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Em julho de 1969 o homem pisava pela primeira vez na Lua. Lembro-me bem da transmissão pela tevê. Meses antes daquele evento, mais precisamente em fevereiro e março, estive na base de lançamento de foguetes americanos, no Cabo Canaveral. Entrei no pequeno módulo lunar – uma réplica do veículo espacial – que estava exposto para visitação de jornalistas. Apalpei para ver se era verdade. Fotografei. Cri.

Foram dois momentos únicos vivenciados. Era, para mim, o fim do romantismo e o começo da tecnologia. Espécie de serenata do adeus. A lua minguava o meu imaginário. Agora era palpável. Foi um momento árido em minha vida. As canções de Silvio Caldas já não tocavam mais meus sentimentos. Este galanteador metido a romântico desabava.

Nossa geração vinha de uma ebulição fantástica de 1968, mas a mordaça se estendia para os anos 70. A conquista do tricampeonato mundial no México mascarava muita coisa. Por instantes também me seduzi pela seleção e embriaguei-me pelo título. Fora aquela minha segunda Copa e, seguramente, a mais impactante. Quatro dias depois da memorável goleada na Itália, voltei do México num voo da antiga Panam. João Saldanha, trajando smoking e com a gravata borboleta, relaxada, dormia no corredor ao lado do meu assento, até a primeira escala no Panamá. Ali descemos – Willy Gonser, Saldanha e eu – para reabastecer o fígado. Comprei no Dutty Free um Chivas 12 anos (20, 25 ou Royal Salute, nem pensar...), com aval de Saladanha, ex-técnico da seleção e profundo conhecedor do destilado. Abri e libei alguns goles ali mesmo. No gargalo. Anestesiei então o imbróglio mental resultante de tantas reflexões vividas naqueles anos, meses, dias e minutos. Dormi profundamente. Tive sonhos e pesadelos. Foi uma longa jornada. Acordei no crepúsculo de 2011. O Paraná e o Atlético haviam sido rebaixados. Os grandes times do mundo eram vendidos a xeques, barões do petróleo americano e magnatas russos. Levei um susto. Acariciei minha companheira cósmica e perguntei a ela se eu estava no mundo da bola ou no mundo da lua. Ela riu e disse: "Você transitou por dois mundos diferentes. Você é um privilegiado. Seu sonho não acabou. Mas o que é que você aprendeu com isso?" Reflita.

Que mal lhe pergunte

Todos os estádios brasileiros que servirão de palco para a Copa das Confederações estão sendo construídos somente por duas das maiores empreiteiras do país. Mera coincidência?

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