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Um tropeço daqueles – entenda-se cair sentada logo no seu primeiro salto na grande final – e Daiane dos Santos ganhou quase tanto espaço na mídia quando Diego Hypólito, primeiro ginasta brasileiro a conquistar o ouro em Mundiais. Principal nome da modalidade do país, a atleta novamente experimentou a frustração de perder uma medalha certa. Um replay da Olimpíada. Diferença de Atenas, em 2004, para Melbourne, há uma semana: um 5.º e um 7.º lugares, respectivamente. Ambos muito aquém das expectativas.

A pressão, a euforia pelas conquistas e a decepção pelos fiascos são proporcionais na vida da campeã mundial do solo de 2003 e o último erro reascendeu a dúvida sobre como ela lidaria com esse trinômio.

Mas ao contrário de uma possível dificuldade em encarar as cobranças, a própria ginasta e especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo descartaram ser o baque na terra dos cangurus fruto da falta de um trabalho psicológico mais intenso.

"Não foi o nervosismo que me atrapalhou. Eu não fico mais nervosa. Faltou velocidade no salto", explicou uma Daiane chateada, mas conformada com o resultado. Ela falhou logo ao executar o duplo-twist carpado, que leva seu nome.

Psicólogos especializados na área esportiva seguem a mesma linha. "Ela é uma menina muito tranqüila. Um exemplo de como lidar com situações de pressão. Consegue se manter numa ansiedade média, adequada – nem elevada demais, nem de menos. O que aconteceu agora foi um erro técnico algo difícil de prever, mas possível de acontecer", ponderou Ruth Pauls que por quatro anos trabalhou coletivamente com os atletas da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). Hoje ela ainda faz atendimentos individuais, mas Daiane não está entre as suas pacientes.

"Acho que aconteceu um erro na execução do movimento, e só. O problema é que para uma estrela como ela tudo é hiperdimensionado", analisou o psicólogo do Atlético, Gilberto Gaertner. Com experiência de 15 anos com atletas, ele trabalhou com uma série de modalidades e até recomenda um acompanhamento psicológico à Perola Negra, mas como um plus, não um requisito imprescindível.

"Sou até suspeito para falar, porque na minha opinião todo atleta de alto nível merece um acompanhamento multidisciplinar, e o controle emocional pode ser um diferencial. Mas hoje a Daiane é muito madura."

Na contramão, Dietmar Schamulski escolhido pelo Comitê Olímpico Brasileira (COB) para cuidar da mente dos atletas nos Jogos Olímpicos, discorda da postura da CBG em não contar com uma lapidação mental mais intensiva.

"Eu ofereci ajuda durante a Olimpíada e eles não aceitaram. Não quero entrar em polêmica com o treinador, porque esse é o método de trabalho dele, mais fechado. As principais equipes do mundo têm esse acompanhamento. Mas eu só posso conscientizar, não obrigar", afirmou.

Em Atenas, apesar de Daiane ser a atleta mais assediada da delegação brasileira e tida como certeza de pódio, a Confederação descartou a ajuda do psicólogo. "Não sou contra, acho que até pode ser bom", respondeu o treinador Oleg Ostapenko, sem entretanto esmiuçar quais benefícios poderia agregar ao treinamento.

"A pressão era realmente intensa. Até maior do que agora. Mas acho que lá em Atenas foi um problema físico. Ela ainda estava se recuperando da cirurgia no joelho", comentou Ruth Pauls.

Pouco mais de um mês antes dos Jogos, a ginasta passou por uma cirurgia em sigilo no país e a sua recuperação roubou a cena. Na sua apresentação, o país parou para assistir a um pódio certo. Mas viu uma falha das grandes. Após um salto ela pisou fora da área reservada. "Ela nunca comete erros bobo", reconheceu a coordenadora da CBG, Eliane Martins.

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