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"O videoteipe é burro!". Com esta frase Nelson Rodrigues encerrou uma das acaloradas discussões travadas no antológico programa de televisão Mesa Redonda Facit.

Era a época pré-Embratel, portanto sem redes nacionais de televisão ao vivo, com programas locais discutindo a rodada dos campeonatos estaduais no domingo à noite.

Havia um programa semelhante aqui, com o mesmo patrocinador – calculadora Facit –, comandada por Vinicius Coelho, contando com Fedato, Toca­fundo, Jackson, Clemente Co­­­mandulli e João de Pasquale, no qual atuei como repórter.

O grande Nelson Rodrigues discutia futebol na mesa carioca com Armando Nogueira, João Saldanha, José Maria Scassa e Aquilles Chirol.

Houve um pênalti claro contra o Fluminense, em jogo no Maracanã, e Nelson, com sua indisfarçável paixão tricolor, considerou absurda a marcação da penalidade e pediu em altos brados: "Câmera em mim! Se o videoteipe diz que foi pênalti, pior para ele. O videoteipe é burro!"

Foi, talvez, a última tentativa de um romântico do futebol contestar a imagem gravada e repetida a exaustão como acontece hoje nas transmissões de qualquer modalidade esportiva.

Foi aumentando cada vez mais a presença da tecnologia e da eletrônica nas transmissões até que, hoje em dia, técnicos, jogadores e, sobretudo, árbitros e bandeirinhas são colocados em xeque a todo instante.

Só que a coisa começou a ganhar contornos perigosos na medida em que as imagens ao vivo, repetidas logo após o lance com o comentário do analista de arbitragem que recorre ao videoteipe para emitir sua opinião final, decidem o comportamento do juiz do jogo.

O pobre do homem com apito na boca não dispõe dos recursos tecnológicos dos comentaristas e se vale apenas dos próprios olhos e da intuição no momento da jogada. Erra como erram os humanos.

Porém, para o publico espectador, ele teve julgamento sumário durante a partida. Sem direito a recurso, tanto quanto os times litigantes já que o judiciário esportivo não aprecia erros de fato.

Esportes de ponta em vários lugares do mundo permitem que os árbitros consultem as imagens gravadas, em caso de lances críticos. Menos o futebol. Claro que não sou defensor do uso da tecnologia para resolver todas as questões de interpretação, apenas as mais polêmicas.

Sem poder apelar para o re­­curso do videoteipe, proibido pelo International Board, o órgão supremo de arbitragem da Fifa, os apitadores continuam enfrentando dificuldades.

Ainda está fresca na memória de todos, a decisão daquele árbitro no lance em que o jogador do Egito cometeu pênalti na partida com o Brasil, pela última Copa das Confederações, e ele só confirmou a infração depois que o quarto árbitro viu no telão e o avisou pelo fone de ouvido. Ele confirmou o pênalti, mas teve de negar o uso da imagem para não contrariar as instruções do Board.

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