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Futebol de base foi duramente atingido pela paralisação da bola no Brasil
Futebol de base foi duramente atingido pela paralisação da bola no Brasil| Foto: Antonio Costa/Arquivo/Gazeta do Povo

Dentre os diversos segmentos profundamente afetados pela paralisação do futebol brasileiro em meio à pandemia de coronavírus, a situação das categorias de base é uma das mais problemáticas.

Se entre os profissionais o cenário é dominado por incertezas, na base a situação é ainda mais dramática, podendo impactar diretamente no futuro de muitos jovens com o sonho de ganhar a vida com a bola.

Com escassez de receitas, Athletico, Coritiba e Paraná reduziram drasticamente os já baixos salários dos jogadores que, apesar de muito jovens, muitas vezes já são os responsáveis por reforçar a renda familiar. Os atletas, por sua vez, acabam realizando atividades em casa, por conta própria, ou online, com a comissão técnica.

Além disso, a própria carreira destes atletas se viu interrompida em um de seus momentos mais cruciais de desenvolvimento: a transição da equipe sub-20 para o time principal.

“Desde janeiro muitos jovens não conseguem treinar e com isso suas carreiras vão definhando”, analisa o empresário Naor Malaquias, que gerencia carreiras de atletas de base na capital. “É desanimador ver os meninos em casa com as famílias, às vezes muito pobres, sem condições de treinamento adequado”, reforça.

Ex-treinador da equipe sub-23 do Grêmio, César Bueno vinha treinando o sub-17 do Coritiba, mas acabou demitido do Coxa durante a pandemia. “Os impactos sobre os garotos são muito fortes. Os lados psicológico e contratual são muito afetados”, opina.

“Muitos contratos se encerram no final do sub-20 e este seria o momento mais importante de transição. O futebol vive de ciclos e eu acredito que, ao ficarem um ano parado, muitos jovens vão perder este momento de passagem”, reforça Bueno, explicando ainda que a própria formação de atletas fica comprometida no Alto da Glória diante da demissão de tantos profissionais.

Força mental e perseverança

O zagueiro Thiago Dombroski, 18 anos, disputou a última Copinha pelo Coritiba. Agora, encara o difícil cenário de treinar em casa e ter os salários reduzidos por causa da pandemia. “Essa paralisação complicou muito a situação para mim e meus colegas”, conta Thiagão, como é conhecido no clube.

Thiago em ação pelo sub-19 do Coritiba. Foto: Reprodução/Instagram
Thiago em ação pelo sub-19 do Coritiba. Foto: Reprodução/Instagram

“Fica uma preocupação muito grande. Estamos recebendo 30% dos salários do Coritiba e o restante vem do auxílio do governo. Eu tenho uma mãe doente em casa, com câncer, e essa redução salarial dificulta para eu manter a casa e ajudar a família”, prossegue.

O jogador explica que tenta manter uma rotina de treinamentos em casa, assim como busca conversar com frequência com os demais colegas de base para manter a motivação.

“Faço o que posso, correndo, levantando peso. Claro que é diferente da estrutura do clube, mas eu e meus colegas nos mantemos motivados para voltarmos bem”, complementa.

Crise e oportunidade

Ex-jogador e empresário de atletas, Marcelo Lipatín confia que, apesar das adversidades, o momento também pode ser de oportunidade para estes garotos em transição da categoria de base para o time profissional.

“Eu realmente acredito que aqueles estavam na ‘cara do gol’ para subir para o profissional terão novas oportunidades”, diz. “Até pela diminuição de verbas, os clubes vão confiar naqueles garotos que já tinham uma boa perspectiva. E os que eventualmente forem dispensados, encontrarão este espaço em outros clubes”, reforça.

Lipatín argumenta que o momento exige coragem por parte dos garotos e utiliza o exemplo de um de seus agenciados, o volante Fransérgio. Revelado pelo Athletico, demorou para se firmar no futebol profissional, rodando por Criciúma e Paraná, por exemplo. Hoje, o atleta é o principal destaque do Braga, da primeira divisão de Portugal.

“Jovens de potencial enorme acabam rotulados por não terem alcançado o sucesso que deles se esperava em determinada faixa etária”, analisa. “O Fransérgio hoje é muito valorizado, por exemplo, mas foi alguém que acabou crescendo em meio às adversidades”, completa.

Perspectivas

O diretor Augusto de Oliveira, que trabalhou tanto na base como no profissional do Coritiba e, mais recentemente, estava no Maringá, reforça o cenário de dificuldades para os jovens. “É uma situação muito prejudicial, do ponto de vista educacional, social e também esportivo”, opina.

No entanto, Oliveira revela que algumas alternativas já vêm sendo discutidas no cenário do futebol de base para amenizar estes prejuízos. “Já existe uma discussão a respeito de uma extensão de idade em algumas categorias, para que em 2021 estes atletas possam concluir seus processos de formação”, complementa.

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