
A escalada da violência no Rio de Janeiro nos últimos 20 anos preparou o terreno para o surgimento de uma máquina bélica: o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). E o uso dessa força se tornou tão frequente que espalhou Brasil afora a ideia de que o modelo carioca de enfrentamento à criminalidade poderia ser aplicado em quase todas as situações, mesmo às custas de mais violência.
"Aqui [no Rio] o Bope só é desse jeito por causa da quantidade de bandido. Tivemos que evoluir ou ia morrer policial direto", relata o subcomandante do Bope, tenente-coronel Fábio Souza. Em dez anos o Bope dobrou de efetivo, de 200 para 400 policiais. O processo de seleção e treinamento do pelotão é realmente rigoroso, reconhece Souza. Mas ele não considera que haja exageros, como os retratados nos filmes Tropa de Elite 1 e 2, que popularizaram o Bope no país. "O ambiente operacional onde o policial vai trabalhar exige que seja assim", justifica.
O armamento das organizações criminosas, na visão do subcomandante, é parecido com o usado pelo Bope. "Mas tem uma grande diferença: ter treinamento, saber usar", pondera. Há quatro anos não morre um "caveira", como são chamados os agentes do Bope, em confronto.
Um novo quartel que ficará no Complexo da Maré, um conjunto de favelas consideradas violentas e nas proximidades do aeroporto Tom Jobim está em construção. Mas não há expectativa de aumentar muito a estrutura nos próximos anos o investimento cada vez mais é destinado à tecnologia. "Agora conseguimos estar um passo à frente da criminalidade, inovando em equipamento e treinamento", conta.
A sede atual do batalhão, que fica no Morro das Laranjeiras, recebe visita de comitivas de vários estados e até de outros países, em busca da experiência adquirida. Mas enquanto outros copiam o modelo, o Rio de Janeiro se prepara para usar cada vez menos a estrutura que montou.
Com o processo de implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o Bope deixou de ser acionado em várias favelas em que aconteciam enfrentamentos frequentes, como o Complexo do Alemão. O próprio pelotão defende a política de pacificação adotada pelo governo fluminense. "Em 22 anos de polícia, o programa das UPPs é o melhor que eu já vi", afirma. Para ele, a política de ocupar apenas uma vez cada favela representa também uma economia de forças.
Contraponto
Mesmo dentro da polícia fluminense, o uso recorrente da força do Bope é contestado. O comandante das UPPs, coronel Robson Rodrigues, afirma ter dificuldade para convencer a sociedade que uma polícia de proximidade é mais eficiente do que a polícia do enfrentamento. Rodrigues avalia que, antes da política de pacificação, o imaginário coletivo defendia que toda a estrutura de segurança pública agisse aos moldes do Bope.
Para o cientista político João Trajano, do Laboratório de Análise de Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o Bope deve ser acionado, como o próprio nome sugere, em operações especiais, quando ocorrem situações extraordinárias.



