• Carregando...

O diretor cinematográfico Michael Curtiz foi im­­pi­­edoso com a legião de es­­pectadores da sua o­­bra-prima, o clássico Casa­­blanca.

Na sequência final o par Ingrid Bergman e Humphrey Bogart não termina junto – não há assim um "happy end" ro­­mântico. Berg­­man entra no avião que a li­­­vrará, com o marido, da perseguição nazista; Bo­­gart, por sua vez, permanece em terra, convidando um policial francês para um drinque no seu Rick`s Café Americain.

Não foram poucos os críticos que se surpreenderam com este corte na tradição hollywoodiana, que recomendava o "the end" idílico para o casal apaixonado de um filme; não foram poucos, também, os cinéfilos que se dedicaram à tarefa de inventar outra sequência de encerramento, na qual Bergman e Bogart comemorariam com um beijo à francesa a decisão heroica da mocinha – trocar o certo pelo duvidoso, a fuga pela paixão.

Curtiz não poderia prever, mas terminou criando o pretexto para uma das maiores obsessões do cinema – todo mundo, se estivesse em seu lugar, teria mudado o último diálogo da dupla, as últimas tomadas, o próprio espírito do filme. E não há nada de estranho nisso: quantos torcedores, se estivessem no lu­­gar de um craque que acabou de perder um gol feito em decisão de campeonato, não gostariam de imaginar desfecho diferente para o lance?

Diversas vezes já ouvi torcedores do Atlético procurando explicações para a perda do bicampeonato brasileiro no empate com o Grêmio, em Erechim, depois de o time estar ganhando de 3 a 0. Muitos chegaram a sonhar com outro final, um final feliz para as cores rubro-negras, é claro.

Ou quantos torcedores do Coritiba não acordaram no meio da noite, interrompendo o pesadelo, imaginando poder mudar o final do último jogo com o Flu­­minense? Tenho vários amigos coxas que sonharam estar vestindo a camisa de Marcelinho Paraí­ba para marcar aquele golzinho que faltou no segundo tempo tenso e melancólico que provocou a ira de dezenas de torcedores na chocante invasão de campo.

Até hoje milhões de brasileiros sonham com outro final para o enredo da partida entre a nossa seleção e a Itália, na Copa de 1982. Nem mesmo a derrota na final de 1998 para a França mexeu tanto com o torcedor brasileiro como aquele jogo perdido para os italianos em condições absolutamente extravagantes pelo retrospecto das duas equipes no torneio.

Todos andamos atrás de um final feliz para a própria vida.

Ao iniciarmos um novo ano, respiramos fundo, agradecemos a Deus por estarmos vivos e projetamos o futuro da melhor maneira possível.

Dia a dia, alguns sonhos se realizam, outros se desfazem, mas continuamos em frente, otimistas, confiantes, sempre acreditando que teremos um final feliz.

Seja no campo dos sonhos ou das realizações, afinal a vida é um misto de fantasia e realidade, mais ou menos como acontece no campo de futebol.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]