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Um time de futebol é que nem uma orquestra famosa como a sempre aplaudida Filarmônica de Nova Iorque. Seus destaques, o primeiro-violino, o pianista e o maestro. Mas o grande espetáculo ganha corpo pelo conjunto. Os sons dos instrumentos, harmonicamente, tomam conta dos nossos ouvidos e às vezes produzem lágrimas de emoção. Time de futebol também tem seus destaques individuais, seu treinador, dirigentes e um auditório recheado de torcedores. Para a conquista de vitórias todos colaboram e transformam a emoção em comoção proporcionando uma festa maravilhosa capaz de matar cardíacos e reanimar desesperançados.

O que a respeitada Filarmônica tem de semelhante com o Coritiba? Tirando as generalidades que tipificam o espetáculo, um fato singular que assisti em Nova Iorque há poucos dias. O Lincoln Center literalmente lotado e no meio da multidão uma cena rara, pouquíssimas vezes vista no Brasil. Uma senhora cega, caixa craniana deformada, guiada por um cachorro amigo. Corpo quase esquálido. Mas o amor pela arte não conteve aplausos vibrantes e participação ativa nas respostas calorosas da platéia. Que fantástico! O ser humano superando deficiências e se igualando a seres normais, com sensibilidade extraordinária, com o apoio de um ser irracional e ao mesmo tempo tão solidário na condução da mulher de olhos que não vêem e de corpo franzino que impactou pela singeleza do gesto de ser superior à deficiência física.

Pois o Coritiba também tem suas deficiências, mas emociona pela campanha que está fazendo para subir à Primeira Divisão. Vai à superação e firma uma liderança invejável, de encher de orgulho quem pensa ver cada vez mais projetado o futebol do Paraná.

Que bom sentir esta emoção. No meu caso nada a ver com sentimento de torcedor. Apenas (e é pouco?) com o amor indestrutível pelos valores do estado em que nasci e me fiz como pessoa e profissional. Por ser asssim é que sou confundido como torcedor do Atlético, do Coritiba e do Paraná. Sou mesmo é paranaense de alma e coração.

Os erros que levaram o Coritiba à Segunda Divisão foram a lição para o aprendizado. As chibatadas que marcaram o clube vincaram profundamente e fizeram sangrar muita gente. A torcida reagiu e elevou o grande clube à glória que havia perdido depois de tantas humilhações. Hoje, vitorioso e harmônico, não tem a desenvoltura da Filarmônica de Nova Iorque, mas com certeza tem o espírito guerreiro e determinado daquela mulher de atitude gigante que precisa de um cachorro para guiar os seus passos, mas não a sua requintada inteligência. Faz festa Coritiba.

airtoncordeiro@gazetadopovo.com.br

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