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Vêm chamando a atenção os confrontos entre as facções de torcidas uniformizadas do Atlé­­ti­­co, dentro e fora do estádio.

Agiu corretamente a direção do Coritiba ao impedir a de­­mons­­tração de estandartes das torcidas organizadas desde os graves acontecimentos de 2009, no Alto da Glória.

Como registra a música de Caetano Veloso, alguma coisa está fora da nova ordem mundial.

Uma delas se refere aos pa­­drões de sociabilidade e de convívio produzidos pelos agrupamentos de torcedores. Passam e entram campeonatos e os fanáticos e intolerantes dessas facções organizadas voltam à carga.

A última moda é fiscalizar os profissionais em suas horas de folga. Outro dia alguns torcedores do Fluminense ameaçaram o jogador Fred, que bebia em dia livre com amigos.

Nesta semana, João Vitor, do Pal­­meiras, foi covardemente agre­­dido por torcedores em frente à sede do clube.

Torcida deveria apenas torcer e não se transformar em es­­pécie de grupos paramilitares, cuja atuação neonazista ou co­­munista tem como foco fiscalizar a vida particular, principalmente dos atletas.

Ganhando muito dinheiro, constantemente expostos aos holofotes da mídia e badalados diariamente pela natureza da profissão que se aproxima de pop star, os atletas ficaram sujeitos a esse tipo de vigilância.

O que os atletas fazem fora do horário de trabalho, com seus carrões, com seu dinheiro, com sua alimentação ou com seu vigor físico não deveria ser objeto de investigação de ninguém. O atleta deve ser cobrado impiedosamente apenas pelo que faz ou deixa de fazer em campo, pelos resultados para a obtenção dos quais são muito bem remunerados.

Está jogando mal, não faz gol, está com velocidade de cá­­gado, merece ser criticado e até mesmo questionado. É assim que funciona em qualquer em­­presa.

O linchamento moral e profissional executado por esses grupos, que se autodenominam guardiões do patrimônio simbólico, histórico e emocional dos clubes, deveria merecer a atenção das autoridades policiais e, em particular, dos procuradores de Justiça do estado.

O curioso é que, de certa forma, essas torcidas organizadas estão em perfeita sintonia com esses dias de decadência moral do país.

Os maus exemplos mostrados, diariamente, por políticos e administradores públicos, so­­mados ao sucateamento das grandes cidades brasileiras, que oferecem muito pouco em termos de educação e lazer à juventude engrossam as fileiras dos descontentes que se unem em torno de uma bandeira ou de um símbolo com força popular.

Para eles resta entrar para os movimentos que protestam contra a corrupção nas ruas ou para os grupos que dominam os estádios de futebol.

Para nós, torcedores não or­­ga­­nizados, resta se afastar, gradualmente, dos templos sagrados do futebol. Em casa, em fren­­te da televisão, o risco que se corre é cair da cadeira.

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