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Passou a fase do abstracionismo, dos palpites, dos eternos escaladores de time que não dirigem, dos críticos contumazes e dos ingênuos e idealistas. Estes, por serem mais puros, sempre serão os maiores sofredores em caso de insucesso da seleção brasileira. São os mesmos que molharam o corpo, que sentiram o rigor da baixa temperatura no CT do Caju e que ontem derramaram lágrimas de emoção quando os jogadores – em decisão correta e respeitosa – embarcaram pelos portões principais do Afonso Pena rumo ao avião que os está levando à inusitada Copa do Mundo da África do Sul.

Felizmente, o comando da seleção teve a sensibilidade necessária e entendeu que não causaria nenhum estrago permitir que alguns poucos torcedores pudessem mirar de perto os atletas que faziam treinamento físico na segunda-feira. Na terça, os torcedores não tiveram acesso ao CT, mas, com alegria e gratidão pelo apoio dos abnegados, os próprios jogadores – com a juventude, o caráter e a formação cristã de Kaká à frente – foram saudar os admiradcores sem acesso ao centro de treinamento. Gesto bonito. Mesmo que o programado fosse diferente. Ninguém foi hostilizado.

Em compensação, os idealistas ficaram cheios de orgulho e alegria. Eles sabem que, mesmo com a Copa do Mundo no Brasil, não terão acesso aos estádios. Os preços dos ingressos serão altos e fora da realidade sonhada pelos mais simples dos cidadãos. A Copa é uma competição para a elite econômica, que, com certeza, não disputou a fresta do muro ou os galhos das árvores ao redor do CT do Caju. Esta luta titânica foi dos brasileiros que se contentaram com a proximidade física dos compatriotas que tentarão o sexto título mundial para o Brasil.

Ao contemplar a euforia dos torcedores humildes, veio à minha memória o tema de uma palestra que fiz para universitários sobre a função social do futebol para os brasileiros. E reitero minha decepção com o afastamento dos pobres desdentados, descamisados e sem chinelos, sapatos ou tênis, talvez mais necessitados da emoção de um estádio de futebol do que muitos endinheirados que estão se lixando para os miseráveis que nem sequer conseguem o prazer de sentir e festejar a magia que o mais popular esporte brasileiro causa em todos nós.

Ainda bem que a seleção brasileira deu tamanha satisfação aos curitibanos que enfrentaram as regras rígidas do trabalho e de forma destemida foram atrás dos ídolos cultuados pelos brasileiros que sofrem, são enganados, mas, não perdem a esperança de receber da vida pequenas e singulares partículas de alegria.

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