heróis do Cerco da Lapa (17 de janeiro a 11 de fevereiro de 1894).
Um dos mais destacados, sem dúvida, foi João Cândido Ferreira. Filho do capitão João Cândido Ferreira e de dona Anna Leocádia Ferreira, nasceu em 21 de abril de 1864. Conheceu as primeiras letras na sua Lapa natal. Depois de passar pelo afamado Colégio Sagrado Coração de Jesus, de Sorocaba, São Paulo, seguiu o caminho de tantos jovens talentosos da época: em 1883, foi estudar no Rio de Janeiro, onde cursou humanidades no Colégio Alberto Brandão e, com brilho, em 1888, aos 24 anos, formou-se médico pela Faculdade de Medicina da então capital federal.
Ao voltar para o Paraná, em 1892, exerceu o cargo de prefeito de sua cidade natal. Eleito deputado do Congresso Legislativo do Estado, em 1896, reelegeu-se para a legislatura seguinte e, em 1901, teve seu nome sufragado para ocupar uma cadeira na Câmara Federal, como representante paranaense.
Quando vice-presidente do estado do Paraná, ocupou a presidência substituindo dr. Vicente Machado da Silva Lima. Em 20 de outubro de 1907, sem competidor, foi eleito presidente do Estado; mas renunciou ao mandato foi dos mais comentados, e admirados, o manifesto através do qual justificou seu gesto demissionário.
Além de livros e trabalhos sobre os mais diversos aspectos da Medicina, que exerceu com brilhantismo, foi também autor de apreciado estilo. Entre o muito que publicou, tem destaque Gomes Carneiro e o Cerco da Lapa.
A atuação do médico João Cândido foi ímpar, tendo prestado inestimáveis serviços aos patriotas que combateram no Cerco da Lapa. Foi ele, aliás, quem atendeu ao general Antônio Ernesto Gomes Carneiro em seus últimos momentos de vida.
João Cândido foi membro da Academia Nacional de Medicina, da Sociedade Médica do Paraná e do Centro de Letras do Paraná. Destacado membro da Universidade do Paraná desde sua fundação juntamente com seu cunhado Victor Ferreira do Amaral e Silva foi professor catedrático e diretor da Faculdade de Medicina.
Aos 84 anos, no dia 20 de fevereiro de 1948, faleceu em Curitiba, onde residia com sua família. Casado com dona Josepha do Amaral Ferreira irmã de outro ilustre lapeano, o dr. Victor Ferreira do Amaral , teve os filhos Alceu, Leônidas, João Cândido, Murilo, Agenor, e uma única mulher, Julinda, gêmea de seu irmão Celso. De seus muitos netos, um dos preferidos assim reconhecido pelos demais familiares, sem qualquer resquício de ressentimento sempre foi Francisco, o filho mais velho de sua filha Julinda casada com o advogado, depois juiz e desembargador, Francisco Cunha Pereira, de tradicional família mineira.
Menino que muitas alegrias deu ao avô coruja, estudante que se destacou nas lides acadêmicas, era o companheiro com o qual a diferença de idade não impedia uma íntima camaradagem por exemplo, juntos, ouviam programas da Rádio Guairacá, inaugurada em outubro de 1947 e transmitidos diretamente de seu auditório.
Com tanta intimidade, não é de causar estranheza que o menino/adolescente/jovem aprendesse também a amar a Lapa, como se lá tivesse nascido. Adulto, transformado em notável empresário da área de comunicação, ao longo de seu comando em jornais, televisões, rádios, Francisco Cunha Pereira Filho sempre tem dado à "Legendária" lugar de merecido destaque. Nem é preciso que o "patrão" recomende ou dê ordem a respeito: é algo sobre a Lapa? Então está implícito ser o fato, a notícia, merecedores de uma foto caprichada na Gazeta, de boas imagens na telinha das televisões, de chamadas nos noticiários de emissoras de rádio.
A respeito, a jornalista foi testemunha e partícipe do seguinte ocorrido: em seus primeiros meses na Redação da Gazeta (onde ingressou em princípios de 1977), responsável pela página de Turismo, quis registrar o aniversário da Lapa (a 13 de junho) e não encontrou, no arquivo do jornal, fotos boas, usando então algumas de seu arquivo particular, fato que relatou ao dr. Francisco. No mesmo dia, ele mandou que dois fotógrafos (um com filme colorido e outro com filme preto-e-branco em suas câmeras) se deslocassem até aquela cidade, enriquecendo o arquivo fotográfico com atualíssimo e excelente material ilustrativo.




