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Era uma vez um ginásio de halterofilismo na mui amável, leal, heróica vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, ali pela altura dos anos 60, os "mirabilis". Na verdade eram dois ginásios – Hércules&Apolo.

Equivaliam à Academia com a maiúsculo, pois estavam mais próximos do original grego com sotaque italiano, direção do Monicelli, estrelado pelo Groucho Marx.

Claro, só remotamente se pareciam com os atuais sítios de malhação que velam por troncos&membros, mas ignoram solenemente as cabeças, esquecem olimpicamente os cérebros.

O que passa por humano nas academias me parece brutalmente mutilado, tipo só corpo, Hércules sem cabeça, Apolo sem cérebro, mistura de Primo e Carnera. Isto é, o físico do Primo com o cérebro do Carnera = Primo Carnera*, o mais primário dos pesos pesados da longa história do boxe. Voltemos aos ginásios.

Muitcho djoidjo

Neles se modelavam músculos, entrava-se em forma, perdia-se peso, barriga, cintura, gorduras&gordurinhas, atletas profissionais recuperavam músculos, mas especialmente se ria, se gargalhava. Pois eram sobretudo centros de "encabulação, desacato", de sarro, deboche, irreverência. Tudo sob o hilário comando do Arthur Theóphilo de Souza Castro.

Meu filho, acredite, nunca verás nada parecido. Nem tão louco. No bom sentido. Quer ver cena típica?

Tarde de um final de semana de verão curitiboca. Gente a sair pelo ladrão. Os balés completos, presentes, ativos; astros e estrelas a "puxar ferro" furiosamente; aqui, ali, acolá, explosões de gargalhadas, discussões, palavrões, urros, assobios, gemidos, dores, força&saúde, sangue-suor-trabalho, ruídos dos ferros em movimento, atmosfera repassada de zigue, sovaco, chulé. Na frente de grande espelho, a submeter pesada roldana aos seus caprichos, quem vemos, cara pálida?

Se respondeu ele, primeiro, único, grande mestre, o já citado Arthur Theóphilo de Souza Castro, acertou na mosca.

Com a mão direita baixa o peso; com a esquerda, segura "liso" de cognac; na boca, fumegante "half corona". Que não o impede de sacudir a pança, comandar a massa:

– Põe mais peso, rato! Verme, pagou a mensalidade? Diminua a carga, cretino! Assim machuca, idiota! Monstro, sai da frente do espelho. Desista, dragão. Maçã, para que músculo se você é covarde? Preencheu a ficha, figura repugnante? Como vocês são feios, deformados. E ninguém se ofendia, todos riam.

Nota

* Não resistirei à tentação de contar o comentário do Carlos Lacerda sobre o Ranieri Mazzili: "Tem a pose de um senador romano e o cérebro do Primo Carnera".

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