• Carregando...

Lá pelo final dos anos 60, quando o grande Jofre tomou conta do Atlético e rasgou o regulamento que rebaixava o clube pra Segunda Divisão do Paranaense, além de empolgar a incandescente massa rubro-negra ele fez uma promessa que só pode cumprir em parte ( morreu antes de levá-la a cabo): profissionalizar o departamento de futebol.

Almas cândidas como a do Faridinho (que fim levou?), formadas nos velhos, bons tempos do amadorismo (não raro marrom), urravam na "boca maldita" com indignada incompreensão:

– Hoje em dia, amador só o torcedor! E acrescentava, premonitoriamente: e veja lá!

Pouco menos de 40 anos depois do desabafo do Faridinho, a sua desconfiança realizou-se plenamente: agora, no ano da graça de 2006 que se inicia tão quente e promissor, a profissionalização é ampla, geral, irrestrita.

Não há mais amadores. Nem entre os torcedores. Ou melhor, sobretudo entre os "torcedores" das assim chamadas "torcidas" organizadas, mas pode chamá-las de claques – um emprego temporário entre tantos.

Antes de prosseguir creio conveniente batucar mal traçadas sobre o que nós brasileiros entendemos por amador. Ou sobre o que fizemos com o sentido da palavra amador. Com licença.

A distorção

Aqui nesse imenso pedaço do patropi a gente deu tremenda encurtada na área semântica da dita cuja. Para nós, amador é antônimo de profissional. E sinônimo de incompetência. Ou na antológica síntese da Theresa de Souza Campos, uma das nossas mulheresmusas até os anos 60: "Amador?! Só o Aguiar!"

Ora, ora, cara pálida, está mais do que na hora de revelar, de reabilitar, de rever, de repor na mesa o original, o verdadeiro sentido da palavra amador. Vamos lá? Aos dicionários, então.

Se imaginou que iria submetê-lo a tediosa enfiada de definições, eeeerrou! Serei telegráfico, rápidorasteiro como o "bilhete do suicida" tão perseguido pelo gênio do Dalton Trevisan: amador ama.

Nesse sentido ainda há amadores no mundinho do velho, do rude esporte bretão há tanto tempo profissionalizado?

Minha resposta é sim.

Além dos verdadeiros torcedores-sofredores, que amam perdidamente seus clubes-paixões, os profissionais de raça são os mais profundos amadores: amam tanto seu amor que a ele se dedicam integralmente: a profissionalização nesse contexto não passa de mera decorrência. Na verdade, é mais uma prova de amor, do amor.

– Amor a que, amor a quem?

– A coisa amada, claro. Que não é o clube, a camisa, o Hino. É o joguinho em si mesmo, sua técnica, sua arte.

Sacou, meu caro Watson? Elementar, não?

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]