Professor Otto Henrique Martins da Silva, em aulão na PUC: uso de tecnologia para incentivar engajamento dos alunos | Antônio More/Gazeta do Povo
Professor Otto Henrique Martins da Silva, em aulão na PUC: uso de tecnologia para incentivar engajamento dos alunos| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

A lição é antiga, mas o Brasil não aprende: o futuro do país está nas salas de aula. Mais especificamente na figura do professor. De todas as variáveis que influenciam a qualidade da educação, a mais determinante é a eficiência do profissional à frente da turma.

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Estudos feitos nos Estados Unidos mostram que os alunos dos professores que estão entre os 10% melhores do país aprendem três vezes mais do que os alunos de professores que ficam entre os 10% na parte de baixo do ranking de desempenho de docentes. A diferença salarial ao longo da vida profissional entre os alunos que tiveram bons professores daqueles que tiveram professores ruins chega a mais de US$ 250 mil.

“O maior desestímulo ao profissional da educação hoje é a percepção de que não está preparado para lidar com os problemas reais da educação do presente e do futuro. É um problema que supera a questão salarial, pois professores bem qualificados e, por consequência, motivados com o que fazem, tendem a evoluir muito em seus salários”

Kleber Candiotto, decano da Escola de Educação e Humanidades da PUCPR

A pergunta que o Brasil tenta responder é: o que pode ser feito para melhorar a qualidade da formação de docentes por aqui? Há pelo menos quatros pilares que educadores concordam ser vitais: salário inicial atraente; plano de carreira pautado em desempenho e na formação continuada; foco na prática docente; e escolas bem administradas.

Segunda formação poderá ser feita com mais um ano de estudo

No Brasil, é comum professores que dão aula de disciplinas em quais não tiveram formação. Um estudo do Conselho Nacional da Educação (CNE), chamado “Escassez de professores no Ensino Médio: propostas estruturais e emergenciais”, mostra que dos professores que dão aula de Física, 61% não tiveram formação na área. Em Matemática e Química, o número é de 44%.

A reformulação curricular da PUCPR vai permitir que os estudantes da universidade possam completar uma segunda Licenciatura acrescentando apenas um ano de estudo, no caso dos “cursos primos”, como Física, Matemática e Química, ou Filosofia, Ciências Sociais e História. Com a mudança, os estudantes poderão fazer duas Licenciaturas em cinco anos.

As universidades estão começando a mudar para cumprir a sua parte nesse processo. Os cursos de Licenciatura da PUCPR, por exemplo, passaram por uma grande transformação que começa a ser implementada nas turmas de 2017. A primeira é quantitativa. Por força de legislação federal, os cursos terão a carga horária elevada de 3 para 4 anos. A mais importante, porém, é a reformulação do currículo, mais interdisciplinar, focado na prática pedagógica, com aulas sobre aspectos da psicologia interpessoal, ciência da cognição e técnicas para desenvolver o lado inovador dos futuros profissionais.

“O maior desestímulo ao profissional da educação hoje é a percepção de que não está preparado para lidar com os problemas reais da educação do presente e do futuro. É um problema que supera a questão salarial, pois professores bem qualificados e, por consequência, motivados com o que fazem, tendem a evoluir muito em seus salários”, diz Kleber Candiotto, decano da Escola de Educação e Humanidades da PUCPR e responsável pelas mudanças implementadas na instituição. “O modelo de licenciatura estava desatualizado, voltado, no máximo, para a década de 90. Essa mudança quer preparar os professores para os desafios do século 21.”

Além do foco óbvio no conteúdo que esses professores vão ensinar após o término da faculdade, o que a universidade quer fazer é garantir que os novos profissionais dominem as metodologias que ajudam o estudante a aprender.

Aprendizagem por problemas, por projetos, por pares, sala de aula invertida, aprendizagem por pares e o uso de tecnologias educativas são algumas das novas técnicas que serão ensinadas. O objetivo é colocar o aluno no centro da sala de aula, e deixar ao professor o papel de mediador e de estrategista. “O jovem de hoje não quer ser mais um ser adestrado, sentado em fileira, copiando alguma coisa do quadro quando ele sabe que aquilo pode ser baixado da internet. Não faz mais sentido”, afirma Jelson Oliveira, professor licenciado da PUCPR que atualmente faz pós-doutorado em Londres e é autor do livro Mosaico de cinco cores: princípios orientadores para os processos de ensino e aprendizagem na educação superior (PUCPRess, 2016).

Outra mudança importante no currículo das Licenciaturas é garantir que os futuros professores tenham a capacidade de relacionar o conhecimento de forma interdisciplinar, uma medida que terá impacto em como eles poderão resolver os problemas enfrentados no dia a dia da sala de aula. A partir do ano que vem, os alunos passam a fazer aulas de cunho pedagógico com estudantes de outras áreas.

“O estudante irá conviver com alunos de outros cursos, criando uma interação entre as diferentes áreas do conhecimento. Essa perspectiva da transversalidade na composição de nossos cursos é uma proposta inovadora e que já está sendo feita com sucesso em outros países com bons resultados”, diz a doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) Joana Paulin Romanowski, que também fez parte do grupo que criou o novo currículo de Licenciatura da PUCPR.

Brasil precisa mudar imagem que tem do professor

Na história dos países que conseguiram subir no ranking da educação nos últimos 50 anos, uma variável que aparece em todos os casos é a mudança de percepção que a sociedade tem sobre a profissão de professor.

“O caso mais emblemático é o de Cingapura. Eles investiram fortemente em educação, focada nos problemas reais e contemporâneos, mas não foi só isso. Eles também investiram fortemente na imagem do professor na sociedade”, diz o Kleber Candiotto, Decano da Escola de Educação e Humanidades da PUCPR.

A percepção é importante para atrair os melhores estudantes para o magistério. Na Finlândia, os alunos que estão entre os 10% com melhor desempenho durante o Ensino Médio são os que mais procuram os cursos de Licenciatura.

Uma pesquisa feita em 2013 pela Fundação Varkey GEMS, chamada “Índice Global de Status de Professores”, mostra que o Brasil está na rabeira do ranking da valorização do professor, com o segundo pior resultado entre 31 países, à frente apenas de Israel.

O estudo mostra que um dos fatores mais importantes de como a profissão é valorizada é a remuneração. O status dos professores dentro da sociedade depende de quanto as pessoas acreditam que eles recebem. Em vários países, a percepção é condizente com a realidade local. No Brasil e em países como Espanha e Israel, porém, os professores ganham até 20% menos do que as pessoas acham que eles ganham.

O salário de professores sem ensino superior, no entanto, puxa a média brasileira para baixo. Para profissionais com licenciatura, a remuneração hoje na rede pública do Paraná começa em R$ 3,6 mil, maior que a média dos recém-formados em outras profissões.

O país também tem a seu favor duas persepctivas importantes sobre a profissão. Primeiro, a cada vez maior exigência por mudanças sociais necessariamente passa por um olhar mais atento à educação e, segundo, o número de professores que vai se aposentar nos próximos anos é de até 40% do total de profissionais da área, tornando uma das profissões que o país mais vai demandar no futuro.