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Se existe um bairro em Curitiba que tem a cara do Brasil, esse lugar é o Uberaba. Gigante pela própria natureza – está entre os 10 maiores da cidade – soma 1,4 mil hectares que se estendem pela paraníssima paisagem de capões. De boa parte dessas plagas se pode ver a Serra do Mar, o que faz acreditar ter sido um dia um paraíso nos pinheirais.

Relatos saudosos, vindos de uberabenses castiços, não deixam mentir. Falam de pescarias no Iguaçu, de guris criados à solta e avisam que sentem falta dos embutidos do Armazém Sant’Anna. Por via das dúvidas, os veteranos informam serem moradores do Uberaba de Cima, afinal, há mais ou menos 40 anos, demarcar território virou uma necessidade por aquelas bandas. Igualzinho acontece no Brasil.

Em 1970, a região abrigava 18 mil habitantes. Nos anos 2000, ultrapassava 60 mil pessoas distribuídas num cenário, quem diria, de uma monotonia gritante, o que explica, em parte, ter se tornado um concorrido endereço para o tráfico. Com exceção de um outro ponto da Avenida Salgado Filho, o bairro virou uma floresta de sobradinhos e quarteirões muito parecidos, ladeada por favelas de tantos nomes.

Se o Uberaba, tal e qual o Brasil, tem uma urbanização digna de Lagos, na Nigéria, o mesmo se diga de todo o resto: saúde, educação, trabalho... Os dados foram levantados pela Cohab de Curitiba, em 2007. Peçamos a Deus que eles estejam na mesa do secretário da Segurança, Reinaldo de Almeida César, e do coronel Roberson Bondaruk. Dizem respeito, rua a rua, à zona favelizada onde o governo do estado acaba de implantar sua primeira Unidade Paraná Seguro (UPS).

Nas 12 vilas que fazem parte do Uberaba de Baixo, 23 mil pessoas desfrutam dos piores índices de desenvolvimento humano que alguém possa desejar a seus inimigos. Diante desses dados, e pura covardia dizer que o grande Uberaba registrou 53 homicídios em 2011, fazendo seus moradores se sentirem habitantes do Velho Oeste. Não poderia ser diferente e ao mesmo tempo é muito pior.

Com uma população jovem longe da escola e altos índices de analfabetismo e desemprego, fica difícil acreditar que os "300 de Esparta" que cercaram a zona miserável do Uberaba possam dar conta do recado.

A não ser que operem milagres ou que os sólidos preceitos de policiamento comunitário, professados com devoção pelo coronel Bondaruk, não sejam apagados pelos fogos de artifício que perseguem as ações policiais do tipo "arrasa-quarteirão". Ora, até congelamentos e ocupações de fina estampa – como as realizadas em Bogotá, Medellín e Cali, na Colômbia – viram a criminalidade voltar qual sarna, craca e piolho. Não adianta vender como sonho a sensação de segurança trazida pelos carros da polícia e pela contratação de 10 mil fardados.

O Uberaba pede urbanistas circulando pela antiga Rua Progresso. Educadores curiosos em conhecer a ONG Voice for Change e a Escola Municipal Marli Piovesan. Sociólogos interessados nas 57 organizações comunitárias listadas pela Cohab na zona favelizada. Esportistas de olho nos craques da Vila Reno. Leitores fundando mais uma biblioteca pública – só a Casa Kozák não dá conta.

Em miúdos, só vai funcionar se a gente se mudar para o Uberaba. Fica no Brasil.

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