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Athletico: a despedida de Bellini no dia da chegada à lua; fotos históricas
Athletico: a despedida de Bellini no dia da chegada à lua; fotos históricas| Foto: Arquivo GRPCOM

Aonde você estava na tarde do dia 20 de julho de 1969, há 50 anos?

Em Curitiba, há cerca de quinze mil pessoas (entre vivos e mortos) que podem responder que estavam na Baixada assistindo ao Atletiba em que o primeiro capitão do pentacampeonato brasileiro, Bellini (1930-2014), deu adeus ao futebol.

Hilderaldo Luís Bellini pisou no gramado natural do Joaquim Américo pela última vez no mesmo domingo em que horas depois, o cosmonauta Neil Armstrong daria seu pequeno passo, e a humanidade um de seus maiores.

No exato momento em que a Apollo 11 pousava na superfície lunar, perto das 17h17, Bellini erguia a camisa rubro-negra número 3 como um archote em punho direito enquanto, para aplausos das duas torcidas, dava uma volta olímpica no gramado da velha Baixada.

Bellini se despede na Baixada. Arquivo GRPCOM
Bellini se despede na Baixada. Arquivo GRPCOM

“Muitos viram as lágrimas fartas correrem-lhe pelo rosto, iguais às dos torcedores que, gratos por terem tido Bellini por dois anos, aplaudindo, não tinham vergonha do pranto que choravam”, destaca trecho do livro “Clube Atlético Paranaense: uma paixão eterna”, de Heriberto Ivan Machado e Valério Hoerner Júnior.

Durante a semana que antecedeu e desde horas antes do jogo, o craque recebeu inúmeras homenagens. Das torcidas e da direção do trio de ferro da capital – Athletico, Coritiba e Ferroviário, que mandaram fazer placas para o dia.

A Federação Paranaense de Futebol (FPF) convidou o astro Orlando Silva, o cantor das multidões, a estender sua passagem por Curitiba para fazer com sua voz de tenor um discurso em honra a Bellini e entregar uma placa de prata.

Bellini e o cantor Orlando Silva. Arquivo GRPCOM
Bellini e o cantor Orlando Silva. Arquivo GRPCOM

O jogo foi um 0x0 que serviu apenas para cumprir tabela daquele campeonato paranaense, pois o Coritiba já estava com o bicampeonato assegurado há rodadas.

O Athlético jogou com Silas, Djalma Santos, Bellini, Charrão e Pardal; Nair (Tião) e Zequinha; Gildo, Sicupira, Helinho e Nilson Borges(Natal).

O Coxa formou com Célio; Reis, Roderley, Nico e Cláudio; Neiva e Lucas; Oromar (Hugo), Oldack, Servilio e Edson (Lucas). O técnico rubro-negro era Alfredo Ramos. Francisco Sarno o coxa.

Galeria do jogo de despedida de Bellini - Arquivo GRPCOM

Capitão preferiu Curitiba à Nova Iorque

Bellini foi jogador do Atlético durante 17 meses. Sua história no Rubro-Negro começou em fevereiro de 1968 quando a convite do então presidente Jofre Cabral e Silva os campeões mundiais Bellini, Djalma Santos, Dorval e o goleiro Gilmar visitaram Curitiba. Do quarteto, só Gilmar não veio para o supertime do Furacão que começou a ser montado naquele ano vertiginoso.

Gilmar, Bellini e Djalma Santos em visita. Arquivo GRPCOM
Gilmar, Bellini e Djalma Santos em visita. Arquivo GRPCOM

Bellini chegou numa quarta-feira (7) com a esposa Giselda. Conheceu a cidade, foi homenageado no Rotary Club, participou de solenidades, deu entrevistas. Na sexta, 9 de fevereiro, já tinha assinado com o rubro-negro seu último contrato profissional aos 37 anos.

No livro, “Bellini, o Primeiro Capitão Campeão”, Giselda conta que durante este passeio já estava tudo encaminhado para o acerto. Segundo Giselda, no final de 1967 e já inclinado a encerrar a carreira, Bellini recebeu duas propostas para seguir jogando. Uma do Athletico e outra, segundo a viúva do capitão, “seria do Cosmos de Nova Iorque”.

Giselda, a esposa, Bellini e os filhos. Júnior e Carla Arquivo GRPCOM
Giselda, a esposa, Bellini e os filhos. Júnior e Carla Arquivo GRPCOM

Na verdade, não era ainda o Cosmos quem procurou Bellini. O time em que Pelé pendurou as chuteiras só seria criado no início da década seguinte. Quem tentou levar Bellini foi o New York Generals, clube que teve vida breve (1967 a 68), numa das diversas tentativas de se criar uma liga americana de soccer naqueles tempos.

Com a recusa de Bellini, o time novaiorquino contratou o argentino Cesar “Flaco” Menotti, ele que seria o técnico campeão do mundo com a argentina em 1978. Bellini tinha deixado na mão da mulher a escolha do destino do futuro da família e ela escolheu Curitiba.

“Fiquei com receio de mudar para os Estados Unidos com duas crianças pequenas Carla e Júnior), sem conhecer ninguém em Nova Iorque e sem falar mais que o inglês básico do colégio.  Também não queria ficar longe da minha família (de Itapira, no interior paulista) e fomos para Curitiba”, conta no livro a esposa.

Bellini estreou com pompas no Furacão.  Foi em um clássico contra o Ferroviário que serviu de preliminar de um Coritiba e Santos (com Pelé) no dia 18 de fevereiro no Belfort Duarte. Quatro dias depois, o Athletico viajou para São Paulo como convidado do jogo de inauguração dos refletores do Morumbi.

Bellini jogou um tempo com cada camisa: primeiro com a tricolor e depois de rubro-negro. O jogo terminou 3x3. Milton Dias, Zé Roberto e Sidcley marcaram para o Furacao e Almir, Sidney e Terto para o São Paulo

Giselda conta que a família foi “imensamente feliz” no tempo em que viveu em Curitiba. Com porte e pinta de galã, Bellini foi garoto propaganda do Frischmans, a tradicional loja de moda masculina de Curitiba.

Carreira vitoriosa

Bellini da despedida. Arquivo GRPCOM
Bellini da despedida. Arquivo GRPCOM

Bellini só usou quatro camisas no futebol. Vasco (1952 a 1961), São Paulo (1962 a 1967) e Athletico (1968 a 1969). Estreou na seleção em 1956. Foi capitão do primeiro título mundial do Brasil em 1958 quando eternizou o gesto de erguer a taça Jules Rimet acima da cabeça.

Também esteve nas Copas de 1962 e 1966. Uma estátua sua recebe o público na entrada principal do estádio do Maracanã. Bellini morreu em 2014, aos 84 anos.

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