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O noticiário político que ontem sacudiu o país abafou os outros setores, incluindo aí a despencada do dólar e a queda do treinador Cristóvão Borges, do Atlético. Mesmo assim, o fato esportivo tem apelo, e sugere reflexão – exatamente em cima daquilo que ocorreu na quinta-feira na Arena – sobre o esporte como fonte de prazer, ou sob o risco da insatisfação.

Juntando os fatos, rebobino na memória os filmes de tantos esportes que acompanhei nos Jogos Olímpicos, onde o público entrava e saía com a expressão de felicidade, independentemente de resultados. Isso marcou.

Testemunhar a classe de lendas como Jordan, Bubka, Carl Lewis, Sottomayor, Usain Bolt, e tantos outros, também foi muito bom. Nada, porém, é tão significativo quando o pódio é reservado a um ídolo próximo a nós.

Vanderlei Cordeiro de Lima, Giba e Emanuel, não só ganharam o pódio como cristalizaram seus nomes no mundo olímpico. São três paranaenses mais cortejados no exterior do que por aqui. O que, aliás, não é novidade.

Vanderlei e Giba já se aposentaram. Emanuel, o mais vitorioso de todos os tempos na sua modalidade, o vôlei de praia, está parando agora. Emanuel está para este esporte, assim como Pelé para o futebol, ou Muhammad Ali para o boxe. Cinco Olimpíadas disputadas, três medalhas, e uma imensidão de outros títulos.

Lembro-me da primeira entrevista com ele, no programa de televisão Gol de Placa, creio que um pouco antes dos Jogos de Atlanta, quando o atleticano cravou: “Um dia eu volto aqui com a medalha olímpica no peito”. Trouxe três para o país, uma de cada cor.

Aliás, ele teve a nobreza de oferecer publicamente uma delas, a medalha de ouro, para Vanderlei Cordeiro, que foi agarrado por um louco qualquer, nas ruas de Atenas, no meio do caminho para a linha de chegada. Emanuel vai muito além do superatleta que é. Tem um projeto de vida exemplar. O que é importante como reflexo.

Sua parada agora registra ainda um episódio que talvez tenha passado batido, mas que define a grandeza do seu caráter. Classificado para os Jogos do Rio na condição de reserva, o atleta de 42 anos renunciou à vontade de se despedir aqui no Brasil porque não se sentiria confortável torcendo pela contusão de um companheiro.

Por tudo isso e muito mais, penso que uma despedida na Arena da Baixada (adaptada, obviamente), ao lado de seus antigos parceiros de dupla, faria muito bem para a sua alma rubro-negra.

E para o público, uma forma diferente de ver o esporte. Sem o risco da insatisfação.

Os dois sábios

Na antiga cidade de Ideias, viviam dois sábios. Cada um rejeitava e desprezava o ensino do outro. Um era ateu; o outro crente.

Aconteceu-lhes, certa vez, encontrarem-se na praça pública e começarem a discutir e argumentar perante seus adeptos sobre a existência dos deuses. Depois de discutirem durante várias horas, cada um voltou para sua casa.

Na noite daquele mesmo dia, o ateu foi ao templo ajoelhar-se ante o altar e pedir perdão aos deuses por seus erros passados, enquanto o crente queimava seus livros e se entregava ao ateísmo (Parábola de Gibran Khalil Gibran).

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