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Talvez o mais antigo costume do homem seja a idolatria, revelando insegurança e a necessidade de eleger um líder para ser guiado.Não raras vezes, para o bem ou para o mal, a idolatria assume ares de religiosidade, com centenas de exemplos através dos tempos. Só para ficarmos com os mitos produzidos nos últimos 200 anos da história: Napoleão, Lincoln, Bismarck, Clemenceau, Lênin, Stalin, Mussolini, Hiroito, Hitler, Churchill, Roosevelt, De Gaulle, Getulio Vargas, Perón, Mao Tse Tung, Kennedy e por aí afora.

Nas artes, nos esportes, enfim, em todas as atividades da humanidade são comuns as eleições dos melhores e maiores, merecendo capa na revista Time.

Quem vive alardeando que conhece a Bíblia e vive citando versículos até para escovar os dentes deve, ou devia, saber muito bem a diferença entre idolatria e culto. No caso da idolatria, o objeto da adoração concentra em si mesmo toda a suposta força divina, e é dele, daquele objeto, que emanam os supostos efeitos sobrenaturais. No caso do culto, não.

Imagens e símbolos sempre fizeram parte da memória dos homens. Ninguém em sã consciência vai atribuir à madeira, ao gesso, à fotografia ou ao mármore a ocorrência de milagres ou de conforto espiritual. Aliás, quem teve pai e mãe sabe muito bem disso. O retrato, o quadro, a cadeira onde eles se sentavam, a casa construída com tanto amor e sacrifício são riquezas, recordações, lembranças que tornam mais suave a ausência.

Por isso, os ídolos da música, do teatro, do cinema, dos esportes, são tratados com ternura e carinho em retribuição à arte e as alegrias que proporcionam aos fiéis seguidores. O perigo está representado pela idolatria, que é adorar coisas, objetos da estrela como se deles emanasse força. O fato de termos imagens de santos em nossas igrejas nunca significou que sejam para nós, bezerros de ouro, diante dos quais nos prostramos em adoração.

A palavra "canonizar", que usamos para definir nossos santos, vem do grego e significa regra, norma, modelo. Santo canonizado significa vida que serve de modelo.

Modernamente, graças ao processo evolutivo natural dos meios de comunicação, redes sociais e tantas outras plataformas que se renovam a todo instante, o culto adquiriu prazo de validade. Basta qualquer deslize na vida privada do astro ou algum incidente que choque os fãs, para o ser idolatrado ter diminuída a sua influência ou até mesmo cair em desgraça.

Isso tem sido muito comum no futebol, esporte catalisador de quase todas as emoções humanas, no qual o torcedor alimenta a sua paixão pelo clube e pelo ídolo, mas não perdoa as falhas em campo e os deslizes na vida privada. O apaixonado por futebol reconhece o craque, mas exige comportamento compatível com o amor que lhe é dedicado. Porém, nem todos os craques correspondem às expectativas dos adoradores.

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