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Que tal só correr atrás da bola e não se preocupar com mais nada no mundo? Pode parecer vida de sonho, mas está ao alcance de alguns jogadores brasileiros. Basta ser um boleiro de primeira linha ou um jovem muito promissor. Voltado para eles, surgiu recentemente no país o serviço de gerenciamento de carreira.

A idéia apareceu na década de 80, nos Estados Unidos. Ganhando mais do que podiam gastar e famosos demais para comprar um carro, ir ao mercado, pagar uma conta no banco ou discutir o próprio contrato, estrelas do basquete, beisebol, futebol americano e hóquei no gelo passaram a deixar tudo nas mãos de agentes especializados.

Para gente como Michael Jordan, maior jogador da NBA de todos os tempos, jogar, treinar, fazer campanhas de publicidade e se divertir era apenas o que importava.

Após uma escala no futebol europeu nos anos 90, a moda chegou ao Brasil. Por aqui, o gerenciador de carreira surgiu como diferencial num mercado saturado de empresários preocupados apenas em negociar contratos mais vantajosos. Em alguns casos, veio para substituir o "amigo faz-tudo", que realizava um trabalho parecido, mas de forma informal.

"Além de representar os jogadores perante os clubes, damos toda a assistência extracampo que eles precisam. Desde ajuda para comprar um carro ou um apartamento, até conselhos na vida profissional", diz Marcos Malaquias, da Massa Sports.

A forma de atuação descrita por ele parece retirada diretamente do filme norte-americano Jerry Maguire – A Grande Vira-da, de 1996, no qual um agente (vivido por Tom Cruise) é demitido de uma grande companhia por propor um tratamento mais humano para os atletas e tem de refazer sua imagem com o único cliente que lhe restou, interpretado por Cubba Gooding Jr, vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante pela obra dirigida por Cameron Crowe.

No Brasil, em 2006, época do "politicamente correto", o estilo Maguire cai bem. No início da carreira, o astro da NBA Kobe Bryant chegou a declarar que não se preocupava com suas dezenas de multas de trânsito nos Estados Unidos porque "o pessoal que trabalha para mim dá um jeito nisso". Por aqui, no ano passado um jovem jogador de um clube de Curitiba teve seu contrato com a empresa que lhe prestava serviços rescindido depois de ter sido pego dirigindo sem carteira e desfazer dos conselhos dados pelos agentes.

Um bom exemplo da atuação dos gerenciadores de carreira foi a venda do lateral-direito Rafinha, do Coritiba para o Schalke 04, da Alemanha, em agosto do ano passado. Na primeira parte da ação, Gabriel Massa e Naor Malaquias, sócios da Massa Sports, fizeram o típico papel de empresários e costuraram o acordo com o clube alemão.

Com o negócio fechado, foi a vez do terceiro sócio, Marcos Malaquias, entrar em ação para garantir uma adaptação tranqüila do jovem jogador na cidade de Gelsenkirshen. "Passei mais de um mês com ele lá vendo casa, carro, intérprete, essas coisas...", conta o agente.

É praxe de quem atua no ramo cobrar uma porcentagem sobre o ganho mensal dos atletas – 10%, no caso da Massa. Mas, é claro, procurando sempre ampliar horizontes.

A inglesa Stellar Group, por exemplo, decidiu usar um de seus mais famosos clientes como garoto-propaganda para ganhar terreno na América do Sul. Foi assim que surgiu a idéia de oferecer o ex-craque alemão Lothar Matthäus para ser técnico do Atlético.

Ele desembarca amanhã em Curitiba acompanhado do representante da Stellar no Brasil, Márcio Bitencourt. O procedimento será o padrão: "Terá dois carros com motorista, tradutor, escola internacional para os filhos. Também vou ficar um tempo por aí auxiliando no que for preciso", informou Bitencourt.

A Massa aposta no descobrimento de novos talentos para crescer. No momento, a principal esperança é o atacante Keirrison, de apenas 17 anos, vice-artilheiro da Copa São Paulo de juniores e recém-promovido ao time profissional do Coritiba. Trazido do Cene (MS), os direitos federativos do atleta são divididos entre empresa e clube.

Apesar de representarem extremos no mundo do futebol, Matthäus e Keirrison têm em comum estruturas parecidas por trás. Tanto o consagrado ex-camisa 10 da seleção alemã como a promessa coxa-branca, em seus devidos papéis no grande mercado do futebol, se preocupam apenas com a bola enquanto seus agentes fazem todo o "resto".

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