• Carregando...
Washington (9) abre o placar e estende a mão para Assis, sob o olhar de Leandro e Nivaldo (10) | Fotos: Arquivo/Gazeta do Povo
Washington (9) abre o placar e estende a mão para Assis, sob o olhar de Leandro e Nivaldo (10)| Foto: Fotos: Arquivo/Gazeta do Povo
  • Público recorde de 67.391 espectadores
  • Assis festeja gol: 32 minutos fulminantes
  • Adílio (8) é cercado por atleticanos. Duelo truncado deixou a sensação de ‘quase’ ao Furacão

Na decisão da Copa do Brasil deste ano, a partir de quarta-feira, na Vila Capanema, o Atlético tem a chance de sepultar uma frustração que o atormenta há três décadas. Pela semifinal do Brasileiro de 1983, o Furacão ficou a um gol de eliminar o Flamengo e alcançar a primeira grande final de sua história.

No confronto de ida, os cariocas fizeram 3 a 0, dois gols de Zico e um de Vítor no Maracanã. Para um conjunto que dispunha ainda de Júnior, Leandro e Adílio, a vaga parecia sacramentada naquela quinta-feira.

Confiança desmanchada rapidamente na volta. Com apenas 32 minutos de bola rolando, no Couto Pereira, Washington já havia marcado duas vezes. O gol que daria a classificação, entretanto, há 30 anos é ansiado pelos atleticanos. Assim como agora, valia uma vaga na Libertadores, pois em 83 apenas campeão e vice do país tinham acesso ao torneio.

Um lance, em especial, ainda faz muito rubro-negro acordar sobressaltado de madrugada. O placar dos fundos do estádio, lá no topo do terceiro anel, já apontava 2 a 0 quando Capitão foi lançado em profundidade por Nivaldo.

O ponteiro campeão brasileiro pelo Guarani em 1978 pela direita. Pelo meio, Abel abria os braços esperando o passe. O artilheiro Washington vinha logo atrás, também em boas condições de concluir.

Capitão teve outra atitude. Invadiu a área e disparou um torpedo. O grito de gol, entretanto, ficou entalado na garganta da galera, com a defesa espetacular de Raul, com uma ponte construída para o lado esquerdo.

Resultado: o camisa 7 não faz ideia de quantas vezes já foi perguntado por que não serviu os companheiros na jogada que poderia encaminhar o triunfo inédito. "Vou todo ano para Curitiba e sou cobrado", revela Rodolfo Carlos de Lima, o Capitão.

Mas é preciso ser justo com o paulista de Regente Feijó, hoje morador de Ribeirão Preto. Foi o ex-jogador o autor dos dois cruzamentos, milimétricos, para Washington balançar o barbante da meta da Igreja do Perpétuo Socorro.

"No primeiro jogo, teve um lance idêntico que eu decidi ‘cavar’ a bola e o Cantarelli defendeu. Por isso resolvei chutar forte, pois o Raul jogava normalmente em pé. Mas ele saltou e defendeu", explica Capitão, ex-auxiliar-técnico do Goiás, em busca de uma nova oportunidade na área.

"Ele lamenta a bola que não entrou, eu lamento as que entraram", relembra Raul, campeão com o Mengo posteriormente, ao bater o Santos. "Tenho 1,87 m, sou bem mais alto que o Cantarelli. Para defender uma bola baixa era mais difícil. A tese dele faz sentido", complementa o ex-goleiro e atual coordenador das categorias de base do Cruzeiro.

Ainda sobre o contra-ataque de triste memória, Nivaldo defende o ex-colega de Baixada. "O Capitão fez o certo, chutou forte. O Raul é que fez uma defesa espetacular", comenta o ex-meia-cancha.

De certo, que aquela semifinal nacional incomoda. "Não digo que foi uma frustração, pois conseguimos algo que muitos achavam praticamente impossível. Mas, é claro, gostaria muito que o nosso time tivesse passado para a final, algo que o Atlético só foi conseguir em 2001", revela Nivaldo, engenheiro civil.

Os dois choques de rubro-negros são célebres também pela mobilização nas arquibancadas. Concentraram os maiores públicos da história do futebol paranaense. No Maracanã compareceram 109.819 pessoas – nunca tantos torceram contra um time nosso.

Em Curitiba, 67.391 torcedores entupiram o Alto da Glória, recorde imbatível da praça esportiva. A renda foi outro motivo de espanto na ocasião: CR$ 51.707,400 rechearam os cofres – em valores atuais, algo em torno de R$ 867.282, arrecadação considerável em tempos de ingressos caros.

Tanta gente foi ao Couto Pereira que ocorre um "fenômeno" semelhante ao da final da Copa do Mundo de 1950, no Maracanã. Não há atleticano da antiga que não jure ter marcado presença naquela tarde nublada.

Guido Campelo esteve, de fato, nas duas partidas, no Rio de Janeiro e em Curitiba. O engenheiro civil recorda a desanimação no voo após os 3 a 0 aplicados no encontro inicial. E a explosão de alegria com os dois gols de Washington, o eterno parceiro de Assis no célebre Casal 20.

"Pouca gente acreditava, mas o Atlético foi muito valente e encurralou o Flamengo. A classificação esteve muito perto de acontecer", diz Campelo. "Fiquei nas sociais do campo do Coritiba e lembro de tudo como um grande espetáculo, um show, uma demonstração de força incrível da nossa torcida."

Campelo aproveita para revelar uma passagem inusitada da noite de 15 de maio. "Quase ninguém sabe, mas o Washington fez o terceiro gol. Ele tinha um Gol e bateu o carro no cruzamento das ruas Emiliano Perneta e Brigadeiro Franco."

Garantido para os dois compromissos da Copa do Brasil, Campelo espera por melhor sorte desta vez. "Acredito que vamos conquistar outro título nacional e, de quebra, apagar essa mágoa."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]