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O sargento Marco Moraes participou de todas as 17 ocupações do Bope para pacificação de favelas: “É como saltar de paraquedas” | Henry Milléo/ Gazeta do Povo
O sargento Marco Moraes participou de todas as 17 ocupações do Bope para pacificação de favelas: “É como saltar de paraquedas”| Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo

Personagem

Orgulho de ser "caveira"

A reportagem da Gazeta do Povo esteve no Morro da Mangueira, em julho, duas semanas após a ocupação da área pelo Bope. São os "caveiras" que abrem o caminho para a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Eles ficam na comunidade até que o local seja considerado seguro e que o efetivo da UPP esteja pronto para assumir o controle da área.

No alto do morro, junto a escritórios improvisados, chamados informalmente de "meu contêiner, minha vida", a reportagem encontrou o 2º sargento Marco Moraes fazendo o patrulhamento a pé. De fuzil na mão e uma cápsula ponto 50 no colete, ele concorda que avisar os traficantes de que o Bope vai subir a favela é mais adequado do que manter a política do confronto. "Não dá pra dizer: trouxemos a paz, com o chão cheio de sangue", avalia.

Há 26 anos no Bope, Moraes já esteve em mais de uma centena de operações e em todas as 17 ocupações para pacificação de favelas. "A emoção de participar em uma situação dessas não pode ser traduzida. É como saltar de paraquedas". Para ele, desmontar o esquema do tráfico gerou "desemprego" na favela e deixou o gerenciamento mais barato para o traficante. Ainda assim, hoje seria bem menos "atrativo" entrar para uma organização criminosa. "Teve momentos em que era bem mais tentador ser comandante do tráfico do que governador do estado", avalia.

A escalada da violência no Rio de Janeiro nos últimos 20 anos preparou o terreno para o surgimento de uma máquina bélica: o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). E o uso dessa força se tornou tão frequente que espalhou Brasil afora a ideia de que o modelo carioca de enfrentamento à criminalidade poderia ser aplicado em quase todas as situações, mesmo às custas de mais violência.

"Aqui [no Rio] o Bope só é desse jeito por causa da quantidade de bandido. Tivemos que evoluir ou ia morrer policial direto", relata o subcomandante do Bope, tenente-coronel Fábio Souza. Em dez anos o Bope dobrou de efetivo, de 200 para 400 policiais. O processo de seleção e treinamento do pelotão é realmente rigoroso, reconhece Souza. Mas ele não considera que haja exageros, como os retratados nos filmes Tropa de Elite 1 e 2, que popularizaram o Bope no país. "O ambiente operacional onde o policial vai trabalhar exige que seja assim", justifica.

O armamento das organizações criminosas, na visão do subcomandante, é parecido com o usado pelo Bope. "Mas tem uma grande diferença: ter treinamento, saber usar", pondera. Há quatro anos não morre um "caveira", como são chamados os agentes do Bope, em confronto.

Um novo quartel – que ficará no Complexo da Maré, um conjunto de favelas consideradas violentas e nas proximidades do aeroporto Tom Jobim – está em construção. Mas não há expectativa de aumentar muito a estrutura nos próximos anos – o investimento cada vez mais é destinado à tecnologia. "Agora conseguimos estar um passo à frente da criminalidade, inovando em equipamento e treinamento", conta.

A sede atual do batalhão, que fica no Morro das Laranjeiras, recebe visita de comitivas de vários estados e até de outros países, em busca da experiência adquirida. Mas enquanto outros copiam o modelo, o Rio de Janeiro se prepara para usar cada vez menos a estrutura que montou.

Com o processo de implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), o Bope deixou de ser acionado em várias favelas em que aconteciam enfrentamentos frequentes, como o Complexo do Alemão. O próprio pelotão defende a política de pacificação adotada pelo governo fluminense. "Em 22 anos de polícia, o programa das UPPs é o melhor que eu já vi", afirma. Para ele, a política de ocupar apenas uma vez cada favela representa também uma economia de forças.

Contraponto

Mesmo dentro da polícia fluminense, o uso recorrente da força do Bope é contestado. O comandante das UPPs, coronel Robson Rodrigues, afirma ter dificuldade para convencer a sociedade que uma polícia de proximidade é mais eficiente do que a polícia do enfrentamento. Rodrigues avalia que, antes da política de pacificação, o imaginário coletivo defendia que toda a estrutura de segurança pública agisse aos moldes do Bope.

Para o cientista político João Trajano, do Laboratório de Aná­­lise de Violência da Univer­­sidade Estadual do Rio de Janeiro, o Bope deve ser acionado, como o próprio nome sugere, em operações especiais, quando ocorrem situações extraordinárias.

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