• Carregando...

Já disse e não me canso de repetir que se Nelson Ro­­drigues tivesse escrito as suas peças, os contos e os artigos em inglês, estaria figurando entre os grandes das letras mundiais em todos os tempos. Seria uma espécie de Shakes­­peare tropical, na condição de cronista do cotidiano como poucos foram.

Só que ele não escreveu no idioma que domina o planeta, mas nem por isso deixa de ser o nosso herói literário de todos os dias, citado a todo instante.

Uma de suas antológicas sentenças tratava dos termos que usamos diariamente, afirmando, de forma veemente, que so­­mos falsários da palavra: "Um bom dia é uma moeda falsa que passamos adiante, e o "muito pra­­zer", outra, e o "Deus o abençoe", outra. Ora, um "bom dia" teria de ser um gesto de amor, e de amor para sempre. Mas a verdade é que, desde o automatismo do cumprimento até o fatal "eu te amo" nós falsificamos tudo. A partir do momento em que in­­ventamos a palavra, o mundo perdeu toda a sua realidade.

Vejamos um simples envelope. Lá está escrito: – "Exmo.Sr." ou "Exma.Sra.". Acontece que o "Exmo.Sr." não é "Exmo", absolutamente e, pelo contrário, pode ser um biltre. Por sua vez, a "Exma.Sra." pode não passar de uma Messalina. Assim, nada mais irreal, nada mais alucinatório do que um simples envelope. Ele se dirige a um ser que não existe, nunca existiu".

Genial, não? Pois é, também tivemos os nossos gênios literários, mesmo escrevendo em português, idioma que foi usado como código secreto durante a última Grande Guerra.

Mas, enfim, vamos ao que interessa. Dei essa volta toda pelo prazer de citar o grande Nelson e para justificar o título deste artigo: Não pode parar.

Vejam só como é o futebol. Bem que os técnicos e, sobretudo, os preparadores físicos estariam agradecidos se a temporada oficial do futebol brasileiro começasse apenas no mês de fevereiro. Eles teriam o mês de janeiro inteiro para a desintoxicação e o recondicionamento dos jogadores, como acontece nos países do Primeiro Mundo, onde é concedido o tempo de 45 dias para a pré-temporada. Mas aqui a bola não pode parar pelos múltiplos interesses que envolvem o futebol nativo.

Para a continuidade dos campeonatos estaduais, que nada mais representam do que artifícios políticos de manipulação eleitoral por parte dos presidentes das federações, encurta-se o período da pré-temporada e sobrepõe a Copa do Brasil aos demais torneios nacionais, vindo a seguir a superposição com a Libertadores e a Copa Sul-Ame­­ricana, daí com um calendário mais equilibrado.

A Sul-Americana é uma curiosidade, pois quando o time escapa do rebolo do rebaixamento e ganha uma vaga na competição internacional é um alivio. Funciona como um bálsamo, mas no ano seguinte a Copa Sul-Americana acaba funcionando como espinho porque o drama para fugir do rebaixamento continua. E a bola não pode parar.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]