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Alô, alô, Realengo. Os textos "Seleção peru: morreu na véspera" (I e II), publicados neste egrégio espaço, são da lavra do Bufo, mas não Spallanzani, chapinha, publicitário, gozador, sarrista, pra usar gírias contemporâneas das Cruzadas. Acho que ele os batucou pra parovocar o time do "por que me ufano do meu país", time bissexto como a Copa do Mundo de seleções, time que só se reúne a cada quatro anos – ou a cada quatriênio, para falar pernosticamente.

Como adoro heterodoxias e detesto o politicamente correto, como gosto de andar na contramão e odeio modas, como admiro "o inimigo do povo"* e desprezo populistas, como respeito os corajosos e desdenho aduladores, publiquei o bicho, o Bufo. E esperei pelo pior, pelos insultos, agressões, chutes, cotoveladas, tudo.

– "Quando o carteiro chegou/ e meu nome gritou/ com uma carta na mão.// Ante surpresa tão rude/ não sei como pude chegar ao portão. Pois não é que a rapaziada deu o maior apoio ao Bufo! Ninguém o contestou, ao contrário.

– E agora? Não se fazem mais ufanistas como antigamente? Mudaram os ufanistas ou mudou a seleção?

Por falar em seleção. Aproveite o embalo, vá às boas casas do ramo – livrarias, sebos, bibliotecas - compre ou empreste livro de crônicas futebolísticas do Nelson Rodrigues, selecionadas, organizadas pelo Ruy Castro, editado pela Cia. das Letras.

Isso feito, volte para casa, mas não abatido, não desconsolado da vida, não. Volte pra casa a prelibar o banquete à sua disposição, a curtir antecipadamente o imenso prazer que terá com a leitura do maior cronista esportivo do mundo e de todos os tempos, do soberbo prosador que foi o Nelson.

Em casa, escolha um cantinho, sente-se com o seu livrinho, e divirta-se, e deleite-se. Você nada tem a perder exceto seus grilhões.

– Que inveja sinto de você, cara pálida! Que tem a obra do Nelson para ler, para descobrir, para percorrer como território inexplorado, virgem. Você gastará uma merreca e será o feliz proprietário, o afortunado proprietário de umas poucas centenas de páginas primorosas, jóias da língua, de qualquer língua.

– Que inveja sinto de você, cara pálida! Com tantas páginas do Nelson para ler, para curtir, páginas para você totalmente inéditas. Sabe lá o que é isso? É a felicidade.

Nota

* Título da sempre atual peça do Ibsen (1828-1906). Você a encontra nos sebos com outras cinco, prefácio do Carpeaux, sob o título Seis dramas, editado em 1944 pela saudosa Livraria do Globo, Porto Alegre, dirigida pelo Érico Veríssimo. E até hoje inigualada.

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