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Há em nosso universo etimológico algumas palavras de conteúdo mágico: amor, paixão, esperança, fé, entusiasmo; e, também, algumas palavras de conteúdo trágico: ódio, inveja, desilusão, desesperança, decepção.

Sem maiores pretensões filosóficas, pode-se afirmar que, sendo o homem o único animal que pensa e, por isso, tem consciência de que é mortal, ele busca em missões e obras externas a si as alavancas que o alcem à eternidade. Ícaro construiu asas, mas não só porque invejasse os pássaros. Mais importante, para ele, era escapar do labirinto absurdo e entediante que significava para si a contingência da própria existência humana.

O instinto realizador justifica, por si só, o sentimento de orgulho e êxtase de que se toma o homem ao construir algo definitivo, ou, pelo menos, de longa duração. Os homens se vão, mas suas obras permanecem. E essa sensação de plenitude, esse encontro efêmero com Deus e com a imortalidade, é que o faz feliz e satisfeito.

Somos provisórios, mal arranhamos as areias do tempo, mas as obras são perenes.

Os leitores hão de se perguntar por que um articulista de esportes dedica algumas linhas a raciocínios tão etéreos. É que eles têm tudo a ver com o momento que vivemos no pobre futebol local.

Foi um sentimento bonito que impulsionou aqueles que construíram os nossos principais estádios de futebol, curiosamente dois deles inacabados até hoje. O primeiro, o vestuto Durival Britto foi erguido para servir como um dos palcos da 1.ª Copa do Mundo realizada no Brasil e acabou, inexoravelmente, superado pelo tempo.

O majestoso Antônio Couto Pereira serviu durante décadas a todos os times da cidade, com destaque ao Coritiba, seu proprietário, e ao Atlético que, pelo gigantismo da sua torcida, não conseguia abrigá-la na modesta antiga Baixada. Foram anos a fio de excelente relacionamento entre a dupla Atletiba, com o Furacão pagando o justo aluguel de campo e escrevendo a sua história na casa do grande rival.

O Coritiba beneficiou-se do aluguel, pois naquele tempo pré-verbas da televisão, pré-publicidade na camisa e pré-parcerias com grupos de investimentos, os clubes viviam, basicamente, do dinheiro arrecadado nas bilheterias.

O Joaquim Américo, nosso estádio mais antigo, transformou-se na moderna Arena da Baixada que agora será terminada para servir como um dos cenários da segunda Copa do Mundo no Brasil.

Como fechou o estádio para cedê-lo à Fifa na Copa, o Furacão necessita jogar em um local à altura do seu quadro social, mas desta vez não conta com a boa vontade do Coxa, que, por um capricho da rivalidade potencializada ao máximo, contraria as suas elevadas tradições e nega o empréstimo.

Triste episódio que serve apenas para realçar a pobreza de espírito dos envolvidos.

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