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A transmissão de jogos pela televisão já foi mo­­tivo de grande confusão aqui em Curitiba. Vivíamos a puberdade da tecnologia mais desenvolvida, muito longe dos avanços de hoje, claro. Nossa Curitiba contava com duas emissoras: a pioneira TV Paranaense, mais conhecida como canal 12; e a TV Paraná, identificada pelo público como canal 6.

Tive o raro privilégio de trabalhar em ambas, no alvorecer da minha vida profissional. Comecei aos 16 anos de idade e com trabalho e obstinação também me realizei cedo.

O canal 12, uma iniciativa pu­­ramente paranaense, levou algum tempo para ganhar a fase adulta. Ao contrário, o canal 6 era uma emissora participante da maior rede da época, pertencia aos Diários e Emissoras As­­sociados. Possuía equipamentos mais profissionais, direção com experiência no ramo e melhores condições financeiras.

Nos primórdios da televisão paranaense o grande clássico era jogado por Coritiba e Ferroviário, o Cori-Caf. E em um desses clássicos entre os dois rivais e grandes clubes, em silêncio, sem negociar com ninguém, a emissora associada resolveu fazer a transmissão "ao vivo" para Curi­­tiba. Só o canal 6 podia fazer a cobertura do badalado jogo por possuir equipamento para transmissões externas.

Transmissão no ar, quem tinha aparelho receptor e gostava de futebol estava radiante com a novidade.

Não demorou muito e o vice-presidente de finanças do Fer­­roviário descobriu a esperteza e não pensou duas vezes. Como o Tricolor não tinha sido consultado, Rubens Brustolin, um italiano que gostava de tudo certinho, foi até o local de entrada de energia elétrica no antigo Estádio Bel­­fort Duarte e cortou, sumariamente, o fornecimento de luz elétrica. A pergunta que não calava: o que aconteceu?

Na segunda-feira cheguei à televisão para apresentar o programa diário Atualidades Es­­portivas. Logo fui convocado para conversar com o diretor-gerente Carlos Ador, que me co­­municou que o programa se re­­sumiria a um editorial e eu deveria lê-lo. Recebi o texto, tomei conhecimento dos seus termos e disse textualmente: "Não leio, o editorial é mentiroso."

A televisão queria atribuir o corte da energia ao presidente da Federação Paranaense de Futebol, José Milani. Como eu sa­­bia quem era o verdadeiro autor do desligamento não apresentei o programa.

Como resposta recebi a informação de que estava demitido. O diretor pensou um pouco e sugeriu que eu pedisse uma li­cença por motivo de saúde. "Não estou doente e assumo minha decisão. Pode me demitir." E assim paguei pelos pecadores.

POST SCRIPTUM

Sempre fiz oposição ferrenha a José Milani, mas não usei uma mentira para massacrá-lo. Apren­­di o que significa ética muito jovem e jamais esqueci. Felizmente.

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