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O técnico Itamar Bernardes, negro, e já com passagem vitoriosa por vários clubes do Interior do estado, considera-se discriminado pelos três grandes clubes da capital. Depois do empate contra o Atlético, que mantém a Adap Galo líder e invicta no Campeonato Paranaense, o técnico disse ao microfone da Rádio Transamérica que ainda não trabalhou nos grandes clubes por uma questão racial. Não purgou ódio e nem contrariedade. Apenas respondeu a pergunta feita pelo repórter Marcelo Júnior, curioso e interessado em saber porque Itamar nunca foi premiado com a chance de trabalhar nos clubes curitibanos de expressão nacional.

Não canso de reconhecer os méritos de Itamar Bernardes. Homem humilde, treinador bem-sucedido, falta-lhe uma oportunidade. A revelação do técnico permite que eu faça rápida retrospectiva e conclua que o único treinador negro que superou a barreira racial, nos tempos recentes, foi Lula Pereira. Trabalhou em São Paulo e em outros estados. Não faz muito tempo, foi lembrado para dirigir um clube de Curitiba e não faltou quem lembrasse da negritude de Lula e ele não foi contratado.

É diferente com mulatos e pardos. O exemplo mais próximo é do consagrado Vanderlei Luxemburgo, que chegou à seleção brasileira, é verdade, por pouco tempo, mas sem influência da questão racial. Os goleiros negros sofreram muito depois de 1950, quando Barbosa, defendendo a Seleção Brasileira, foi acusado de falhar no jogo final contra o Uruguai. Pronto. Os negros passaram a ser sistematicamente rejeitados para a posição de goleiro. Faz pouco tempo que tamanha discriminação racial, nunca declarada formalmente, foi amenizada.

Valeu a coragem de Itamar Bernardes, que, com ternura e sem verbalizar palavras raivosas, identificou uma causa social que impede a inclusão do seu trabalho no grupo mais avançado do futebol brasileiro. Causa social odiosa e atentatória às leis brasileiras.

Não é reservando cotas para negros nas universidades públicas que o Brasil vai superar a discriminação racial embutida nos costumes da sociedade. Os negros precisam ser incluídos no processo de desenvolvimento do país, sem favores interesseiros, hipócritas e demagógicos.

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