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Claudete Bezerra estabeleceu uma relação de amizade e confiança com uma vizinha. Juntas, elas compartilham a responsabilidade pela segurança de suas casas | Antônio Costa/ Gazeta do Povo
Claudete Bezerra estabeleceu uma relação de amizade e confiança com uma vizinha. Juntas, elas compartilham a responsabilidade pela segurança de suas casas| Foto: Antônio Costa/ Gazeta do Povo

Dicas

Pequenos detalhes podem fazer toda a diferença quando o assunto é a segurança do lar. Confira algumas dicas do major Antonio Zanatta Neto, da Polícia Militar:

- Não comente com pessoas estranhas que você vai viajar. Procure avisar somente os mais próximos e deixe um número para contato.

- Cancele o envio de jornais e revistas e peça a alguém para pegar as correspondências na caixa de correio.

- Não deixe dinheiro ou joias em casa. Alguns bancos possuem cofres para essa finalidade.

- Não deixe a luz acessa ininterruptamente e deixe um parente ou vizinho encarregado de olhar a casa.

- Em períodos prolongados de férias, contrate alguém para fazer a jardinagem e tirar o aspecto de abandonado do local.

- Evite deixar o cadeado virado para o lado de fora. Coloque trancas reforçadas em portas e janelas.

- Lembre os vizinhos de que não há o desejo da família se mudar. Já houve casos em que um caminhão chegou e levou toda a mobília da casa.

Exemplo

Em Cuba, fiscais cuidam de ruas

Recentemente, o sociólogo Lindomar Boneti esteve em viagem por alguns países e, em Cuba, percebeu uma situação que seria interessante tomar como modelo em termos de segurança pública. Ele conta que no país caribenho cada quadra tem uma pessoa responsável por saber quem mora por ali. É uma espécie de fiscal de rua, algo equivalente com os líderes comunitários que temos no Brasil. Essa pessoa tem a noção clara do que os moradores fazem. "É um procedimento institucional. O próprio Estado criou essa situação, mas não deixa de ser um bom exemplo a ser seguido por nós", completa.

Interatividade

Como é a relação entre a sua vizinhança?

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Confiar a chave de casa a alguém que não pertence à família nem sempre é fácil. Especialistas dizem que vizinhos e colegas de trabalho pertencem ao chamado grupo de laços fracos de relacionamento, que são aqueles com quem se tem menos intimidade, ainda que convivam há anos. Segundo um levantamento feito pelo instituto Paraná Pesquisas, no ano passado, quase 87% dos curitibanos conheciam seus vizinhos. Entretanto, trata-se de uma relação superficial, já que quase metade dos entrevistados disse que só os encontram quando estão saindo de casa.

Contudo, é importante que os moradores de uma mesma rua criem o hábito de conversar uns com os outros e estreitar esses laços para que possam manter a segurança do local. Quando se conhece todas as pessoas da vizinhança fica mais fácil identificar movimentos e atos suspeitos, o que aumenta a segurança no bairro.

Claudete Bastos da Silva Bezerra, 45 anos, rega plantas, alimenta o cachorro, acende as luzes da casa e deixa o ar entrar. Até aí a história é comum a toda dona de casa, a não ser pelo fato de que a casa em questão não é a dela e tampouco a verdadeira dona está presente. Essa rotina torna-se comum toda vez que Íris, vizinha de Claudete, sai para viajar. E quando a família Bezerra sai da cidade, é a hora de Íris cuidar da casa da amiga.

Há 15 anos, quando se conheceram, quase não havia moradores na rua em que as duas amigas moram, no Alto Boqueirão, Região Sul de Curitiba. As vizinhas foram criando laços de amizade e confiança aos poucos. "Hoje a gente sai junto, faz churrasco nas casas e, quando uma das famílias precisa viajar, deixa a chave com a outra para poder dar uma olhada", conta Claudete.

Confiança

Essa boa relação entre vizinhos também é percebida por Francisco Ramos, presidente da associação de moradores do Jardim Campo Cerrado da Vila Osternack, no Sítio Cercado, e por Altair Góes, presidente da associação de moradores da Vila Jardim U nião, no Uberaba. Ramos representa cerca de 600 famílias e diz que é mais comum na região moradores que se conhecem há mais tempo – e por isso confiam mais uns nos outros – cuidarem da casa do amigo enquanto este viaja. "Tem gente que até dorme na casa do vizinho para cuidar melhor", conta.

No Jardim União, a história difere um pouco, de acordo com Góes. Com 1,1 mil famílias sob sua guarda, ele diz que até mesmo os moradores mais novos, ao conhecerem bem a vizinhança, confiam a casa a um morador da rua enquanto ela fica sozinha. "Isso é da nossa cultura. Quem vem morar aqui acaba se adaptando ao nosso costume e logo já está a procura de alguém pra cuidar da casa no período de viagem." Góes conta ainda que é feita uma tabela para saber quem pode dar uma espiada na casa do vizinho. De manhã, por exemplo, um apaga as luzes; durante o dia outros conferem se está tudo bem no local; e a noite alguém volta e ilumina a casa.

Laços perdidosCrescimento das cidades afastou as pessoas

Manter um relacionamento amistoso na vizinhança já não é tão comum como há alguns anos. O sociólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Lindomar Boneti afirma que, no processo de urbanização comum ao crescimento das cidades, os vínculos entre moradores se perderam. A verticalização das cidades, com prédios residenciais e comerciais, fez com que a população se afastasse e, se não for o "bom dia" no elevador, dificilmente vizinhos de condomínio se conhecem. Para quem mora em casa a situação é um pouco mais tranquila, mas ainda deixa a desejar. "As pessoas têm que conhecer quem mora na mesma rua. Não é especular a vida do vizinho, mas é mostrar que se ele precisar de ajuda tem com quem contar."

Selma Baptista, antropóloga e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), atribui também esse distanciamento às novas tecnologias e ao crescimento populacional. "É claro que, em uma cidade pequena, a maioria se conhece e o sistema de expectativas funciona melhor. Você sabe como o vizinho vai agir em determinada situação. Nas grandes cidades, não há esse controle e isso gera a desconfiança."

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