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José Dirceu de Matos (sentado, à direita) e a equipe que administra a CIC: bairro de 172 mil pessoas é campeão em participação popular. Ao lado de Matos, da direita para a esquerda: Caroline Krebsbach (Saúde); Rosine Lopes (Trabalho); e Dione Maria Oliveira dos Santos (Conselho Tutelar). Em pé, na mesma ordem, Guatemozin de Oliveira Santos (Esporte e Lazer); Adriano Laurindo (Educação); Solange de Fátima Ilivinski (FAS); Vanilda Arndt (Finanças); e Carla de Fátima Chandelier (Urbanismo) | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
José Dirceu de Matos (sentado, à direita) e a equipe que administra a CIC: bairro de 172 mil pessoas é campeão em participação popular. Ao lado de Matos, da direita para a esquerda: Caroline Krebsbach (Saúde); Rosine Lopes (Trabalho); e Dione Maria Oliveira dos Santos (Conselho Tutelar). Em pé, na mesma ordem, Guatemozin de Oliveira Santos (Esporte e Lazer); Adriano Laurindo (Educação); Solange de Fátima Ilivinski (FAS); Vanilda Arndt (Finanças); e Carla de Fátima Chandelier (Urbanismo)| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Diversidade

Existem diversas "CICs" dentro da mesma Cidade Industrial: Acompanhe:

CIC Histórica

Surge em 1966, com a inauguração da primeira Cohab do Paraná e a terceira do Brasil – a Vila Nossa Senhora da Luz. Com 2,6 mil casas, a vila padeceu com o isolamento inicial, o que favoreceu a criminalidade. Ao se tornar CIC, em 1973, "perdeu-se" na imensidão do bairro. O sonho de tê-la independente é antigo. O Ippuc nega que haja esta possibilidade. Pela antiguidade, também podem fazer parte do núcleo histórico os conjuntos Oswaldo Cruz I e II e a Vila Verde.

CIC Cohab

Depois da Nossa Senhora da Luz, a CIC se tornou um terreno fértil para os conjuntinhos, de todas as formas e tamanhos. Impossível decorar: Vera Cruz, São Nicolau, Trianon, Flamboyant... Eles se dividem por boa parte das 83 áreas que formam o grande bairro – são 114 Cohabs ao todo, abrigando 23.858 famílias. Algumas delas, a exemplo do Conjunto Caiuá, são apontadas como o que de melhor se fez em habitação popular na capital. No Caiuá existem moradias de vários tamanhos, com previsão de comércio e lazer, e várias vias de acesso. O conjunto nasceu de gestão comunitária, outra particularidade. Vitorioso, o modelo, contudo, deixou de ser aplicado.

CIC loteamentos

A ideia de "um terreninho na CIC" não mora no passado. Os loteamentos populares também fazem parte dessa imensidão de 43 milhões de metros quadrados. A citar: Conjunto Residencial Marechal Rondon; Parque Verde, Moradias Vilas Novas, Visconde de Mauá.

CIC ocupações

O bairro soma 54 áreas de ocupação irregular, num total de 12.872 domicílios. Equivale a 20% da zona favelizada de Curitiba. Há pelo menos 12 áreas em regularização, como Nova Conquista, Harmonia e Cruzeiro do Sul. Entre as sem regularização pode-se citar o Morro da Esperança e o Morro do Juramento – entre outras áreas problemáticas.

CIC industrial

Estima-se que 55 empresas das 121 instaladas na CIC em 1975 ainda continuam ativas. No total, a região abriga 7.991 empresas, divididas em indústria (21%), comércio (46%) e serviços (32%). As empresas geram, formalmente, 28 mil empregos diretos e 79 mil indiretos.

CIC comercial

Não é o forte da região. O bairro ainda padece pela ausência de grandes redes de supermercados, farmácias e bancos – concentrados no entorno do equipamento da prefeitura, debaixo da vigilância de policiais e seguranças. Mas já se pode dizer que o bairro tem seus "centrinhos", como as Ruas Pedro Gusso, Raul Pompeia, Cid Campelo, João Bettega, Antônio Pastre, Eduardo Sprada e Herecê Fernandes. O grau de informalidade é altíssimo em vilas como a Sabará.

CIC verde

O bairro tem áreas de bosque, mas são pouco atraentes. Pode-se citar o Bosque do Trabalhador, parte do Passaúna, áreas de chácara nas Vilas Riviera, Augusta e São Miguel, Bosque Getúlio Vargas, Bosque São Nicolau, Parque dos Tropeiros e áreas entre Diadema e Caiuá. O Parque Mané Garrincha – dos mais frequentados – está sujeito a enchentes e é palco da criminalidade. Ao todo, são 95 áreas de lazer, entre parques, praças, bosques, jardinetes e eixos de animação. O número representa 7,42% de área verde da cidade.

Extensão territorial

Imensidão de ontem já não tem sentido hoje

Tudo na CIC é superlativo. Pela extensão, é o único bairro que pertence a duas regiões: a zona oeste e a zona sul. Para poder ser administrada, teve de ser dividida em CIC Norte, CIC Central e CIC Sul. Gigante pela própria natureza, afoga-se na poeira de seus 257 quilômetros de antipó e 48 quilômetros de cobertura de saibro. Sim, a CIC tem só 106 quilômetros de ruas pavimentadas.

Mesmo assim, a prefeitura não pensa por ora em repartir toda essa imensidão em bairros menores, um privilégio da maioria das 75 áreas da cidade. Ricardo Antônio Bindo, cooordenador-geral do Ippuc, argumenta que a CIC nasceu para impulsionar o desenvolvimento econômico e industrial de Curitiba, e que o tamanho de hoje segue um pensamento de ontem. Não se trata, diz Bindo, de fazer revisionismos ou mea culpa, mas de falar em estudos de adequação para a região.

É compreensível que se fale pouco de urbanismo por lá. A CIC – apesar da média de 1,4 mil veículos que afogam cada uma de suas principais ruas nas horas de pico, fazendo-a barulhenta e desconfortável – está afundada mesmo é na violência. Não se pensa noutra coisa. Foram 112 mortes desde o início do ano. "Cerca de 90% dos nossos problemas dizem respeito à droga", reconhece o administrador da Regional CIC, José Dirceu de Matos.

  • A Cidade Industrial abriga 10% da população de Curitiba. Confira

Nos idos de 1973, uma parcela de curitibanos estufava o peito para dizer que morava na Cidade Industrial, a CIC, ou "o CIC", então o mais novo bairro saído das pranchetas do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). O logradouro era uma espécie de promessa de revolução proletária. Próximo do Portão, Capão Raso, Novo Mundo e Pinheirinho – regiões com tradição em abrigar vilas operárias –, a nova planta surgia com ares de prosperidade.

Ali poderiam se abrigar os curitibanos recém-chegados, livrando a capital de um medo que a assombrava desde meados da década de 1950 – a favelização, vingada en­­tão em áreas como Capanema, Pa­­rolin de Baixo e fundos do Santa Quitéria, ou "Inferninho". Além do mais, os "novos curitibanos" não eram poucos. Vinham do Nor­­te, expulsos das lavouras de café, principalmente a partir de 1975, e precisavam habitar como gente.

A capital só fez crescer – 68% apenas naquela década. A CIC, claro, pagou a conta: teve de abrigar os conjuntinhos dos sonhos de casa própria, e também as favelas, os loteamentos clandestinos, as fábricas e tudo mais. Em quase 40 anos, os entusiastas que ali chegaram se viram atropelados pelo crescimento que ultrapassava 5% ao ano, varrendo muitos capões bonitos. Viraram cinzentos entornos de fábricas, sem infraestrutura que chegasse e sem uma via de porte que lhe desse algum respiro e importância. Junto do isolamento cresceu a violência. Um alvoroço – mas só para quem morava lá.

Para agravar, a CIC permaneceu invisível para a Curitiba que vive bem e tem serviços na própria quadra. E ser invisível se tornou parte de sua tragédia. Extenso, diverso e com crescimento acelerado, o bairro é quase uma abstração, não havendo similares na cidade. Não há como associá-lo com vizinhos, a exemplo do que se faz com a Boa Vista e o Santa Cândida. Não tem um marco – seja uma praça, uma igreja ou uma via que o identifique, fazendo por ela o que a Rápida e a República Ar­­gen­­tina fizeram pelos bairros com os quais a CIC a princípio queria se parecer. Espera-se pela Conectora 5. No dia em que sair dos planos, quem sabe.

Não bastasse, com a CIC se deu o contrário do que aconteceu nos anos 1990 com outra abstração – o Bairro Novo. Propagandas na tevê, nos outdoors, e o entusiasmo do então prefeito Rafael Greca criaram uma imagem positiva da antiga plantação de grama transformada em zo­­na de mo­­ra­­dia.

A Cidade In­­­­dustrial con­­tinuou sendo fa­­­lada com tin­­­­tas no noticiário po­­licial, aumentando seu es­­­tigma – além de distante, violenta. "A população se acostumou com isso e com todos os ou­­tros problemas. Ques­­tão de sobrevivência", pondera o engenheiro florestal Fernando Guedes, secretário municipal de Relações com a Comunidade.

"É um bairro fabricado, sem uma estrutural, a exemplo dos outros bairros. Talvez a CIC se pa­­reça com o Cajuru, mas não muito", avalia o arquiteto e urbanista Reginaldo Reinert, assessor de Planejamento do Ippuc, na busca de alguma imagem e semelhança para a região. Ambos cresceram de forma desenfreada. Ambos não têm cara própria. Por enquanto, é problema sem saída.

Região cresce abaixo da média da cidade

De acordo com o arquiteto Reginaldo Reinert, na gestão do ex-prefeito Cassio Taniguchi pensava-se em "dar um banho de loja na CIC", criando praças e reduzindo a cara de zona industrial mal planejada. Mas o projeto não foi adiante. O Ippuc já aventou a possibilidade de reduzir a CIC de tamanho, evitando que um coordenador de regional tenha de cruzar 15 quilômetros para resolver um problema. "Mas, por ora, o que se pode fazer é manutenção do que já existe", acrescenta o arquiteto, admitindo uma brincadeira: um lugar assim é um presente ou uma tormenta para os urbanistas. Talvez a segunda opção.

Mas sem pânico. De acordo com Reinert, a "compressão" da CIC tende a diminuir. A regional que a abriga é a sexto em ritmo de crescimento. O bairro, em si, move-se na casa do 1,3% ao ano, abaixo da média da cidade. E há a ascensão da classe C, majoritária na região. No momento ela cuida de sua casa – colocando tevês e estofados. A depender dos modelos urbanos em que se espelhar daqui em diante, pode se incomodar com o que vê da porta para fora e desejar mudar de cara. Arrisca, um dia, a CIC trocar até de nome. Seu espelho, então, pode ser a zona industrial de Joinville. Na melhor das hipóteses.

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