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Estamos no domingo de carnaval em uma época na qual muita gente entende que o povo brasileiro não tem motivos para comemorar. Os políticos, os governantes e os empreiteiros exageraram na dose, a ética e a moral pública foram para o espaço e a economia do país derreteu.

Como quem paga a conta é o contribuinte, ou seja, nós mesmos, talvez fosse o caso de em vez do carnaval estivéssemos mobilizados em vigília cívica para propor mudanças radicais na forma de se fazer política, eleições e, sobretudo, gestão pública.

Mas como o povo gosta da folia até o futebol entrou em recesso e só voltará no próximo final de semana.

O carnaval está aí e duvido que os sambas-enredo apresentados ou as poucas marchinhas preparadas para este ano entrem na história da nossa música popular.

Irão certamente, junto com adereços e fantasias, para o lixo ou para a reciclagem. Até a madrugada da Quarta-Feira de Cinzas alguns refrões e trechos de melodia serão lembrados. Até domingo que vem tudo já estará esquecido.

Não que todos os sambas sejam ruins, como querem os críticos radicais que comentam os desfiles pelas redes de televisão, mas falta, mesmo nos melhores, aquilo que distingue o efêmero do clássico.

Meu apreço pelo carnaval se resume, hoje, e não é de hoje, aos sambas e às marchinhas que embalaram a minha infância e juventude. São essas músicas que me fazem recordar dos bailes e das brincadeiras.

"Eu sou o pirata da perna de pau..."; "Morena da cabeça aos pés/ Morena eu te dou grau dez";

"Ei, você aí, me dá um dinheiro aí" e, esta, uma das letras mais engraçadas no samba "Maria Candelária/ É alta funcionária/ Saltou de paraquedas/ Caiu na letra 'O', oh, oh, oh, oh" na voz alegre de Blecaute, o eterno General da Banda.

O samba-enredo é considerado por alguns como a mais frágil de todas as modalidades do samba. Os autores, de modo geral, são levados a exibir uma cultura que não possuem e disso resulta nas letras um versejar postiço para que as alegorias façam sentido na avenida.

O "Samba do Crioulo Doido", de Sergio Porto – o grande Stanislaw Ponte Preta –, gravado em 1967, representa a síntese da genialidade carnavalesca: "Foi em Diamantina/ onde nasceu Jotacá/ que a Princesa Leopoldina arresorveu se casá/ mas Chica da Silva tinha outros pretendentes/ e obrigou a princesa a se casar com Tiradentes/ lá ia lá ia lá ia/ o bode que deu vou te contá...".

Uma boa anedota entre os sambistas cariocas é de que certo compositor, querendo invocar os feitos da Inglaterra na Segunda Guerra Mundial e forçando todas as barras da rima, escreveu: "Deflagrou o último cartucho/ o grande Winston Churcho...".

Chega de saudade. O tempo não para. Bom carnaval a todos e que o Brasil não perca o trem que já está atrasado. Haja alegria !

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