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Os apreciadores do bom vinho, que vão do padre da minha paróquia ao ponta-esquerda do Trieste, de Santa Felicidade, estão em polvorosa com a notícia de que o governo tem planos para atrapalhar a vida dos importadores, incrementando a venda do produto nacional. Se acontecer, a iniciativa irá coroar o nacionalismo daqueles que se negam a cumprir os compromissos assumidos com a Fifa quando o país topou sediar a próxima Copa do Mundo. A arrastada discussão em torno da liberação da venda de bebidas alcoólicas nos estádios, durante o Mundial, detonou um verde-amarelismo na defesa da soberania nacional que não se via há tempos.

Não é taxando os grandes vinhos franceses, italianos, portugueses e espanhóis que o vinho brasileiro deixará de ser visto como uma bebida com potencial de crescimento, porém há anos luz da qualidade da produção europeia. Talvez os excelentes argentinos e chilenos se safem, como acontece com as importações que regulam os interesses do Mercosul.

Se canetada resolvesse, o governo podia aproveitar e determinar que brotem em nossos bosques cogumelos porcini na mesma proporção do capim barba de bode ou, aqui na terra das araucárias, trufas brancas na mesma quantidade de pinhões. Essa discussão, com fortes teores xenófobos, deságua na angústia do torcedor da dupla Atletiba que, pelo andar da carruagem, vai decidir mais um titulo estadual, ao mesmo tempo em que tem os holofotes projetados sobre seus times para os jogos pela Copa do Brasil.

Da mesma forma que os produtores nacionais de vinho reclamam da boa qualidade e dos preços convidativos dos importados, os dirigentes da dupla Atletiba reclamam da desproporção entre o que arrecadam e as responsabilidades assumidas pela sua tradição.

Ou, por outra: qual é mesmo a estatura de Atlético e Coritiba no panorama nacional?

Para exemplificar, a diretoria do Coxa andou sondando alguns jogadores de alto nível para reforçar o elenco que disputará a Série A e, entre os consultados, figurou o meia Elano, que não vem sendo aproveitado como titular no Santos. Ele se dispôs a vir, desde que se mantivesse o salário que recebe na Vila Belmiro: R$ 420 mil por mês. Pano rápido e mudança de cena.

Do mesmo jeito que é complicado para o vinho brasileiro competir com os premiados europeus, está ficando cada vez mais difícil os nossos times igualarem forças com o eixão do futebol.

Sem estádios em boas condições, sem maiores possibilidades de ampliar o raio de influência estadual para aumentar o volume de simpatizantes – e, consequentemente, de conquistar novos sócios –, sem a mesma capacidade de revelar bons jogadores e com verbas menores no mercado televisivo, publicitário e de venda de produtos ligados aos clubes, a dupla Atletiba diminuiu de tamanho nos últimos anos.

É a dolorosa realidade, mas as cobranças continuarão.

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