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Pouca gente hoje poupa o chocolate. O culto do físico, das academias, dos spas e o bombardeio da indústria do emagrecimento fizeram do chocolate um pecado, um vício a que os perdidos se entregam às escondidas.

Fumantes incômodos, boêmios afeitos ao álcool pesado, glutões que se entopem de carne nas churrascarias de espeto corrido, todos são mais ou menos aceitos. O comedor de chocolate é visto, no mínimo, com reservas.

Não sei se o artilheiro Ronaldo é gordinho por causa do chocolate – dizem alguns que ele gosta de comer bem; de tudo, muito –, mas a verdade é que ele resolve. Tanto quanto Puskas, o legendário craque húngaro que brilhou no Real Madrid ao lado de Di Stefano, que era baixote, gordito e jogava um bolão; ou como o alemão Gerd Müller, que foi o maior artilheiro de Copas até Ronaldo igualá-lo, e carregava o apelido de Gordo Müller.

Tudo bobagem. Chocolate em pequenas doses é ótimo e Ronaldo, mesmo acima do peso, também é ótimo. Ele sabe se posicionar em campo, possui visão periférica, tem arranque e sabe finalizar como poucos. Até o cabeceio, que não era ponto forte em seu repertório, foi aprovado no último jogo. Claro que se conseguir perder mais alguns quilos vai terminar a Copa voando e batendo todos os recordes de gols.

Mas Ronaldo jogou melhor contra o Japão e marcou gols porque recebeu mais passes, mais lançamentos e mais cruzamentos. Tudo por causa das presenças de Cicinho, Gilberto, Gilberto Silva, Juninho e Robinho que deram vida a seleção e transformaram aquele futebol chocho, sem graça e sem criatividade das pálidas vitórias sobre Croácia e Austrália em pura alegria.

Parreira teve a inteligência de promover as mudanças reclamadas por todos e exigidas pelas circunstâncias.

Resta saber se terá a sabedoria de mantê-las.

Se recuar, escalando de volta aqueles que vinham jogando nas asas da fama e do tempo de serviço na seleção – Cafu marca mais e apóia menos, Roberto Carlos perdeu o viço, Emerson marca bem mas erra muitos passes e Adriano forma ao lado de Ronaldo um ataque de pebolim –, Zé Roberto é o único que merece voltar ao time, Parreira correrá todos os riscos até o final da Copa do Mundo.

A seleção do povo foi a que jogou contra o Japão, mas a responsabilidade de repeti-la é de um único homem: o técnico Carlos Alberto Parreira. Por isso ele ocupa o cargo mais importante da seleção brasileira e é muito bem remunerado para desempenhar as suas funções.

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