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Antes de a seleção brasileira conquistar o primeiro título mundial, o que mais se ouvia era a busca dos responsáveis pelos fracassos nas copas anteriores.

Lembro ter ouvido na infância, entre outras coisas, que "a falta de Domingos da Guia – pai de Ademir da Guia – em Piola, no pênalti que tirou o Brasil da Copa de 1938, aconteceu fora da área"; "Obdulio Varela ganhou a Copa de 1950 no grito em pleno Maracanã"; ou que "a seleção brasileira levou um passeio da Hungria e apelou para a ignorância".

O tempo passou, o Brasil já faturou cinco copas e entregou outras de bandeja, mas as discussões e, sobretudo, as dúvidas persistem.

O italiano Silvio Piola terminou os seus dias num asilo em Vercelli, logo ele que provocou verdadeira comoção nacional graças à apaixonada e nada imparcial transmissão do locutor Gagliano Netto, para o qual o Brasil foi roubado no jogo contra a Itália na eliminação de 1938.

Sem querer entrar na polêmica de um lance que aconteceu há tanto tempo, gostaria de lembrar que Piola era tão ágil, tão esperto, que num jogo contra a seleção da Inglaterra, em Milão, fez um gol com a mão. O lance foi rápido e nem o rigoroso juiz alemão Bauwens notou que o gol tinha sido ilegal. Na realidade, todos ficaram em dúvida se tinha sido uma cabeçada ou um chute de esquerda, ou direita, tipo bicicleta.

Piola foi um dos maiores goleadores do futebol italiano, tendo marcado 30 gols em 34 jogos pela seleção, destacando-se o feito sobre a França que abriu as portas do segundo título mundial da Azurra.

Obdulio Varela não ganhou nada no grito na finalíssima do Maracanã, que os uruguaios, ironicamente, apelidaram de "Maracanazo". Ele, como capitão da Celeste, apenas exerceu a sua liderança junto aos companheiros diante de um adversário tecnicamente bem dotado e que havia goleado quase todas as seleções até aquela fatídica tarde de 16 de julho de 1950.

Favorito absoluto, o Brasil abriu a contagem e, como jogava pelo empate, passou a dar show quando sofreu a virada uruguaia no lance em que o ponteiro Gigghia errou o chute ao tentar cruzar a bola e acabou surpreendendo o goleiro Barbosa.

Na Copa de 1954 todos levaram banho de bola da Hungria, inclusive a Alemanha que só venceu a partida final porque Puskas jogou machucado e o árbitro inglês Ling deu a maior força com erros incríveis de interpretação.

O divisor de águas do futebol brasileiro aconteceu mesmo com a convocação de um menino de 17 anos, que havia surgindo no Santos seis meses antes da Copa de 1950. Com o jovem e talentoso Pelé, somando-se a categoria de Garrincha, Didi e outros craques de uma geração verdadeiramente de ouro, a seleção mudou a história do futebol mundial.

Como sentenciou Nelson Rodrigues "ali o Brasil abandonou o complexo de vira-latas e passou a ser respeitado como potência do futebol".

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