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A expressão cartola nasceu com o Fluminense. Era uma espécie de símbolo do clube, criado por um chargista argentino. O personagem, usando uma cartola, significava o dirigente que comandava o Tricolor carioca. Com o tempo, passou a representar qualquer diretor de clube de futebol e, na maioria das vezes, tem hoje um sentido pejorativo. Não é o caso de alguns apaixonados e de grande visão profissional, que eternizaram seus nomes no meio esportivo. São poucos, é verdade, mas são especiais.

Aqui no Paraná, Jofre Cabral e Silva foi o modelo maior. Puro e com olho clínico progressista, alavancou o Atlético que havia caído para a Segunda Divisão regional. E, num estalo, colocou o seu clube na vitrine do futebol, trazendo Bellini, Djalma Santos, campeões das Copa de 58 e 62, e vários outros craques. É como se em 2008, proporcionalmente, para cá viessem Cafu e Ronaldo, dois bicampeões mundiais, seis anos antes. Na mesma esteira, vieram alguns não selecionáveis, mas geniais na época, como Zé Roberto, Nilson Borges, Sicupira, Dorval e outros. Jofre foi único.

No plano nacional, Paulo Machado de Carvalho foi o grande arquiteto dos títulos mundiais de 58 e 62. Daria o tricampeonato para o Brasil na Copa da Ingla­­terra, se João Havelange, por vaida­­de, não lhe diminuísse o espaço. De personalidade forte, o doutor Paulo caiu fora e a seleção – já sob o comando de Ha­­velange. Também foi único.

Hoje vislumbro no presidente do Santos, Luis Álvaro, fragmentos preciosos de poucos cartolas que se eternizaram no futebol. Atitudes brilhantes como esta – quase impossível – de manter Neymar no clube e no Brasil, já lhe dão o selo de qualidade. Resistiu à tentação financeira dos mais ricos do planeta. Luís Álvaro é inteligente, culto e pensa grande. É hoje o maior exemplo brasileiro de cartola. No bom sentido.

Portenhas

Assisti ontem o melancólico empate da Argentina com a Bolívia pelas Eliminatórias sul-americanas em Buenos Aires. Quando Marcelo Martins fez um golaço para a Bolívia, não sei por que, lembrei-me do filme Violeta se fue a los Cielos. Talvez pelo descrédito da elite por uma campesina. Em Buenos Aires o desprezo foi total pela Bolívia. Os espaços dados para o jogo se restringiram a Messi e Mascherano. O gol boliviano foi belíssimo, assim como as canções da artista chilena. Quando Lavezzi empatou para a Argentina, parecia a dor de Violeta pelo fracasso do seu projeto cultural nos campos andinos. A Bolívia é guerreira, portentosa, valente. O filme concorre ao Oscar de melhor produção estrangeira. O futebol da Bolívia poucas chances tem para a Copa no Brasil. Só espero que não se suicide prematuramente.

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