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Com a morte de João de Pasquale chegou ao fim um pedaço importante da história popular de Curi­tiba.

O calabrês, que chegou criança ao Brasil, passou toda a vida em nossa cidade e tornou-se conhecido pelo jeito característico de ser. Brincalhão, inteligente, amigo de todo mundo, envolvido com o Atlético, onde jogou como atleta amador e foi técnico das divisões de base, comentarista de rádio, formou famosa dupla com Vinícius Coelho na televisão, ele criou ex­­pressiva rede de amigos.

Primeiro, na Rua Westphalen; depois, durante quarenta anos, no Passeio Público, pontificaram no antológico bar "Lá no Pasquale" políticos, governantes, empresários, esportistas, estudantes, jornalistas, intelectuais, enfim, Curitiba inteira passou por lá para os aperitivos, como o bolinho de arroz adorado por Jaime Lerner, o minipastel preferido por Ney Braga ou a imperdível feijoada que nos sábados superlotava o bucólico reduto.

No tempo em que muitos ho­­téis não possuíam restaurantes – décadas de 50, 60 e 70 – as delegações esportivas faziam as refeições lá no Pasquale. Até a seleção brasileira passou pelo recanto – para um jogo amistoso com o Coritiba em 1968 – e o técnico Oswaldo Brandão, que conhecia a fama de Pasquale como rigoroso crítico dos treinadores em geral, foi na frente dos jogadores – Pelé, Gerson, Tos­tão, Rivelino e todo o elenco do tricampeonato mundial dois anos depois – perguntando "onde esta o demolidor de técnicos do Para­ná?".

Tornaram-se amigos, pois o italiano já era compadre de Tim, Elba de Pádua Lima, e mantinha longa amizade com Filpo Nuñes – tendo sido auxiliar-técnico dos dois no Atlético .

Com Tim, houve passagens ho­­méricas, como na noite em que discutiam táticas de futebol, afastaram os copos e começaram a expor os seus conceitos à plateia. Tim pediu para Jonas, mordomo impagável, levar onze empadinhas para "armar" o seu esquema e Pasquale pediu onze quibes para contra-atacar. O resto da galera ficou de pé, em torno da mesa, acompanhando as manobras daquele verdadeiro xadrez futebolístico.

Depois de meia hora de evoluções estratégicas, Pasquale piscou para o deputado Luizito Malucelli e falou baixinho: "O Tim ainda não notou, mas faz dez minutos que o Carraro – Maurino Carraro, cartorário – comeu o ponta esquerda dele..."

Evangelino Neves, no auge das conquistas do Coritiba, ia ao bar para provocar o atleticano Pas­­qua­­le e tentar descobrir alguns segredos de Tim, técnico do time. Certa feita, acompanhado pelo supervisor Almir de Almeida, o presidente coxa-branca perguntou-lhe se sabia algum plano de Tim para uma partida importante pelo Cam­­­­­­peonato Brasileiro. Pasquale, com ar sério, respondeu: "Só va­­mos decidir depois do jantar..."

Com a morte de Pasquale, apagou-se um pedaço do folclore da cidade. Foi-se o homem e ficou a lenda.

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