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O nadador Thiago Pereira  segue  o modelo dos nadadores de alto nível: alto, ombros largos e envergadura maior do que a altura | Francois Xavier Marit/ AFP
O nadador Thiago Pereira segue o modelo dos nadadores de alto nível: alto, ombros largos e envergadura maior do que a altura| Foto: Francois Xavier Marit/ AFP
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Máquinas complexas

Nos Jogos da Antiguidade, coroavam-se os melhores competidores, celebrados como divindades. Na Era Moderna, a ideia de humanos destinados à vitória é deixada de lado: entende-se que os atletas estão mais para uma máquina em constante aperfeiçoamento. Veja como se cons­­trói um vitorioso:

Fatores genéticos

• Fibras brancas – de contração rápida e com potencial para hipertrofia, são fundamentais nas atividades de força, explosão e velocidade. Velocistas têm predominância desse tipo de fibra muscular. Tenistas precisam de boa combinação dos dois tipos de fibras, para explosão a cada game e suportar longos jogos.

• Speed gene – Decifrado em 2003 por uma equipe de cientistas australianos, o marcador ACTN3 indica a produção de uma proteína ligada à estrutura do músculo, para que desenvolva maior força. Pesquisas apontam grande incidência na atuação desse marcador em atletas de esportes de explosão, como as corridas de velocidade e futebol é chamado de "gene da velocidade".

• Cabeça – Estudos sobre o gene ApoE (também ligado ao mal de Alzheimer) apontam propensão genética a cicatrizações mais lentas em lesões no cérebro. Tal defeito pode ser crucial em esportes em que o crânio esteja sujeita a constantes impactos, como futebol americano ou boxe.

• Coluna – Descobrir marcadores gênicos que indiquem propensão para doenças e lesões permite a prevenção desde as categorias de base. Um estudo brasileiro tenta descobrir um marcador para a tendinite com material genético de 216 atletas da Superliga Masculina de vôlei.

• Fibras vermelhas – A predominância desse tipo de fibra muscular favorece atletas que se dedicam a provas de resistência, como as maratonas e a natação em águas abertas. Requerem baixo gasto energético.

Fatores externos

• Cabeça – Motivação é fator essencial para atingir objetivos e está relacionado com o ambiente social.

• Labuta – Teorias sobre a primazia da prática tentam comprovar que trabalho árduo e bem direcionado dá retorno efetivo. Estima-se que são necessários pelo menos dez anos (somando mais de 10 mil horas) e treinos específicos para que um atleta entre em nível competitivo no alto rendimento. Pessoas treinadas desde a infância têm mais chance de chegar ao topo mais cedo. No tênis, os campeões formados desde os primeiros anos de vida, como o sérvio Novak Djokovic (foto), são exemplos de dedicação que leva ao êxito.

Chris Trotman

Um atleta deveria escolher em que família nascer, se isso fosse possível. Afinal, pai e mãe transmitem, pela recombinação do DNA de ambos, informações genéticas que podem ser essenciais para a formação de um campeão. Não chegam a ser fatores determinantes, mas se sabe que a excelência da atividade física tem grande participação dos genes. Saber como funcionam pode aumentar os índices de pódios.

Já foram listados mais de 200 genes ligados ao desempenho físico. Alguns podem contribuir para uma melhora significativa de força, velocidade ou resistência. Outros, são capazes de inibir esses mesmos fatores. E ainda há os genes que podem indicar propensão a problemas de saúde e lesões.

Encontrar o atleta com o DNA perfeito para a prática esportiva é quase impossível. O geneticista da Manchester Metropolitan University (EUA), Alun Willians,­­ estudou 23 marcadores genéticos mais fortemente ligados ao talento em esportes de longa duração e fez uma projeção matemática da incidência de atletas com as variantes corretas de cada um desses genes: a estimativa é de menos de um indivíduo entre um quadrilhão de pessoas (o equivalente ao um seguido de 15 zeros).

Como para os atletas olímpicos, cada centésimo de segundo ou cada centímetro contam, qualquer vantagem que se possa tirar das moléculas que formam o DNA é essencial. Nesse hall de milhões de possibilidades, um dos genes mais "populares" entre os esportistas atende pelo nome de ACTN3, ou o "gene da velocidade". Ele possui duas variantes: uma produz a proteína alfa-actinina-3, encontrada nas fibras de contração rápida, que favorece os esportes de explosão. A outra variante evita que essa proteína seja produzida.

Em um estudo recente com os atletas do Palmeiras, detectou-se que 17 % têm a variante que produz a alfa-actinina-3. Um percentual similar ao dos velocistas vencedores no atletismo.

Só ter a versão ativa do ACTN3 não define um recordista dos 100 m rasos. O mesmo indivíduo pode ter, por exemplo, outro gene que iniba outra função essencial aos vencedores, como uma propensão a lesões articulares, por exemplo. Pesquisas indicam, inclusive, que os pais transmitem aos filhos a capacidade de responder bem (ou não) ao treinamento físico.

No Brasil, um dos principais estudos é o projeto Atletas do Futuro, coordenado pelo biólogo molecular João Bosco Pesquero, que vai criar um banco de dados genéticos e metabólicos de grandes campeões para compará-los com as crianças das próximas gerações. Com essa enciclopédia, os cientistas poderão indicar para quais modalidades cada pessoa tem mais chances de sucesso, conforme seu DNA. "Nosso objetivo é sugerir os esportes em que cada indivíduo terá mais chances de ir bem", diz o cientista.

Se por um lado há o risco de seleção de indivíduos por seu mapa genético, (em detrimento de outras qualidades de um atleta campeão), do outro, a intenção é aumentar a base de praticantes. "Uma criança que faz uma modalidade em que percebe que vai bem tem mais chances de seguir praticando", fala Pesquero.

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