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Toda unanimidade é burra, costumava dizer Nélson Rodrigues. Mas algumas unanimidades além de não serem burras são óbvias. Até mesmo o mestre reconheceria como o óbvio ululante, outra de suas célebres frases. Não se discute o óbvio, ainda mais se ululante e unânime.

Vamos, então, passear em torno de algumas dessas unanimidades óbvias do futebol que fizeram milhares ulular através dos tempos.

Sempre que ouço ou leio alguma notícia sobre o valor do passe – ou dos direitos federativos, se preferirem –, de um grande craque do presente, imediatamente lembro-me de dois fenômenos do passado, talvez os maiores de todas as épocas, que iniciaram e brilharam jogando por um único clube: Garrincha e Pelé. Quanto eles valeriam no mercado de hoje?

Esqueçam, por favor, que Garrincha jogou algumas partidas no Corinthians e que Pelé encerrou oficialmente a carreira como jogador do Cosmos. O auge de Garrincha foi no Botafogo e a passagem pelo clube paulista beirou a tragédia diante do seu lastimável estado físico, da mesma forma que o apogeu de Pelé foi no Santos e a sua passagem pelo clube norte-americano deu-se apenas para recuperar o dinheiro perdido em maus investimentos realizados.

Garrincha foi espetáculo; Pelé foi eficiência.

Há 50 anos, o poderoso empresário Gianni Agnelli - "Il avoccato" não um advogado, mas o advogado –, dono da Fiat e presidente da Juventus de Turim, ofereceu um milhão de dólares para levar um dos dois para o futebol italiano. Não conseguiu. Não entendo muito de finanças, mais imagino que um milhão de dólares bem aplicados ao longo de meio século deve representar uma grana preta.

Se Kaká rejeitou ser negociado por 130 milhões de euros – o euro está valendo três vezes mais que o real – e o mercado fixou em 180 milhões de euros o preço de Cristiano Ronaldo, qual seria o valor de Pelé ou Garrincha?

Pelo que eles jogaram, arrebataram, encantaram, emocionaram, conquistaram e realizaram pelos seus times e pela seleção brasileira poderiam valer, vejamos, talvez 300 milhões de euros cada um. Concordam?

Bem, sei que é difícil analisar sobre hipóteses, mas é gostoso viajar pela memória, pelo tempo e pela maravilhosa ilusão que só a vida pode nos proporcionar. Apenas quem os viu em ação poderia avaliar preciosidades tão raras.

Quando os dois levantavam taças a todo instante, ora pelas suas equipes, ora pela seleção brasileira e batiam recordes atrás de recordes – Garrincha, recordes de dribles desmoralizantes e assistências perfeitas para Paulinho Valentim, Quarentinha, Vavá e outros e Pelé recordes de gols e títulos – havia outros jogadores renomados, como os argentinos Sivori, que jogava na Itália e Di Stefano, que jogava na Espanha, mas nenhum deles alcançou a glória internacional da dupla brasileira.

Unanimidades eternas, Pelé e Garrincha foram o óbvio ululante.

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